[28º dia – Domingo, 26 de março]
PAZ: PARA TODA A HUMANIDADE
Medite: Salmo 121
Reflita: Viver a Quaresma, subir ao monte, ir ao deserto, recolher-se… Tudo isso não significa distanciar-se do mundo, das suas questões e demandas, muitas delas até graves, como as guerras pelas quais o mundo atravessa. E não é só a guerra da Ucrânia. Temos sérios conflitos na Etiópia, desde 2020; Iêmen, desde 2011; Mianmar, desde 2021; Haiti, desde 2021; Síria, desde 2011; militantes islâmicos na África em diversos países, desde 2017; Afeganistão, desde 2001 e agora, novamente, com a volta do Talibã ao governo do país em 2021. Isso sem nos esquecermos dos constantes conflitos entre israelenses e palestinos em Israel.
Diante dos milhares de mortos nesses conflitos, dos milhões de refugiados, da fome, da extrema miséria que esses e outros povos vivem, nossa Quaresma deve ser também um tempo intenso de intercessão pela paz no mundo.
Reze: SENHOR DEUS DE PAZ, ESCUTAI A NOSSA SÚPLICA!
Tentamos, tantas vezes e durante tantos anos, resolver os nossos conflitos com as nossas forças e também com as nossas armas; tantos momentos de hostilidade e escuridão; tanto sangue derramado; tantas vidas despedaçadas; tantas esperanças sepultadas. Mas os nossos esforços foram em vão.
Agora, Senhor, ajudai-nos Vós! Dai-nos Vós a paz, ensinai-nos Vós a paz, guiai-nos Vós para a paz. Abri os nossos olhos e os nossos corações e dai-nos a coragem de dizer: “nunca mais a guerra”; “com a guerra, tudo fica destruído!” Infundi em nós a coragem de realizar gestos concretos para construir a paz. Senhor, Deus de Abraão e dos Profetas, Deus Amor que nos criastes e chamais a viver como irmãos, dai-nos a força para sermos cada dia artesãos da paz; dai-nos a capacidade de olhar com benevolência todos os irmãos que encontramos no nosso caminho. Tornai-nos disponíveis para ouvir o grito dos nossos cidadãos que nos pedem para transformar as nossas armas em instrumentos de paz, os nossos medos em confiança e as nossas tensões em perdão.
Mantende acesa em nós a chama da esperança para efetuar, com paciente perseverança, opções de diálogo e reconciliação, para que vença finalmente a paz. E que, do coração de todo homem, sejam banidas estas palavras: divisão, ódio, guerra! Senhor, desarmai a língua e as mãos, renovai os corações e as mentes, para que a palavra que nos faz encontrar seja sempre “irmão”, e o estilo da nossa vida se torne: shalom, paz, salam! Amém. (Papa Francisco)
Para guardar: “Pedi, vós todos, a paz para Jerusalém, e vivam em segurança os que te amam.” (Sl 121, 6)
Pratique: Ofereça hoje alguma penitência pela paz no mundo.
[29º dia – Segunda, 27 de março]
PAZ: DOM E TAREFA
Medite: Salmo 45
Reflita: Paz é dom comunicado pelo Senhor a nós e também construção pessoal. Essas duas dimensões implicam-se mutuamente. Como dom, precisamos apenas nos abrir para receber, pois o próprio Senhor no-la quer comunicar: “Eu disse essas coisas para que em mim vocês tenham paz. Neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham coragem! Eu venci o mundo” (Jo 16, 33); “Eu disse essas coisas para que em mim vocês tenham paz. Neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo” (Jo 14, 27); “Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o coração e a mente de vocês em Cristo Jesus” (Fp 4, 6-7); “O Senhor dá força ao seu povo; o Senhor dá a seu povo a bênção da paz” (Sl 28, 11).
Como construção-tarefa, é preciso estabelecer e desenvolver hábitos que a fortaleçam no nosso dia a dia. Existem muitas dicas e conselhos para esse desenvolvimento, uns melhores e mais realistas que outros. É preciso tirar a média para estabelecer um equilíbrio razoável e possível de se construir.
- Aqui vão algumas pequenas dicas adaptadas do escritos Ravi Shankar:
- Abra-se a Deus, seja grato;
- Reserve diariamente um tempo para si mesmo;
- Saiba que tudo é impermanente. Trabalhe seus apegos;
- Pratique atos de bondade sem querer nada em troca;
- Sorria. Fará bem a você, aos outros e dará comandos positivos ao seu cérebro;
- Faça da meditação um hábito diário, ainda que sejam poucos minutos;
- Seja sempre um aprendiz. Tudo é oportunidade para você aprender e crescer.
