Mais uma vez
Mais uma vez me encontro diante da tela de meu computador. O que antes era feito com papel e caneta, em tantas noites insones e em tantos dias, normalmente, nublados e chuvosos ou mesmo ensolarados, agora é digitado diretamente. Quantas vezes sentei-me, sempre acompanhado de alguma música instrumental, e escrevi muita coisa que foi, inclusive, publicada em nosso NOVO TEMPO, em livros, Campanhas de Oração, roteiros para retiros e Avivamentos. Por vezes adentrava madrugada afora – como agora – enfrentando o sono, o cansaço do dia.
As palavras que por ora lavro têm a marca da memória e da gratidão e são escritas não sem alguma lágrima ou suspiro involuntários. Não é tristeza; é lembrança, é saudade. Um esboço de sorriso também se entrevê em meus lábios. Penso no sorriso sereno de algumas imagens… São boas recordações.
A chegada
Há oito anos, em 2011, depois de 26 anos, eu retornava para minha cidade natal, nossa querida Juiz de Fora. Poucos dias depois de aqui chegado, o primeiro lugar, onde fui convidado para dar uma bênção, foi em um sítio na região da BR-040, no aniversário do Sr. Manoel Machado. Quando ali cheguei, minha memória de imediato voltou ao ano de 1985, quando, cursando meu último ano de filosofia, um questionamento vocacional se agigantou e, por pouco, não saí do seminário. Foi quando encontrei um calicezinho de plástico que foi um sinal visível de uma palavra que penetrou meu ser e me deu ânimo para continuar: – Siga em frente! Você chegará lá! No ano seguinte, fui para o Noviciado, na cidade paulista de Tietê.
Coincidência tal fato? Para alguns pode ser; para mim, não. Deus, em sua Providência, vai tecendo com a gente a história.
Alianças
Os dias, os meses, os anos foram passando. Rápido, muito rápido. Muito trabalho, muitos projetos, muitas iniciativas, muitas pessoas que se fizeram próximas, que vieram juntas somar, juntas sonhar. E na trajetória de nossa centenária Paróquia, também pude dar minha colaboração na escrituração destas páginas cheias de pioneirismo de décadas, não só nas circunvizinhanças, mas em toda a Arquidiocese de Juiz de Fora e outras cidades.
Confrades que por aqui passaram e aqueles que aqui encontrei; os que se foram para outras missões no decorrer destes anos e os que chegaram. Trabalhamos juntos, cada um com seu carisma, seu jeito, seu trabalho apostólico. De uma coisa estou convencido: sem uma real convivência fraterna – ainda que com as peculiaridades de cada um e os humanos conflitos – a pastoral não se sustenta do jeito de Jesus. Como poderia falar de fraternidade se, ao menos, não me esforçasse para conviver bem, respeitar, perdoar e dar o melhor de mim mesmo?
Falhei em muitos momentos, mas fui sincero, de verdade, em minha busca da verdade amorosa do Evangelho. Errei, mas creio que não me eximi de pedir perdão. E, se alguma vez, não o fiz em relação a alguém, peço agora, do fundo do meu coração, que me perdoe.
Eben-Ezer
Um termo bíblico tem vindo ao meu coração nestes últimos dois meses: Eben-Ezer! Trata-se de um altar que Samuel erigiu, depois da pouco provável vitória sobre os filisteus, por parte das fileiras de Israel (1Sm 7, 2-14): “Tomou Samuel uma pedra e pô-la entre Masfa e Sem, dando-lhe o nome de Eben-Ezer, pois disse: ‘Até aqui nos ajudou o Senhor’” (v. 12). “Pedra de ajuda”, este é o significado da expressão Eben-Ezer. Ocorre-me a logomarca do nosso Projeto CRESSER, com aquelas pedrinhas (tijolos) que formam como que um alicerce, uma base de crescimento.
