26º Dia: 10 de março, domingo
A ORAÇÃO QUEBRA AS CADEIAS
“Pela meia-noite, Paulo e Silas rezavam e cantavam um hino a Deus, e os prisioneiros os escutavam. Subitamente, sentiu-se um terremoto tão grande que se abalaram até os fundamentos do cárcere. Abriram-se logo todas as portas e soltaram-se as algemas de todos.” (At 16, 25-26
Reflita: Trata-se da prisão de Paulo e Silas, motivada por senhores poderosos que exploravam uma moça possuída por um espírito de adivinhação. Bem nos lembra a exploração religiosa que muitas vezes acontece, ainda hoje, instrumentalizando pessoas sensíveis. Nesse caso, os senhores daquela moça estavam muito mais “possessos” do que ela mesma. Afinal, é assim que o próprio diabo muitas vezes age, usando a boa-fé das pessoas.
O cárcere aberto na passagem dos Atos simboliza todas as prisões que, porventura, prendem o ser humano. Em algumas delas somos colocados e em outras nós mesmos entramos por nossas próprias mãos, no mau uso de nossa liberdade, ao fazermos escolhas erradas ou permitindo que pessoas ou hábitos nocivos ocupem nossa vida.
Diante de uma corrente pesada ou de uma corda grossa e forte, logo se fica assustado, pois se vê que facilmente se ficará por elas agrilhoado. Mas, imagine, uma linha fina que vá como que abraçando o corpo. Pode-se concluir que basta abrir um pouco mais os braços e ela arrebentará. Resultado: aos poucos a pessoa vai se deixando envolver e, quando menos espera, estará preso por aquela sucessão de fios.
De uma forma ou de outra, a oração é força de libertação que rompe as cadeias. Então, diante delas, com louvor, com autoridade e clamando o Sangue de Jesus, como Paulo e Silas fizeram, essas cadeias irão se romper. Mas, é claro, que é necessária aquela postura que Jesus pedia a muitos que se aproximavam d’Ele: “Que queres que Eu faça?” O que você realmente quer? E, se você quer, tem colocado esforço nessa direção? Então, una o seu querer ao querer de Deus, que é a libertação de todos os seus filhos. Não estipule, no entanto, tempo para que aconteça. “Ah! Mas eu tenho pedido há tanto tempo e nada acontece”, pode alguém dizer. Quem determina o tempo de cada coisa? Como se conjuga o querer de Deus e a liberdade do ser humano? Não há respostas claras. Só existe a direção e ela é clara: creia, ore, entregue, confie e espere. Cadeias se abrirão! Como aconteceu com Paulo e Silas, o Senhor enviará os seus Anjos como canais de libertação para sua vida. Eles estão sempre por perto!
Medite com Santo Afonso: “Quando oramos, diz Santo Tomás, para obtermos as graças que pedimos, não é necessário sermos amigos de Deus: ‘A própria oração nos torna seus amigos’”.
Reze: Quebra, Senhor, as cadeias. Derruba, Senhor, as muralhas. Rompe toda corrente. Liberta (apresente a situação ou pessoa por quem intercede) de toda prisão, pelo nome santo de Jesus, pela virtude de seu Preciosíssimo Sangue. Amém.