Reze: “Senhor Jesus Cristo, dissestes aos vossos apóstolos: eu vos deixo a paz, eu vos dou a minha paz. Não olheis os nossos pecados, mas a fé que anima vossa Igreja; dai-lhe, segundo o vosso desejo, a paz e a unidade. Vós, que sois Deus, com o Pai e o Espírito Santo. Amém.”
Para guardar: “Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz.” (Jo 14, 27)
Pratique: Cuide de você mesmo: faça algum exercício físico.
[30º Dia – Terça, 28 de março]
PERSEVERANÇA: DE CADA DIA
Medite: 1Pedro 1, 3-11
Reflita: “Transportai um punhado de terra todos os dias e fareis uma montanha” (Confúcio). “A perseverança é mais eficaz do que a violência, e muitas coisas que, quando reunidas, são invencíveis, cedem a quem as enfrenta um pouco de cada vez” (Plutarco). Dois grandes pensadores: Confúcio, um mestre chinês nascido provavelmente em 552 a.C. e Plutarco, filósofo grego nascido em 46 d.C. Duas provocantes máximas que forjam grandes homens e mulheres, não apenas por feitos notáveis e registrados nos anais da história, pois são, na sua maioria, anônimos, mas que deixam sua marca e deveriam se tornar admiráveis em suas famílias e pela sociedade. No entanto, muitos são relegados diante do brilho ilusório de quem parece bem-sucedido e que, por isso, são admirados e até cultuados, mas que não passam de bolhas de sabão que ao calor do sol esvanecem-se ou como a erva verde que murcha (Sl 36, 2).
Na mesma linha das duas frases acima citadas, achei muito interessante uma reflexão com a qual me deparei: “Aguardar é estacionar o carro por alguns minutos enquanto o congestionamento se desfaz; refletir é pedir para o GPS recalcular a rota, analisando as possibilidades; desistir é fechar o GPS e voltar para casa”. A perseverança implica, certas horas, em saber aguardar o momento oportuno; em outros momentos, refletir para encontrar a melhor solução. E desistir? Irá depender. Se for fruto de um discernimento amadurecido, de quem percebe que um determinado processo chegou ao fim, não significa que não se está perseverando. A perseverança não é tanto o “quê”, mas o “como”.
Para terminar uma pílula de sabedoria do Papa Francisco: “A perseverança é o dom de Deus com o qual se conservam todos os outros dons. Peçamos por nós, como indivíduos e como Igreja, para perseverar no bem, de não perder de vista o que importa”.
Reze: “Senhor Deus, venho diante de ti para agradecer todo o bem que realizas na minha vida. Muito obrigado pelo ar que respiro, pelo alimento à minha mesa, pelas pessoas que amo. Muito obrigado pela força e coragem que me concedes todos os dias. Eu te peço, Senhor, a graça da perseverança em todas as situações, especialmente naquelas mais difíceis, que exigem de mim paciência, confiança e firmeza. Sei que nunca estarei só e que sempre posso contar com teu dedicado auxílio. Dá-me superar o medo e a insegurança. Que eu possa, com a tua graça, oferecer apoio a todos aqueles que de mim se aproximarem pedindo auxílio. Amém!”
Para guardar: “Cuidai cada vez mais em assegurar a vossa vocação e eleição.” (1Pd 1, 10)
Pratique: Alguém próximo de você está desanimado? Procure animá-lo! Muitas vezes tudo aquilo que precisamos é sentir que alguém se preocupa conosco.
[31º dia – Quarta, 29 de março]
PERSEVERANÇA: FINAL
Medite: Mateus 24, 1-14
Reflita: “… e então chegará o fim” (Mt 24, 15), dessa forma conclui-se o texto bíblico de hoje e, pode-se dizer, a história humana: o fim que, na verdade, é um recomeço. Mas, antes desse desfecho final que não cabe a nós sabermos a hora ou nos preocuparmos (Mt 24, 36), há muito caminho a percorrer e uma atitude básica a tomar: perseverança! O próprio relato do Evangelho já deixa indicado o sentido dessa perseverança na fé: ela não se ilude pelas aparências de grandeza, prazer ou sucesso, pois tudo é impermanente, como as pedras que desmoronam (vv. 2.11); ela não se deixa seduzir por soluções aparentes (v. 6); não se perturba diante das realidades que abalam e ameaçam (v. 6); não recua diante dos problemas e dores (vv. 7-8); não permite que a caridade arrefeça (v. 12); dá firme testemunho de em Quem coloca sua esperança (v.14).
