19º Dia: 03 de março, domingo
ORAÇÃO E A COMUNHÃO DOS SANTOS
“Porque, como o corpo é um todo com muitos membros, e todos os membros do corpo, embora muitos, formam um só corpo, assim também é Cristo. Em um só Espírito fomos batizados todos nós, para formar um só corpo, judeus ou gregos, escravos ou livres; e todos fomos impregnados do mesmo Espírito. Assim, o corpo não consiste em um só membro, mas em muitos. Ora, vós sois o corpo de Cristo e cada um, de sua parte, é um dos seus membros.” (1Cor 12, 12-14.27)
Reflita: Quando oramos, não estamos sozinhos, mas em comunhão com todo o Corpo de Cristo, que é sua Igreja. Quando você se alegra, é o Corpo de Cristo que se alegra; quando você sofre, é o Corpo de Cristo que sofre; quando você peca, é o Corpo de Cristo que é ofendido. Essa é a solidariedade que se estabelece entre nós pelo Batismo. Somos parte do Corpo de Cristo! Essa consciência deve nos encher de confiança e, ao mesmo tempo, de responsabilidade – não peso.
Gosto do cântico de entrada nas celebrações que diz: “O céu inteiro está orando por nós!” Sim, o céu inteiro está orando por nós, porque vivemos numa comunhão. E esses irmãos nossos, que já estão na luz eterna – que nós chamamos de céu – nos auxiliam, enquanto seguimos nossa jornada, assim como os Anjos de Deus e a prece de nossos irmãos na terra. Ninguém, portanto, ora, sendo Igreja, sozinho. Você pode se sentir frágil na sua oração. Primeiro, creia que o Espírito Santo, que é Deus em nós e que nos foi comunicado no Batismo, vem em auxílio de nossa fraqueza e ora em nós (Rm 8, 26-27); da mesma forma, você está intimamente em comunhão com os irmãos em Cristo, sejam vivos ou falecidos, pois todos os que são de Cristo, estão unidos a Cristo. A vida de cada um é ligada de forma única e essencial em Cristo e por Cristo, o que não exclui a vida sobrenatural na Igreja.
Veja que perspectiva maravilhosa é apresentada no Catecismo da Igreja Católica: “Uma vez que todos os crentes formam um só corpo, o bem de uns é comunicado aos outros. E assim, deve-se acreditar que existe uma comunhão de bens na Igreja. Mas o membro mais importante é Cristo, que é a Cabeça. Assim, o bem de Cristo é comunicado a todos os membros, comunicação que se faz através dos sacramentos da Igreja. Como a Igreja é governada por um só e mesmo Espírito, todos os bens por ela recebidos tornam-se necessariamente um fundo comum. A expressão ‘Comunhão dos Santos’ tem, portanto, dois significados estreitamente ligados: ‘comunhão nas coisas santas, sancta’, e ‘comunhão entre as pessoas santas, sancti’. ‘Sancta sanctis!’ (O que é santo, para aqueles que são santos). Assim proclama o celebrante na maior parte das liturgias orientais, no momento da elevação dos santos Dons antes do serviço da comunhão. Os fiéis (sancti) são alimentados pelo Corpo e Sangue de Cristo (sancta), para crescerem na comunhão do Espírito Santo (Koinonia) e a comunicarem ao mundo” (CIC 947-948).
Fortalecido, pois, por essa maravilhosa comunicação que nos vem de nossa Fé, ore em todo tempo, lugar e circunstância, sabendo que nada fica fora do imenso Amor de Deus manifestado em Cristo Jesus. Realmente você não está sozinho! Você faz parte de uma imensa “rede” de irmãos na jornada da vida e na hora da morte.
Medite com Santo Afonso: “Deus é severo com os soberbos e resiste às suas súplicas; benigno, porém, e misericordioso com os humildes. Um dia, falou Nosso Senhor a Santa Catarina de Sena: ‘Saibas, filha, que toda alma que perseverar humildemente na oração chegará a conseguir todas as virtudes’”.
Reze: Sejas bendito, meu Senhor, por essa comunhão de irmãos que posso já experimentar em minha peregrinação por essa terra e que será plena, quando eu chegar ao céu. Muito obrigado. Amém.