27º Dia: 11 de março, segunda-feira
A ORAÇÃO E A CURA
“Um leproso chegou perto de Jesus, e de joelhos pediu: ‘Se queres tens o poder de curar-me’. Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele, e disse: ‘Eu quero: fica curado!’” (Mc 1, 40-41)
Reflita: Das muitas formas que a gente pode falar sobre o que é oração, aqui está mais uma: achegar-se a Jesus. Chegue mais perto! Por que ficar longe? Por que essa distância de quem mais ama você e mais pode ajudar? Apenas, aproxime-se! Diante do quadro que aquele homem apresentava, era esperado que Jesus não apenas se afastasse, mas até que o escorraçasse, como faria qualquer pessoa, inclusive as autoridades religiosas. O leproso era considerado não somente um enfermo, mas um amaldiçoado. O que antes fora um procedimento sanitário, para se evitar contágio, tornou-se um estigma religioso. Mas não é o que fazem hoje muitos “religiosos” de nossos tempos? Quais são os novos excluídos, marginalizados e “amaldiçoados” de hoje? Quais são os novos “pecadores públicos” que, supostamente, devem ser banidos da religião? Não existe um discurso – e consequente atitude – de intolerância velada ou até mesmo explícita, que alija pessoas ou grupos da convivência eclesial? Não me refiro, necessariamente, ao meio católico, ainda que cresça esse tipo de comportamento entre nós. Quais são os novos leprosos de nossos dias?
Mas, não, nenhuma pessoa é excluída pelo Senhor e aí já começa o processo de cura. Antes mesmo que Jesus liberasse, como tal, a Palavra que comunicou a cura àquele homem, ela já havia se iniciado pelo fato de Jesus o acolher. Acolher é uma forma de colocar o dinamismo da cura em movimento!
O homem ajoelhou-se diante do Senhor. Ajoelhar-se é ao mesmo tempo um gesto de súplica, de adoração, de submissão, de abandono. Tudo isso estava expresso naquele gesto e, posteriormente, nas suas palavras: “Se queres…” Não impôs, não exigiu, não se desesperou; apenas se abandonou ao Querer. Faça isso em sua oração. O querer de Deus é sempre o seu bem. Não tenha medo de dizer “seja feita a vossa vontade”. Disse também o enfermo:“Tens o poder…” Uma confissão diante do que Jesus podia fazer. Confesse o poder de Deus em sua vida; creia n’Ele e espere. Não coloque obstáculos ao que Deus pode fazer.
Centre-se nos gestos de Jesus. Tudo brota da compaixão: a capacidade de se colocar no lugar do outro, de tocar a intimidade do outro com suas luzes e sombras, potencial e fraquezas, dores e alegrias. Tudo isso Jesus fez e faz continuamente. E foi exatamente isso que levou o Senhor a estender a mão e a tocar o homem, algo impossível de pensar e acontecer no contexto daquele tempo. Mas essa é a atitude contínua do Senhor frente à nossa realidade.
Nesse momento mesmo, apresente-se a Jesus e deixe que sua misericórdia o toque. Que a Palavra sele todo o cuidado do Senhor, como fez com aquele homem: “Eu quero; fica curado!”
Medite com Santo Afonso: “Para concebermos um grande amor à oração e para usarmos com fervor deste grande meio de salvação, consideremos, antes de tudo, quanto ela nos é necessária e quão poderosa é para nos obter todas as graças que desejamos de Deus, se pedirmos como devemos.”
Reze: Meu Senhor e meu Deus, o quanto eu preciso de ti. Toca cada área de minha vida. Teu poder de cura revitalize cada célula do meu corpo. Se é da tua Vontade e para o meu bem, cura-me nessa minha necessidade (apresente-a ao Senhor). Sim, Senhor, “se queres, tens o poder de curar-me”! Amém.
28º Dia: 12 de março, terça-feira
OS DESAFIOS DA ORAÇÃO: DISTRAÇÕES
“Olhe sempre para a frente; mantenha o olhar fixo no que está adiante de você. Considere a vereda que os seus pés tomam e seja firme em todos os seus caminhos. Não se desvie nem para a direita nem para a esquerda; afaste os seus pés da maldade.” (Prov 4, 25-27)
Reflita: A exortação do escritor sagrado é assertiva, mas como é fácil nos dispersarmos de tantas formas. Aqui, sem deixar de considerar, é claro, a existência de algum transtorno, como o TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), que pode ser a causa das distrações, desatenções e impulsividades, é preciso também estar atento aos naturais obstáculos para o cultivo da vida de oração. Até porque orar não é natural, mas sobrenatural.