Não importa tanto fixar-se nas imagens apresentadas pelo texto bíblico, mas, exatamente, nas atitudes diante de todas as situações que se possam apresentar. Aliás, não é assim nas diversas áreas da vida? Nós não temos o controle direto sobre a realidade. Você só pode cuidar da forma como passa por aquilo que acontece. E a promessa de Jesus é clara: “aquele que perseverar até o fim será salvo” (v. 13).
Reze: Dá-me, Senhor, a graça da perseverança final! Que aquela derradeira hora me encontre em comunhão contigo. Mas sei que, para isso, preciso da perseverança diária. Vivendo um dia de cada vez; sustentando, por hoje, minha fé; firmando meu Sim diante do que é bom e dizendo Não, diante das realidades que possam me afastar do Senhor. Assim peço, assim creio, assim espero. Amém.
Para guardar: “Aquele que perseverar até o fim será salvo!” (Mt 24, 13)
Pratique: Jejue de palavras negativas e diga palavras positivas. Tire a murmuração de sua boca e coração.
[32º dia – Quinta, 30 de março]
PLENITUDE: É ATITUDE E NÃO RESULTADO
Medite: João 2, 1-11
Reflita: O que é mais pleno: um jarro com capacidade de um litro, portando 900ml, ou um tonel, onde cabem 100 litros, estando com 60 litros? A resposta parece clara num primeiro momento. Sessenta litros é muito mais do que 900ml. Não obstante, aquele jarro com capacidade de um litro estava quase totalmente cheio, ao passo que o tonel só estava com 60% de sua capacidade. Já imaginou se os serventes tivessem enchido aquelas talhas apenas pela metade? Quanto vinho excelente deixaria de ser provado.
A plenitude não é uma marca igual para todos. Ela está muito mais vinculada à abertura que cada um manifesta para crescer, se desenvolver, do que propriamente com o resultado obtido. Faz-me lembrar de uma frase do grande Thomas Edison (inventor da lâmpada incandescente) de que a genialidade é “10% inspiração e 90% transpiração”. Não se chega à plenitude, como ideal de desenvolvimento, se os talentos estão enterrados, se a acomodação é regra de comportamento.
Podemos tomar também a parábola da corrida da lebre e da tartaruga, onde a lebre sabia de antemão que a tartaruga nunca conseguiria ganhar dela numa corrida e, por isso, relaxou, enquanto a tartaruga pouco a pouco e continuamente continuou sua jornada até que venceu a corrida, pois a lebre foi cochilar e acabou dormindo. Moral da história: devagar se chega longe. Plenitude é atitude e atitude produz resultados. É muito diferente de achar que a plenitude é o resultado.
Seja pleno na sua atitude de busca, de correspondência, de determinação, de perseverança. Não se compare a outros. Faça o melhor que você puder. Mais importa uma pequena chama que crepita sempre, do que uma fogueira que ilumina apenas por instantes.
Reze: Venha em meu auxílio a tua graça, Senhor, para que eu não enterre meus talentos, para que eu não meça minha generosidade, para que eu não perca as oportunidades, para que eu não me feche na mediocridade, para que eu não me contente com o mínimo, para que eu me esforce ao máximo, sobretudo quando isso significa amar e auxiliar o próximo. Amém.
Para guardar: “Enchei as talhas de água.” (Jo 2, 7)
Pratique: Coloque como meta: ler a Bíblia ao menos três vezes por semana.
[33º dia – Sexta, 31 de março]
PLENITUDE: DEIXAR-SE CONDUZIR PELO ESPÍRITO
*** Dia de Jejum ***
Medite: Efésios 5, 15-20
Reflita: Antes de tudo, é preciso reafirmar que o Espírito Santo não é uma força, uma energia ou até mesmo o poder de Deus atuando na vida do crente. O Espírito Santo é uma Pessoa, assim como o Pai e o Filho. Com uma pessoa não há uma simples conexão, mas relação, relacionamento.
Falar de plenitude – como atributo do Espírito Santo, no tempo da Quaresma – é lembrar que foi o mesmo Espírito que conduziu Jesus ao deserto para aquele retiro de quarenta dias, como estamos fazendo. E o Espírito Santo assim o fez para que Jesus, como homem verdadeiro e pleno que foi, pudesse colocar-se profundamente em sintonia – relação íntima – com o Pai.