20º Dia: 04 de março, segunda-feira
ORAÇÃO E CONFISSÃO DOS PECADOS
“Filhinhos meus, isto vos escrevo para que não pequeis. Mas, se alguém pecar, temos um intercessor junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo. Ele é a expiação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo.” (1Jo 2, 1-2)
Reflita: Ninguém pode reconhecer que alguns de seus erros constituem-se em pecado, se o Espírito Santo não o convencer de tanto. Se você, diante de alguma situação, sente que ofendeu a Deus e feriu sua comunhão com Ele e, consequentemente, com alguém e com você mesmo, é porque o Espírito Santo o está levando a essa consciência (“Quando Ele – o Espírito Santo – vier, convencerá o mundo a respeito do pecado, da justiça e do juízo” Jo 16, 8). Todavia, o Espírito não convence tão somente a respeito do pecado, mas também da justiça de Deus que é salvação em Cristo e do juízo, que é exercido na misericórdia para todo aquele que se arrepende.
Essa consciência que o Espírito Santo produz no coração daquele que se reconhece pecador, leva a pessoa à oração, pois faz brotar um pedido de perdão: “Meu pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho” (Lc 15, 18-19).
De fato, a primeira confissão que se faz não é do pecado, mas do amor de Deus, ainda que indiretamente. O filho mais novo, na parábola do “pai misericordioso” (Lc 15, 11-32), sabe que pode voltar para casa e que será acolhido pelo pai. A decisão em voltar cabia ao jovem, mas a abertura amorosa do pai era prévia. O coração do pai nunca se afastou do filho, como o Coração de Deus não se afasta de nós. Isso já demonstra que o amor do Pai precede o nosso próprio movimento de volta (o primado da Graça, como já meditamos no início de nosso Caminho Quaresmal).
A resposta do pai, diante da disposição do filho, foi a compaixão. É assim que o Pai do Céu responde a nossa atitude, mesmo que ainda não seja expressa em palavras. Antes que peçamos perdão, Ele já acolheu o nosso coração. As palavras apenas externam o que já está no fundo da alma. No entanto – se assim é – faz-se, então, necessário que eu vá e peça perdão? Deus já não sabe o que está em meu coração? Não é Deus que precisa da explicitação do meu arrependimento, mas sou eu! Eu preciso me mover do lugar da minha miséria, em direção à misericórdia d’Ele. As palavras – fórmulas de arrependimento – nunca retratarão totalmente a necessidade de perdão que temos, mas possibilitarão o bálsamo do perdão divino chegar às feridas que o pecado produziu em nosso ser.
Portanto, deixe-se mover pelo Espírito Santo ao arrependimento; coloque-se em movimento de volta; apresente-se à Casa do Pai, na pessoa do sacerdote; faça sua confissão e receba o abraço misericordioso de Deus, pela absolvição recebida!
Medite com Santo Afonso: “Quem se vale da oração, desta grande arma, diz São Pedro Crisólogo, ignora a morte, deixa a terra, entra no céu e vive com Deus. Não cai em pecado, perde o apego das coisas da terra, entra no céu e já nesta vida começa a gozar da presença de Deus.”
Reze: Meu Deus, eu me arrependo de todo o coração de vos Ter ofendido, porque sois tão bom e amável. Prometo, com a vossa graça, esforçar-me para ser bom.
Meu Jesus, misericórdia! Amém.
21º Dia: 05 de março, terça-feira
ORAÇÃO E PASSAR PELO CORAÇÃO
“Maria conversava todas estas palavras, meditando-as no seu coração. Sua Mãe guardava todas estas coisas no seu coração.” (Lc 2, 19.51)
Reflita: À primeira vista, pode parecer que repeti o versículo bíblico com algumas palavras diferentes, mas trata-se de dois versículos e que, cronologicamente, se dão em momentos diversos. O primeiro, quando Jesus era recém-nascido e o segundo, quando tinha doze anos. Perceba que era um jeito de Maria ser e não apenas uma reação diante de algum momento. O mesmo Espírito Santo que gerou Jesus no ventre da Mãe Santíssima é quem foi operando em seu coração, de forma que tudo nela era acolhida silenciosa e atenta. Assim se deu na anunciação, na visita à Isabel; no enfrentamento da sua gravidez, estando ainda solteira; na possível rejeição de José; nas circunstâncias do próprio nascimento de Jesus; diante dos Anjos ao cantarem a glória de Deus; na visita dos pastores e dos magos; nas palavras de Simeão e Ana; na fuga para o Egito; na perda de Jesus no Templo; nas Bodas de Caná; no Calvário. Cada momento Maria passava pelo seu coração e meditava.