É preciso, na vida espiritual, sem desconhecer o que se passa ao lado, olhar para frente, não perdendo o foco que deve estar em Deus. O texto bíblico fala de olhar sempre em frente e manter o olhar fixo, o que implica em escolhas, em correção da direção, em superação dos possíveis desvios, ou seja, firmeza.
O Papa Francisco numa de suas audiências gerais, no dia 19 de maio de 2021, pronunciou uma fecunda Catequese sobre os “Desafios da Oração” e que certamente precisa ser considerada ao meditarmos sobre a Oração. Com a palavra, o Santo Padre:
“Rezar não é fácil: há muitas dificuldades que surgem na oração. É preciso conhecê-las, identificá-las e superá-las. O primeiro problema que se apresenta para aqueles que rezam é a distração (cf. CIC, 2729). Começas a rezar e depois a mente roda, roda pelo mundo inteiro; o teu coração está ali, a mente está acolá… a distração da prece. A oração convive frequentemente com a distração. De fato, a mente humana tem dificuldade de se concentrar por muito tempo num único pensamento. Todos nós experimentamos este turbilhão contínuo de imagens e ilusões em movimento perpétuo, que nos acompanha até durante o sono. E todos sabemos que não é bom dar seguimento a esta inclinação fragmentada.
A luta para alcançar e manter a concentração não se limita à oração. Se não se atinge um grau de concentração suficiente, não se pode estudar com proveito, nem se pode trabalhar bem. Os atletas sabem que as competições são ganhas não só pelo treino físico, mas também pela disciplina mental: acima de tudo, pela capacidade de estarem concentrados e de manter alerta a atenção.
As distrações não são culpadas, mas devem ser combatidas. No patrimônio da nossa fé há uma virtude que é frequentemente esquecida, mas que está muito presente no Evangelho. Chama-se “vigilância”. E Jesus repete-a com frequência: “Vigiai. Rezai”. O Catecismo menciona-a explicitamente na sua instrução sobre a oração (cf. n. 2730). Jesus chama frequentemente os discípulos ao dever de uma vida sóbria, guiada pelo pensamento de que mais cedo ou mais tarde Ele voltará, como um noivo volta das bodas ou um senhor da viagem. No entanto, sem saber o dia nem a hora do Seu regresso, todos os minutos da nossa vida são preciosos e não devem ser desperdiçados em distrações. Num momento que não conhecemos, a voz do nosso Senhor ressoará: nesse dia, bem-aventurados os servos que Ele encontrar laboriosos, ainda concentrados no que realmente importa. Não se dispersaram perseguindo todas as atrações que lhes vinham à mente, mas procuraram empreender o caminho certo, praticando o bem e desempenhando a própria tarefa. Esta é a distração: que a imaginação roda, roda, roda… Santa Teresa definia esta imaginação que roda, roda na oração, ‘a louca de casa’: é como uma louca que te faz rodar, rodar… Devemos impedi-la e aprisioná-la com a atenção.”
Você costuma se distrair muito na oração? Primeiro perceba se essas distrações têm causas concretas, como deixar o celular por perto ou rezar num horário ou lugar barulhentos. Se elas acontecem na linha dos pensamentos, veja que pensamentos são. Talvez sejam importantes. Guarde-os para outro momento. Não lute. Registre e siga. Trabalhar a respiração, assim como ouvir uma música suave, pode ajudar. Um grande auxílio, também, é a oração em línguas, porque irá ajudar você a nível mental. Enfim, você precisa se conhecer ao perguntar-se sobre o que o leva a distrair-se. Peça, então, ajuda ao Espírito Santo. É Ele o nosso Mestre interior na oração e na vida.
Medite com Santo Afonso: “Devemos todos imaginar que estamos sobre as alturas de um monte, suspensos sobre o abismo de todos os pecados e sustentados apenas pelo fio da oração; se este fio se arrebentar, cairemos certamente neste abismo e cometeremos os crimes mais horrorosos.”