As pedrinhas deste Altar
Meu Eben-Ezer é composto de muitas “pedrinhas” que fomos juntos apresentando no decorrer destes anos:
– O Projeto CresSer (Crescer e Servir) para a formação de novos servos); o Projeto Permanecer (formação de perseverança para os servos já engajados); o Projeto Missão Paroquial (que tornou-se modelo de Missão em nossa Arquidiocese de Juiz de Fora);
– As tantas Vigílias; Cercos de Jericó; Roteiros Espirituais para o tempo da Quaresma e Páscoa; os Quarenta Dias de Oração com Nossa Senhora; Quaresma de São Miguel (como São Francisco de Assis indica que se faça); os 21 dias de Oração do Advento (como orou Daniel); As Semanas do Coração; Avivamentos; livros que Deus me possibilitou publicar nestes anos (No Poder do Espírito, Nos Passos de Maria, Meu Coração em Teu Coração, Falando de Vida, Novena ao Espírito Santo), além de outras publicações devocionais; os Cursos de Aprofundamento da Fé ministrados por diversos confrades, especialmente o Pe. Dalton;
– As Missas no Jardim Glória na primeira sexta-feira do mês; a implantação da Novena de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, ao meio dia, na Igreja de São Roque, onde também passamos a realizar a Adoração ao Santíssimo Sacramento após a Celebração das 18h às quintas-feira; a Missa das Crianças às 16h aos sábados;
– A criação da Festa Junina (Arraiá da Glória); o esmerado trabalho da nossa equipe na área social no sexagenário Ambulatório da Glória que a tantos ajuda e promove; o “Mercadinho da Caridade”;
– A reforma do Salão Paroquial e de toda a estrutura do setor administrativo da Paróquia (secretaria paroquial, secretaria de casamentos, criação da sala da Pastoral do Dízimo, administração, comunicação, sala de liturgia); os ventiladores da Igreja da Glória;
– No serviço litúrgico e devocional: a imagem de Nossa Senhora das Dores; o altar móvel de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro; a imagem de São Miguel; o ostensório da Igreja de São Roque; além dos novos “vasos litúrgicos”;
– Na área da Comunicação: a ampliação do Jornal Novo Tempo, novos equipamentos para a Pastoral da Comunicação, mural digital da Igreja da Glória, além da produção dos muitos materiais gráficos de evangelização;
– O mapeamento de todo o Cemitério da Glória; o projeto de revitalização do espaço com os pinheiros; reforma da Capela Mortuária; a realização da missa no Dia de Finados no próprio Cemitério;
– A nova configuração do CPP (Conselho Pastoral Paroquial) e as três dimensões (Acolhida, Oração e Missão); a criação da Equipe da Cozinha, Pastoral dos Acólitos, Projeto Juventude, ampliação e implementação da Pastoral da Acolhida e do Dízimo; a recém-criada Pastoral da Manutenção.
– É claro que não poderia deixar de falar da reforma da Igreja de São Roque (troca de toda a estrutura do telhado; novo presbitério, pintura, rebaixamento do teto, nova iluminação, sacristia).
Deus me deu ainda a possibilidade de estender o meu trabalho de evangelização, através do Programa Falando de Vida, na Rádio Catedral e na WebTV “A Voz Católica”.
Muitas, muitas outras coisas (não gosto da palavra) – portanto, falemos de dádivas – pudemos vivenciar juntos neste tempo. Não são “minhas” pedrinhas neste Eben-Ezer; são “nossas”, de todos nós: da Comunidade Redentorista, dos servos, de todos os frequentadores, dos dizimistas, dos ofertantes.
Seu Dízimo, sua oferta
Seu Dízimo e sua oferta tornam-se serviço para o bem de todos! Ainda que alguém pense, não elenquei estes pontos aqui como um “prefeito” em final de mandato. Mas é, de certa forma, uma prestação de contas como atitude de gratidão ao Governo Provincial que me confiou a função de Pároco neste tempo, à Comunidade Redentorista que, na verdade, é a responsável por esta Paróquia, a todos os paroquianos e dizimistas pelo serviço e generosidade.
É claro: há muito a fazer. Nossa estrutura é muito grande e os recursos – materiais e humanos – não são proporcionais, mas a Providência Divina atuou através de todos que têm acreditado em nosso trabalho de evangelização. Continue a ser fiel não apenas em seu Dízimo, mas, sobretudo, em seu serviço.
A história continua
A nova configuração da Comunidade Redentorista da Glória para o triênio 2019-2022 assume agora, tendo o Pe Edson Alves da Costa, C.Ss.R como pároco. Seja bem chegado, assim como o Pe. Lúcio Marcos Bento, C.Ss.R. Tenho certeza que nosso povo os receberá muito bem, assim como fui recebido. Quanto a você, meu irmão e irmã, apoie, trabalhe, continue a ajudar a consolidar a Igreja de Cristo entre nós.
Gratidão
Reitero meu agradecimento a cada confrade com quem pude conviver ao longo destes anos. Juntos trabalhamos, rezamos, choramos, celebramos e, até, discutimos. Isso é Comunidade.
Meu sentimento de gratidão a Dom Gil Antônio Moreira, nosso Arcebispo, por toda confiança e paterna acolhida neste tempo que aqui estive, inclusive dando-me a oportunidade de evangelizar através dos Meios de Comunicação da Arquidiocese.
Também não posso deixar de agradecer o Conselho Pastoral Paroquial (CPP), que durante estes anos foi fundamental como ministério favorecedor da comunhão eclesial.
Parcerias são fundamentais e estas foram estabelecidas muito de perto com a equipe de colaboradores da Paróquia: nossos funcionários. Obrigado pelo serviço competente e próximo que cada um tem desempenhado.
Muito obrigado às amizades que foram se tecendo no decorrer deste caminho. Isso não passa. Laços permanecem no coração, “mesmo que o tempo e a distância digam não”. Eu os levo no coração!
E o que dizer de minha família? De forma discreta e amorosa foi mais que presença: foi realmente família. Que graça Deus me deu de poder conviver de perto com ela neste tempo. Eu os amo!
Não estou aqui me despedindo, dizendo “adeus”; estou me recomendando e a você, a todos nós, “A Deus”. Ele toma, Ele tomará conta de nós!
Sim, ó Deus, Eben-Ezer:
até aqui o Senhor me ajudou.
Eu confio ao Senhor a nova missão que me é dada,
como pároco na Santo Afonso, no Rio de Janeiro.
Que eu seja teu instrumento ali, Pai.
Mãe Maria, segue comigo, eu te peço.
Santos Anjos e Arcanjos, guardai-me.
Amém!