Costumo dizer que precisamos buscar nos assemelhar ao coração de Nossa Senhora, mas também aos seus rins. Você, certamente, sabe que os rins são encarregados de filtrar o sangue, ou seja, removem todos os resíduos tóxicos presentes na circulação, que são resultantes do metabolismo corporal, como ureia, creatinina e ácido úrico. Quando não funcionam bem, esse processo precisa acontecer mecanicamente. O que Nossa Senhora conservava/guardava em seu coração não eram as circunstâncias em que tudo se dava, pois havia muita alegria, mas havia também egoísmo e maldade por parte de muitas pessoas. Tudo isso ia sendo depurado pela meditação.
Meditar, nesse caso, não é ruminar os acontecimentos; não é ficar pisando e repisando, pensando e repensando tudo o que acontece; é depurar o que é bom do que é ruim, lançar fora o que contamina para perceber o sentido mais profundo presente em cada acontecimento e como, em tudo, Deus é quem tem a última palavra.
Veja que palavras iluminadas de Sri Chinmoy: “Eu oro. Por quê? Eu oro porque preciso de Deus. Eu medito. Por quê? Eu medito porque Deus precisa de mim. Ao orar, penso que Deus está bem acima de mim, acima da minha cabeça. Ao meditar, sinto que Deus está no meu interior profundo, no meu coração”. É uma forma simples para dizer: quando eu oro, eu elevo meu coração a Deus; quando medito, eu trago Deus ao meu coração. Em Maria, essa ponte não encontrava nenhum obstáculo e, por isso, o Coração dela era tão cheio de Deus: “Ave, cheia de graça” (Lc 1, 28).
O que você anda guardando em seu coração? Seus “rins espirituais e emocionais” estão funcionando? O que precisa ser depurado pela meditação? Que realidades precisam ser impregnadas da Luz Divina?
Medite com Santo Afonso: “Eis algumas condições que Santo Tomás exige para a oração: que se reze com devoção e perseverança. Com devoção, quer dizer, com humildade e confiança; com perseverança, quer dizer, sem deixar de rezar até a morte.”
Reze: Ó Divino Espírito, descei sobre mim e envolvei-me! Preenchei-me com pensamentos de paz e espírito de harmonia. Não deixeis que se desenvolvam em mim pensamentos agressivos nem sentimento de ansiedade, tristeza ou ódio. Expulsai da minha mente e do meu coração todos os pensamentos e sentimentos sombrios, da mesma forma que a brisa matinal, surgindo com os primeiros raios do Sol, dissipam completamente a neblina formada durante a noite. Amém.
22º Dia: 06 de março, quarta-feira
ORAÇÃO MENTAL
“Provai-me, ó Senhor, e examinai-me, sondai meu coração e o meu íntimo! Pois tenho sempre vosso amor ante meus olhos; vossa verdade escolhi por meu caminho.” (Sl 25, 2-3)
Reflita: Santo Afonso recebeu o título de “doutor da oração”, por seus valiosos ensinamentos sobre a oração. Mas, ele mesmo foi um grande orante. Quando estava incapacitado de sair de seu quarto para visitar Jesus Eucarístico na capela do convento, pediu que se abrisse uma pequena janela na parede para que, desde a sua cama, pudesse ver o sacrário.
Dentre tantas formas de oração, Afonso valorizava e ensinava muito sobre a Oração Mental. Meu objetivo nesses quarenta dias, propondo a você meditações sobre a vida de oração não é explanar longamente sobre nenhuma modalidade, mas chamar sua atenção não só para a necessidade, mas também a possibilidade de cumprir a ordenança do apóstolo Paulo: orai sem cessar. É dessa forma que apenas sinalizo o que para Santo Afonso é a Oração Mental.