Reze: Ó Espírito Santo, aquieta minha mente e meu coração. Ajuda-me a sintonizar-me com tua presença em mim. Que eu alce voo nas tuas asas e não me perca nas minhas divagações. Tu em mim e eu em ti (3x). Amém.
29º Dia: 13 de março, quarta-feira
OS DESAFIOS DA ORAÇÃO: ARIDEZ
“Ó Deus, tu és o meu Deus; procuro estar na tua presença. Todo o meu ser deseja estar contigo; eu tenho sede de ti como uma terra cansada, seca e sem água.” (Sl 62, 1)
Reflita: Não é só a terra que está cansada, seca e sem água. Também nossa alma, diz o salmista, passa por momentos assim e a impressão que a gente tem é que nunca acabarão. Vem, então, uma tentação enorme de abandonar o caminho e se enredar ao encalço de alguma miragem que prometa um pouco de água e sombra. E miragens nunca faltarão no caminho; pode até ser que achar uma fonte real demore e sua língua rache sequiosa, antes que possa provar um pouco de água fresca, mas as miragens – com suas ofertas paradisíacas – sempre virão e levarão os incautos para mais longe ainda, em desertos ainda mais secos, onde poderão, se não voltarem à consciência de si mesmos, até mesmo morrer, ainda que ao pé da fonte, pois não foram capazes de perceber que ela, afinal, não estava longe.
Continuemos a meditar com o Papa Francisco em sua catequese sobre os desafios da Oração: “O Catecismo descreve o tempo da aridez deste modo: ‘O coração está seco, sem gosto pelos pensamentos, lembranças e sentimentos, mesmo espirituais. É o momento da fé pura, que se aguenta fielmente ao lado de Jesus na agonia e no sepulcro’ (n. 2731). A aridez faz-nos pensar na Sexta-Feira Santa, na noite e no Sábado Santo, o dia inteiro: Jesus não está presente, está no sepulcro; Jesus morreu: estamos sozinhos. E este é o pensamento-mãe da aridez. Muitas vezes não sabemos quais são as razões da aridez: pode depender de nós, mas também de Deus, que permite certas situações na vida exterior ou interior. Ou, às vezes, pode ser uma dor de cabeça ou uma no fígado que te impede de entrar na oração. Com frequência não sabemos a razão.
Os mestres espirituais descrevem a experiência da fé como uma alternância contínua de tempos de consolação e tempos de desolação; momentos em que tudo é fácil, enquanto outros são marcados por uma grande dificuldade. Muitas vezes, ao encontrarmos um amigo, dizemos: ‘Como estás?’ – ‘Hoje sinto-me abatido’. Acontece que às vezes nos sentimos ‘abatidos’, isto é, não temos sentimentos, não temos consolação, não aguentamos mais. São aqueles dias cinzentos… e existem muitos na vida! Mas o perigo é ter o coração cinzento: quando este ‘sentir-se abatido’ chega ao coração e o faz adoecer… e há pessoas que vivem com o coração cinzento. Isto é terrível: não se pode rezar, não se pode sentir consolação com o coração cinzento! Ou não se pode levar adiante uma aridez espiritual com o coração cinzento. O coração deve ser aberto e luminoso, para que entre a luz do Senhor. E se não entrar, é preciso aguardá-la com esperança. Mas não devemos fechá-la no cinzento.”
Lembre-se do alerta feito pelo Papa: não podemos fechar – fixar – o coração no cinzento; ele vem, mas não pode se tornar um estilo de vida. A gente passa pelo “vale da sombra da morte”, mas ele não é moradia. Não se fixe nele. Confie e espere no Senhor. Ele irá passar!
Medite com Santo Afonso: “Vossa fortaleza está no silêncio e na esperança. Em suma, toda a nossa força, diz o mesmo Profeta, consiste em colocarmos toda a nossa confiança em Deus e em nos calarmos, quer dizer, em repousarmos nos braços de sua misericórdia, sem confiar em nossos esforços e nos meios humanos.”