O texto que ora refletimos indica que viver nessa plenitude – ser cheio do Espírito – tem a ver com o jeito de viver que o cristão abraça e cultiva: mantém-se vigilante, não é insensato, administra bem o tempo, busca o discernimento para compreender a vontade do Pai, é sóbrio, tem vida de oração, sabe agradecer.
Perceba que o apóstolo, ao falar diretamente sobre essa plenitude do Espírito, usa um imperativo: “enchei-vos do Espírito” (v. 18). Não há vida cristã se não for uma vida no Espírito, na busca dessa direção concreta do Espírito: “deixai-vos conduzir pelo Espírito” (Gl 5, 16). Certamente, essa é uma atitude que envolve todas as áreas da vida e a vida inteira, até nossa volta ao Senhor. Então, peça, diariamente a condução do Espírito Santo para que você aja como discípulo de Jesus.
Reze: “Deus Espírito Santo, renova a minha vida: envia a tua luz e dá-me coragem e força. Vem, Espírito Santo! Vem com teus dons: bondade, mansidão e paciência. Vem, Espírito Santo! Não permitas que o mal me destrua, mas ajuda-me a superar o mal pelo bem. Vem, Espírito Santo! Dirige meu pensamento e minha ação, ajuda-me em minha fraqueza, pois sem Ti nada posso fazer. Vem, Espírito Santo. Que eu seja sóbrio em meu proceder, sábio em meu falar e sempre pronto a escutar. Faze-me boa testemunha de Cristo e deixa-me encontrar alegria junto de Ti. Vem, Espírito Santo!”
Para guardar: “Enchei-vos do Espírito.” (Ef 5, 18)
Pratique: Pratique o autocontrole. Por exemplo, não deixe que a raiva o controle. Respire fundo.
[34º dia – Sábado, 1º de abril]
PÃO: DAI-LHES VÓS MESMOS DE COMER
Medite: Mateus 14, 13-21
Reflita: O Domingo, pode-se dizer, é o dia do Pão: do Pão Eucarístico e da partilha entre irmãos em nossa fé. É dia de convivência, partilha e solidariedade. É dia, não apenas, da família estabelecida pelos laços afetivos, mas também por aqueles de nossa comum pertença ao Senhor. São os discípulos de Jesus que se encontram para celebrar a Páscoa semanal.
Não há como sentar-se à Mesa do Pão Eucarístico sem levar em conta que, em muitas mesas não há pão para saciar a fome. “Dai-lhes vós mesmos de comer!” (Mt 14, 16), diz-nos o Senhor no Evangelho e somos exortados pela CNBB, através da Campanha da Fraternidade. No Texto Base da CF 2023, lemos a interpelação feita pelo Papa Francisco: “Jesus nos ama em grande medida e quer permanecer perto de nós. Ao cair da noite, Jesus se preocupa em dar de comer a todas aquelas pessoas, cansadas e famintas, e cuida de quantos o seguem. Ele quer que os seus discípulos se tornem partícipes disso. E por isto, diz-lhes: ‘Dai-lhes vós mesmos de comer’ (Mt 14, 16). Assim demonstrou-lhes que os poucos pães e peixes que tinham, com a força da fé e da oração, podiam ser compartilhados com toda aquela multidão. (…) O Senhor vai ao encontro das necessidades dos homens, mas deseja tornar cada um de nós concretamente participantes da sua compaixão” (CF 2023, nº 15).
Deixo ainda com você a palavra forte e desafiante de São João Crisóstomo, escrita no século IV da era cristã: “Muitos cristãos saem da igreja e contemplam fileiras de pobres que formam muralhas em ambos os lados e passam longe, sem se comover, como se vissem colunas e não corpos humanos. Apertam o passo como se vissem estátuas sem alma em lugar de homens que respiram. E, depois de tamanha desumanidade, se atrevem a levantar as mãos ao céu e pedir a Deus misericórdia e perdão pelos seus pecados” (CF 2023, nº 148).
Reze: Obrigado, Senhor, pelo pão à minha mesa e pelos recursos que me deste para viver com dignidade. Aquilo que tenho, deveria ser o que todos deveriam ter: pão, teto, saúde, educação, família, segurança, dignidade. Peço-te perdão pela minha omissão muitas vezes. Ajuda-me a partilhar um pouco do que tenho – Tu que me deste tudo – com aquele que pouco ou nada tem. Livra-nos a todos da indiferença que corrói e mata. Torna-nos solidários e fraternos. Amém.
Para guardar: “Todos comeram e ficaram fartos.” (Mt 14, 20)
Pratique: Esse final de semana é dia da COLETA DA FRATERNIDADE em todas as igrejas do Brasil. Seja generoso ao dar sua oferta!