Comece, preparando-se, fazendo um ato de fé em Deus. Depois faça um breve exame de consciência e um ato de contrição. Peça, então, as luzes do Espírito Santo para o assistir nesse momento de oração. Reze a Nossa Senhora; que seja uma Ave-Maria. Da mesma forma peça a intercessão de São José e do seu Anjo de Guarda. A seguir faça sua meditação a partir de um trecho das Escrituras ou algum outro livro espiritual. Não é necessário que seja um trecho longo. Leia, volte, pare em alguma frase ou palavra. A partir do que você leu, manifeste a Deus seus afetos, ou seja, a que a sua meditação o leva a dizer a Deus. Faça o seu pedido para poder vivenciar o que meditou, sempre pedindo a perseverança em cada momento, especialmente a perseverança no momento final de sua vida. Tome, então, uma resolução bem prática como fruto de sua oração. Não precisa ser uma diferente a cada oração, mas que seja concreta e que tenha o empenho de colocá-la em prática. Por fim, agradeça pelas luzes recebidas, peça a graça de cumprir a resolução tomada e interceda por aqueles que o Espírito traz ao seu coração, incluindo os falecidos.
De uma outra forma, um escritor, o Pe. John Bartunek fala dos quatro “Cs” da oração mental em seu livro Um guia para a meditação cristã: concentrar-se, considerar, conversar, comprometer-se. É um outro jeito de dizer o que Santo Afonso ensina.
Experimente rezar dessa forma. O que importa, sobretudo, é que você reze e reze sem desanimar. Lembre-se do que está no Evangelho: “Propôs-lhes Jesus uma parábola para mostrar que é necessário orar sempre sem jamais deixar de fazê-lo” (Lc 18, 1).
Medite com Santo Afonso: “Se quisermos, pois, que Deus não nos abandone, devemos pedir-lhe sempre que nos auxilie. Fazendo assim, certamente Ele nos assistirá sempre e não permitirá que nos separemos d’Ele e percamos a sua amizade. Procuraremos, por isso, rezar sempre e pedir a graça da perseverança final, bem como as graças para consegui-la.”
Reze: Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-vos. E peço-vos perdão pelos que não creem, não adoram, não esperam e não vos amam. Quero viver e morrer na vossa graça, para sempre poder desfrutar da vossa presença. Amém.
23º Dia: 07 de março, quinta-feira
ORAÇÃO E MARIA SANTÍSSIMA
“Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Donde me vem esta honra de vir a mim a Mãe do meu Senhor? Bem-aventurada és tu que creste, pois se hão de cumprir as coisas que da parte do Senhor te foram ditas!” (Lc 1, 42-43.45)
Reflita: Maria é “a orante”, por excelência. Não, em primeiro lugar, porque trouxe o Verbo de Deus feito carne em seu ventre ou por ter convivido pessoalmente com Jesus, mas porque, pela fé, sempre manteve sua comunhão com Deus. Antes de conceber Jesus em seu ventre, ela já o tinha concebido pela fé no seu coração, diz Santo Agostinho. E essa concepção espiritual sempre foi alimentada pela oração, de forma que Maria continua, de algum modo a gerar Jesus para o mundo. Quando alguém vai a Nossa Senhora, sempre a encontrará a dar a Luz, Jesus.
Doutro modo, podemos dizer que aquele que crê, que se abre à graça que lhe foi confiada no Batismo, que procura viver no dinamismo do Espírito e que alimenta sua fé na oração, também, por sua vez, gera, espiritualmente, Jesus para o mundo, não como o fez e o faz continuamente a Virgem Santíssima, mas à semelhança dela.
Maria é, assim, o modelo, por excelência da oração. Quando alguém se coloca diante de um modelo não é para autoconstatar sua precariedade e inaptidão, mas para inspirar-se e seguir em frente. Não importa tanto o que se vai conquistar, mas o caminho a ser percorrido, lançando-se, pois, na aventura de crer e crescer na comunhão com o Mestre.
Por outro lado, Maria é a grande intercessora. Se a Bíblia está cheia de exemplos de pessoas que foram canais de Deus para os outros, quanto mais aquela que identificou-se tão proximamente com seu Filho, seu Deus. É por isso que Santo Afonso diz que o verdadeiro devoto de Maria Santíssima não se perde: não somente porque conta com sua intercessão, mas porque, inspirado por ela, segue os passos de Jesus e procura fazer em tudo a Vontade de Deus.
Tenha, pois, sempre, em sua vida de oração um carinho a Nossa Senhora. Você só tem a crescer na sua vida espiritual.