Reze: Pai, aqui estou. Submeto a ti meus desertos, aqueles que me chegaram e aqueles que eu mesmo produzi em meu interior. Que eu não desista. Que eu não corra atrás de miragens. Que eu saiba que somente Tu és a fonte e que me conduzirás, certamente, ao oásis de tua presença. Amém.
30º Dia: 14 de março, quinta-feira
OS DESAFIOS DA ORAÇÃO: ACÍDIA
“Observe a formiga, preguiçoso, reflita nos caminhos dela e seja sábio! Ela não tem nem chefe, nem supervisor, nem governante, e ainda assim armazena as suas provisões no verão e na época da colheita ajunta o seu alimento.” (Prov 6, 6-8)
Reflita: Não se trata daquela “preguicinha” que toma conta da gente certas horas e às quais se costuma aceder, talvez numa pausa necessária, diante de uma rotina desgastante. Santo Tomás coloca a acídia como algo muito mais visceral, mais enraizado na personalidade e no espírito: é um certo desânimo da alma em dar um sentido aos dias, vivendo-se por viver, muito mais em vista do imediato, do que na construção de um projeto ligado à Vontade de Deus. É uma tristeza que paralisa, que não deixa a pessoa crescer.
Há uma frase instigante da escritora Clarice Lispector que vale a pena refletir: “Não sei se quero descansar por estar realmente cansada ou se quero descansar para desistir” . É uma definição bem clara do que seja a acídia.
Continuemos a refletir com o Papa Francisco na Catequese do dia 19 de maio de 2021: “Algo diverso é a acídia, outro defeito, outro vício, que é uma verdadeira tentação contra a oração e, mais geralmente, contra a vida cristã. A acídia é ‘uma forma de depressão devida ao relaxamento da ascese, à diminuição da vigilância, à negligência do coração’ (CIC, 2733). É um dos sete ‘pecados capitais’ pois, alimentado pela presunção, pode levar à morte da alma.
O que devemos fazer, então, nesta sucessão de entusiasmos e desânimos? Deve-se aprender a caminhar sempre. O verdadeiro progresso na vida espiritual não consiste em multiplicar os êxtases, mas em ser capaz de perseverar em tempos difíceis: caminha, caminha, caminha… E se te sentires cansado, para um pouco e volta a caminhar. Mas com perseverança. Recordemos a parábola de São Francisco sobre a alegria perfeita: não é nas infinitas fortunas que caem do céu que se mede a capacidade de um frade, mas em caminhar com constância, mesmo quando não se é reconhecido, mesmo quando se é maltratado, ou quando tudo perdeu o sabor do princípio. Todos os santos passaram por este ‘vale escuro’, e não nos escandalizemos se, lendo os seus diários, ouvirmos o relato de noites de oração sem vontade, vivida sem gosto. Temos de aprender a dizer: ‘Ainda que Tu, meu Deus, pareças fazer tudo para que eu deixe de acreditar em Ti, continuo a rezar a Ti’. Os crentes nunca apagam a oração!
Por vezes, pode assemelhar-se à oração de Jó, o qual não aceita que Deus o trate injustamente, protesta e chama-O em juízo. Mas, muitas vezes, protestar diante de Deus é também um modo de rezar ou, como dizia aquela velhinha, ‘zangar-se com Deus também é um modo de rezar’, pois com frequência o filho zanga-se com o pai: é um modo de se relacionar com o pai; pois reconhece-o como ‘pai’, zanga-se…
E também nós, que somos muito menos santos e pacientes do que Jó, sabemos que no final, no fim deste tempo de desolação, em que elevamos ao Céu gritos silenciosos e muitos ‘porquês’, Deus responder-nos-á. Não esqueçais a oração do ‘porquê’: é a prece que recitam as crianças quando começam a não entender as coisas e os psicólogos definem-na ‘a idade dos porquês’, pois a criança pergunta ao pai: ‘Pai, porquê…? Pai, porquê…? Papai, porquê…?’. Mas prestemos atenção: a criança não ouve a resposta do pai. O pai começa a responder e a criança apresenta outro porquê. Só quer chamar para si a atenção do pai; e quando nos zangamos um pouco com Deus e começamos a pronunciar os porquês, estamos a atrair o coração do nosso Pai na direção da nossa miséria, da nossa dificuldade, da nossa vida. Mas sim, tende coragem de dizer a Deus: ‘Mas porquê…?’. Pois às vezes, zangar-se um pouco faz bem, faz-nos despertar esta relação de filho com o Pai, de filha com o Pai, que devemos manter com Deus. E até as nossas expressões mais duras e amargas, Ele as acolherá com o amor de um pai, e considerá-las-á como um ato de fé, como uma oração.”
Como diz o título de nossa meditação de hoje, é um dos desafios da oração, talvez o maior e que pede de nós uma atenção especial. Dedique-se hoje, muito especialmente a refletir sobre ele. Não se contente em ler ou ouvir uma só vez. Olhe para você e deixe que o Espírito Santo firme essas palavras em seu coração. Será fundamental para você ultrapassar as possíveis barreiras que se apresentarem.
Medite com Santo Afonso: “Para alcançarmos, pois, a graça da perseverança é mister recomendarmo-nos sempre a Deus, de manhã à noite, na meditação, na Missa, na comunhão, em uma palavra: sempre, especialmente, porém, no tempo das tentações. Então, devemos dizer e repetir sempre: Senhor, ajudai-me! Senhor, assisti-me, protegei-me! Senhor, não me abandoneis; tende piedade de mim! Pode haver coisa mais fácil do quer dizer: Senhor, ajudai-me, assisti-me!?”
Reze: Ajuda-me, Senhor. Vem em socorro de minha fraqueza. Não permitas que eu me entregue ao desânimo. Dá-me, por teu Espírito, um novo vigor espiritual. Seguirei em frente, ainda que cambaleante. Não me afastarei de ti. Não me entregarei à tristeza. Sei que a sombra passará. Quero perseverar! Amém.
31º Dia: 15 de março, sexta-feira
ORAÇÃO E BATALHA ESPIRITUAL
“E vós outros estáveis mortos por vossas faltas, pelos pecados que cometestes outrora seguindo o modo de viver deste mundo, do príncipe das potestades do ar, do espírito que agora atua nos rebeldes. Também nós todos éramos deste número quando outrora vivíamos nos desejos carnais, fazendo a vontade da carne e da concupiscência. Éramos como os outros, por natureza, verdadeiros objetos da ira (divina).” (Ef 2, 1-3)
Reflita: Estamos constantemente vivendo numa batalha (luta, combate) espiritual. Ela se trava, segundo a Bíblia, em três níveis: a carne, o mundo e o maligno. Esses são os três fronts da batalha que continuamente se dá em nosso interior e é onde encontramos os “desafios para a vida de oração”, como já meditamos. É na oração que encontraremos força para militar e vencer nesses fronts, ainda que saiamos feridos, em alguns momentos.
“A carne” significa a nossa propensão para o pecado, regida pelo orgulho e o egoísmo e seus consequentes desdobramentos com suas inclinações, num apelo sempre constante para autorreferencialidade. Uma boa referência na Palavra está na Carta de São Paulo aos Gálatas, ao falar sobre os “frutos da carne e os frutos do Espírito” (Gl 5, 13-26) O “mundo”, certamente não significa a obra criada por Deus, pois tudo o que Deus faz é bom, mas é aquela estrutura na qual estamos inseridos e que é marcada pelo pecado, promovendo uma mentalidade que se rebela contra Deus e contra a Igreja, seja através de pessoas ou de ideologias (confira Rm 12, 1). O terceiro inimigo é “o maligno”, ou seja, o diabo, esse ser corrupto e corruptor, que se apresenta em mil disfarces e que estabelece sua base entre nós nas duas plataformas anteriores, a saber, a carne e o mundo. Paulo diz, com clareza que “nossa luta não é contra seres humanos, mas contra os poderes e autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais” (Ef 6, 12). É fundamental dizer isso, pois alguns começam a se levantar contra as pessoas, achando que estão combatendo o mal. O ser humano, a gente ama; o maligno, a gente combate! Mesmo quando alguém pode ser instrumentalizado pelas trevas, é preciso saber que não lutamos contra ninguém.