Medite com Santo Afonso: “Assim como Maria cooperou com sua caridade para o nascimento da Igreja, assim quer Deus que ela coopere, por meio de sua intercessão, para que possam conseguir a vida da graça, neste mundo, e a vida da glória, no outro. E por isso a Igreja invoca e manda saudá-la com palavras tão claras e preciosas: ‘Vida, doçura e esperança nossa, salve!’”
Reze: “Virgem Imaculada, minha Mãe Maria, a vós que sois a Mãe de meu Senhor, a Rainha do Universo, a Advogada, a esperança, o refúgio dos pecadores. Eu, que sou o mais miserável de todos os pecadores, recorro a vós. Eu vos venero, Grande Rainha, e agradeço-vos as muitas graças que me concedeis até hoje. Eu vos amo, minha querida Senhora; e por causa desse amor, prometo servir-vos de boa vontade para sempre e fazer o que puder para tornar-vos amada por outras pessoas também.
Coloco em vós toda a minha esperança de salvação; aceitai-me como vosso servo e abrigai-me sob o vosso manto, vós que sois a Mãe da Misericórdia. Livrai-me de todas as tentações, ou pelo menos obtenha para mim a força para vencê-las até a morte. De vós, imploro um verdadeiro amor a Jesus Cristo. Através de vós, espero ter uma morte santa. Minha querida Mãe, pelo vosso amor a Deus Todo-Poderoso, rogo-vos que me ajudeis sempre, mas sobretudo no último momento da minha vida. Não me abandoneis, então, até que me vejais a salvo no céu, para me abençoar; e que eu possa cantar as vossas misericórdias por toda a eternidade. Essa é a minha esperança. Amém!” (Santo Afonso de Ligório)
24º Dia: 08 de março, sexta-feira
A ORAÇÃO EM LÍNGUAS
“Aquele que fala em línguas não fala aos homens, senão a Deus: ninguém o entende, pois fala coisas misteriosas, sob a ação do Espírito. Ora, desejo que todos faleis em línguas… Se eu oro em virtude do dom das línguas, o meu espírito ora, mas o meu entendimento fica sem fruto. Então que fazer? Orarei com o espírito, mas orarei também com o entendimento; cantarei com o espírito, mas cantarei também com o entendimento. Graças a Deus que possuo o dom de línguas superior a todos vós.” (1Cor 14, 2.5ª.14-15.18)
Reflita: Um dom tão simples e tão controverso. Quantos o rejeitam de forma até raivosa. Fico pensando em quem, na verdade, sente raiva quando vê alguém rezando … Você sabe quem é esse? O “coisa ruim”! Ele é quem não quer que rezemos de forma alguma. É claro que o que deve primar na Igreja, como um todo, é o que Paulo escreve ao final desse capítulo: “Não impeçais o falar em línguas. Mas faça-se tudo com dignidade e ordem” (1Cor 14, 39-40).
É necessário, ainda, que se faça uma diferenciação entre orar e falar em línguas, não obstante pareçam ser a mesma coisa. O “falar em línguas” é quando alguém, sob o impulso do Espírito Santo, traz uma mensagem, uma profecia, uma revelação. Certamente quando assim é, faz-se necessária a “interpretação”, como diz Paulo, mas quando se “ora em línguas”, a oração é dirigida a Deus e não há necessidade que se interprete.
Nem todos precisam orar em línguas; ele é um dom como outros, mas todo batizado pode “ceder” ao dom de línguas, ou seja, já é uma linguagem que está presente no interior do crente, pela ação do Espírito Santo. Não é uma língua e sim uma linguagem. São balbucios, como de uma criança. Quando se ora em línguas, não é o entendimento que ora, não é mental. A pessoa apenas se deixa levar, como uma folha levada pelas águas de um riacho. Até pelo fato do aquietamento da mente, a oração em línguas é extremamente frutuosa, pois ajuda a abrir a percepção para que outros dons possam se manifestar, como, por exemplo, uma palavra de profecia ou de ciência.
São aqueles gemidos inefáveis dos quais fala o apóstolo Paulo em Romanos 8, 26-27. Ela é, assim, um poderoso meio de intercessão, haja visto que diante de uma determinada situação não sabemos nem o quê e como pedir; e quando você ora em línguas, de forma audível ou apenas balbuciando, você permite ao Intercessor – que é o Espírito Santo – que apresente a intercessão diante do Pai do Céu.