Nesse combate espiritual em qualquer um dos três fronts, não sairemos vencedores se não nos munirmos de oração, buscando o Espírito Santo para nos capacitar, através do Dom do Discernimento, a enfrentar e vencer esse confronto que, na maioria das vezes, se dá dentro de nós e não fora.
Duas qualidades devem ser particularmente buscadas na oração para esse enfrentamento interior: a humildade e autoridade. A humildade nos defende daquilo que foi o motivo da queda de Lúcifer: o orgulho (Is 14, 12-15). Pela humildade, deixamos Deus ser Deus em nossa vida. Por outro lado, a autoridade nasce da convicção, da certeza da herança que o Senhor nos legou para, em seu nome, sermos capazes de superar os sedutores enganos e artimanhas do maligno, tanto internas como externas, manifestadas nos três fronts. Certamente eles nunca se apresentam como são, ou seja, mostrando as consequências que deixarão nas almas que por eles se deixarem levar. Tenha em vista o enfrentamento vivenciado por Jesus no deserto (Lc 4, 1ss). Se Jesus precisou se fortalecer para o exercício de sua missão, pense bem em relação a nós. Então, se você quer ser vencedor nesses três fronts, ore, buscando o que o Espírito Santo quer comunicar a você: humildade e autoridade!
Medite com Santo Afonso: “Deus quer salvar-nos. Entretanto, quer salvar-nos como vencedores. Estando, pois, nesta vida, achamo-nos em uma guerra contínua e para nos salvar temos de combater e vencer. ‘Sem ter vencido, ninguém poderá ser coroado’, diz São João Crisóstomo. Somos muito fracos e os inimigos, numerosos e fortes. Como enfrentá-los e vencê-los? Tenhamos coragem e digamos com o apóstolo: ‘Tudo posso n’Aquele que me conforta’ (Fl 4, 13)”.
Reze: Sei, Senhor, que estou em batalha contínua e que sem o apoio da tua graça eu nada poderei fazer. Por isso, eu te peço: capacita-me, pela ação do teu Espírito e com o poder do teu Preciosíssimo Sangue. Amém.
32º Dia: 16 de março, sábado
A ORAÇÃO DE RENÚNCIA
“Filhinhos, sois de Deus e já os tendes vencido, porque maior é o que está em vós do que o que está no mundo.” (1Jo 4, 4)
Reflita: Renunciar é cortar, não compactuar, deixar para trás, romper os laços – a pertença – a algo ou alguém. Jesus colocou como condição do discipulado a renúncia: “Da mesma forma, qualquer de vocês que não renunciar a tudo o que possui não pode ser meu discípulo” (Lc 14, 33). Espiritualmente, nem sempre, se resume a um simples virar as costas e deixar para trás, seguindo em frente. Certos comportamentos, palavras e vinculações estabelecem uma autoridade espiritual sobre a pessoa, de forma direta ou indireta, e para que se possa seguir livre dessas “autorizações” dadas, é preciso que se declare explicitamente, como fruto de uma escolha consciente, que não se quer mais ter cumplicidade com as antigas determinações.
Lembremos que uma parte constitutiva da Liturgia Batismal, no momento da Profissão de Fé, feita pelo adulto a ser batizado ou por seus pais e padrinhos – no caso de uma criança – é exatamente uma Oração de Renúncia. Além disso, pelo menos uma vez ao ano, na Liturgia da Vigília Pascal, somos convidados a essa mesma renúncia, renovando nossa aliança com Jesus, cortando tudo aquilo que nos possa d’Ele afastar. Mas será que todos o fazem de uma forma consciente e querendo, realmente se comprometer com o que estão expressando?
O Sacramento da Reconciliação, sem dúvida, quando é realizado nessa perspectiva, constitui-se já numa profunda libertação, pois realiza o que Jesus prometeu à sua Igreja: “tudo o que vocês ligarem na terra terá sido ligado no céu, e tudo o que vocês desligarem na terra terá sido desligado no céu” (Mt 18, 18). Antes da confissão, junto com ela ou mesmo depois dela, seria de muito proveito que se fizesse a oração de renúncia, quebrando qualquer pacto que tenha se estabelecido, tendo deixado raízes psíquicas e espirituais, ou, ao menos, resquícios desses pactos internos.
Você pode, hoje mesmo, fazer ou renovar sua escolha de Jesus como seu único Senhor e Salvador, entregando profundamente sua vida a Ele, renunciando a toda doutrina, atitude ou palavra que não estejam de acordo com o Evangelho. Invoque o Preciosíssimo Sangue de Jesus e faça sua oração.
Medite com Santo Afonso: “Diz São João Crisóstomo, a oração é uma grande armadura, uma defesa, um porto, um tesouro. A oração é uma valiosa arma para vencer os assaltos dos demônios; é uma defesa, que nos conserva em todos os perigos; é um porto seguro contra toda tempestade; é um tesouro, que nos provê de todos os bens.”
Reze: Pelo Sinal da Santa Cruz, livrai-nos Deus, nosso Senhor, dos nossos inimigos. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.
Senhor Jesus eu me coloco aos pés de Tua Cruz, clamando o Teu Sangue precioso, juntamente com todos os meus irmãos que rezam comigo, coloco também toda a minha família, os meus bens, meus negócios, todas áreas da minha vida e todas as pessoas, projetos e ministérios sobre os quais tenho autoridade. Peço-te Senhor Jesus, que o Teu Sangue redentor, que jorrou de Teu corpo santo nos lave e nos purifique de todo o mal e de toda possível contaminação espiritual que possa ter chegado até nós. Peço-te que o Teu Sangue redentor nos cubra e nos sele para nos proteger de toda e qualquer investida de satanás e de outros espíritos malignos. Pelo Teu nome poderoso, pelo Teu Sangue redentor, por Tuas santas chagas e pela intercessão da Virgem Maria peço-te que expulses todos os espíritos maus presentes e ocultos de todos nós e de tudo que diz respeito a cada um de nós em particular, de forma direta e indireta. Peço-te Senhor Jesus, pela autoridade de Teu nome e de Teu Sangue, que proíbas qualquer mal e espíritos malignos que tenham nos deixado ou deixado as pessoas ou causas que rezamos voltem a perturbar qualquer um de nós e as demais pessoas alcançadas pelas nossas orações. Coloca-nos Senhor dentro da chaga do Teu coração para que fiquemos protegidos de todo e qualquer mal e malefícios. Senhor Jesus eu tomo posse de toda bênção derramada sobre mim e minha família.
Ó Sangue e Água que jorrastes do lado aberto de Jesus como fonte de misericórdia para nós, lava-nos, purifica-nos e santifica-nos. Jesus, eu confio em vós! (três vezes)
Para viver na liberdade de filhos de Deus, renuncio ao pecado. Para viver como irmãos e irmãs, renuncio a tudo o que nos possa desunir, para que o pecado não domine sobre nós. Para seguir Jesus Cristo, renuncio ao demônio, autor e princípio do pecado.
– Creio em Deus Pai Todo-Poderoso…
– Pai-Nosso, Ave-Maria e Glória.
– Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.
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