Não tenha, pois, medo nem preconceito diante desse dom. É o menor dos dons? Sim! E não faz parte dos humildes buscar o que é pequeno? Para se orar em línguas não é necessário “sentir” nada diferente, apenas fazer a experiência. Procure um Grupo de Oração, onde essa experiência orante seja comum e procure ler a respeito. Nas livrarias católicas, você acha livros que versam sobre os carismas.
Medite com Santo Afonso: “Assegura-nos Isaías que, assim que o Senhor percebe nossas orações, move-se logo à compaixão e não deixa que choremos e suspiremos muito tempo: no mesmo momento nos atende e concede o que lhe pedimos. ‘Tu, de forma nenhuma, chorarás mais; Ele te concederá a graça por causa dos seus gemidos e logo que ouvir a tua voz, te atenderá’ (Is 30, 19).”
Reze: Vem orar em mim, Espírito Santo. Sou fraco e não sei o que pedir e nem como pedir. Na força de tua graça, vem em auxílio da minha fraqueza e leva ao Coração do Pai as minhas mais reais necessidades. Amém.
25º Dia: 09 de março, sábado
ORAÇÃO DE CLAMOR
“Na minha angústia, clamei ao Senhor; clamei ao meu Deus. Do seu templo ele ouviu a minha voz; o meu grito de socorro chegou aos seus ouvidos.” (2Sm 22, 7)
Reflita: O clamor é um grito de socorro. Um exemplo claro e direto de clamor está no relato da tempestade acalmada em Mateus 14, 22-33. A fé havia impulsionado Pedro a andar sobre as águas, mas, igualmente, havia em seu interior uma autoconfiança um tanto prepotente. Os ventos começaram a soprar mais forte e Pedro começou a afundar. Foi quando gritou: “Senhor, salva-me” (Mt 14, 30). Não era seu racional a falar; era, tão somente, a necessidade de salvar-se. Foi nessa hora que brotou de seu peito o clamor, o grito. Jonas é outro exemplo de clamor na Bíblia, quando estava no ventre do peixe (Jn 2, 1.2). Vemos ainda a resposta que Deus dá ao clamor do povo hebreu escravizado no Egito (Ex 3, 7ss) e ainda Davi, no supracitado versículo. Mulheres como Esther, Judite e Ana, mãe de Samuel, também podem ser citadas como exemplos na oração de clamor.
Ele pode ser manifesto numa expressão simples como essa – Senhor, salva-me – ou pode se prolongar por uma noite ou tempos, mas é sempre a alma a confessar profundamente que não pode salvar-se sozinha e grita a Deus, num ato de profunda confiança. Ele brota da necessidade de uma pessoa ou de um povo. É sempre acompanhado de um espírito de contrição, como vemos no livro de Baruc, que traz uma bela e profunda confissão dos pecados e um clamor por libertação da parte de Deus, numa época de exílio.
A resposta de Deus é sempre de esperança, de força, de coragem para todos que clamam, como se apresenta no próprio livro de Baruc: “Coragem, povo meu, que trazeis o nome de Israel! Coragem, meus filhos! E vós, também, orai a Deus a fim de que vos salve da mão poderosa de vossos inimigos” (Br 4, 5.21).
Uma oração simples que pode se tornar um grande clamor é o Terço da Misericórdia. Reze-o nesse espírito de oração de clamor.
Medite com Santo Afonso: “Já que a oração é tão necessária à salvação, devemos ter por certo que nunca nos faltará o auxílio divino para o ato da oração, sem que para isso seja necessária nova graça especial. Na oração encontraremos todos os outros auxílios para a observância dos mandamentos e para a consecução da vida eterna. Nenhum condenado poderá desculpar-se com a falta dos auxílios indispensáveis.”
Reze: Deus de nossos pais, volve o teu olhar de amor para nós e para toda a humanidade, sobretudo, os que mais sofrem. Vem e salva nosso povo. Livra-nos das guerras, da fome, da miséria, das pestes, da falta de fé, da condenação eterna. Deus Santo, Deus Forte, Deus Imortal, tende piedade de nós e do mundo inteiro!
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