“Toda Sabedoria vem de Deus” (Eclo 1,1)
Uma Jornada Interior com o Livro do Eclesiástico
O SENTIDO DE DESERTO
“Cheio do Espírito Santo, voltou Jesus do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto, onde foi tentado pelo demônio durante quarenta dias.” (Lc 4, 1-2a)
Também nós queremos que o Espírito Santo nos conduza ao deserto! Na tradição bíblica e também nos primeiros séculos da Igreja, o deserto é considerado um lugar especial de encontro com Deus: “Por isso a atrairei, conduzi-la-ei ao deserto e falar-lhe-ei ao coração” (Os. 2, 16).
Ir ao deserto com Jesus durante este tempo de quaresma – ou outro tempo que você mesmo eleger (não necessariamente a quaresma) – é colocar-se no firme propósito de ter um encontro com Deus e com nossa própria verdade. O deserto não é um lugar, mas uma disposição espiritual.
Os “demônios” que precisamos enfrentar estão, antes de tudo, dentro de nós. São nossos próprios traços de personalidade, inclinações, atitudes que precisam ser reconciliados ou até mesmo vencidos, “exorcizados” para vivermos sob a Vontade de Deus.
Uma batalha que se trava no decorrer de toda a vida. Sempre precisaremos de mudança, conversão. Ninguém se sinta pronto por ter percorrido um determinado trecho de sua senda espiritual. Sempre haverá a necessidade de se colocar novamente a caminho, de se confrontar, de mudar, de crescer. É tarefa de uma vida inteira.
É preciso ainda lembrar que, sem a graça de Deus, toda ascese (disciplina espiritual) é vã. A iniciativa é de Deus! É o Espírito Santo quem conduz Jesus ao deserto. “Porque é Deus quem segundo o seu beneplácito, realiza em vós o querer e o executar.” (Fp 2, 13)
ENTRANDO NO DESERTO
Entre no deserto! Mas entre com a determinação de abrir-se à Palavra e à Graça de Deus. Ninguém julgue estar pronto para essa empreitada por si mesmo. Não temos que provar nada a Deus. Não temos que “obrigá-lo” a fazer algo por nós, pois suas ações em nosso favor são sempre amorosas. O jejum é uma prática voltada para nosso crescimento e não para um Deus que exige sacrifício. Jesus já realizou o único e definitivo sacrifício, oferecendo-se por todos nós na cruz (Hb 10, 10).
Os 40 DIAS nos lembram os 40 dias que Jesus esteve no monte das tentações. O tempo dedicado ao jejum é reservado para buscar o Senhor, mesmo em meio às atividades cotidianas. Em Mt 6, 1-18, vemos como Jesus indica o jejum, a oração e a esmola como sinais característicos da vida de um cristão fiel. Em alguns momentos de decisão, porém, somos convocados a intensificar nossa comunhão com o Senhor.
Outro fator importante em um tempo de jejum é o propósito que nos move a fazê-lo. Um jejum sem propósito definido é como vagar num túnel escuro, sem saber de onde ou para onde se vai. Olhando as Sagradas Escrituras, encontraremos muitas razões que levaram as pessoas ao jejum. Se vamos jejuar temos que ter objetivos firmes e claros pelos quais lutar:
Estar com Deus; receber sua Palavra e alguma orientação concreta; interceder por alguém ou alguma situação; enfrentar o “inimigo” e suas tentações etc…
COMO FAREMOS NOSSO JEJUM?
Jejuaremos às QUARTAS E SEXTAS-FEIRAS, durante o período de nossa Campanha, como estará indicado no roteiro à frente. Mas, durante os 40 dias, evitaremos alimentos pelos quais buscamos mais saciar nosso gosto do que as necessidades de nosso organismo (doces, refrigerantes, excesso de frituras ou outros alimentos que constituem hábitos alimentares aos quais estamos apegados). Além disso, evitando extravagâncias, vamos escolher entre duas opções:
Iniciar a alimentação diária só a partir das 12h, ou simplesmente cortar uma das refeições do dia.
CUIDADO somente para não “descontar” na próxima refeição para compensar o que não foi comido. Pessoas que fazem uso de medicação devem estabelecer o jejum em conformidade com o horário dos remédios, bem como aquelas com problemas de pressão alta, diabetes ou outro tipo de limitação de saúde ou restrição alimentar podem fazer jejum de televisão, conversas ou outras coisas. Mas lembre-se: inicialmente o jejum consta de algum sacrifício na alimentação.
A PALAVRA QUE NOS GUIA
“Toda Sabedoria vem de Deus” (Eclo 1,1)
Nosso caminho oracional será com o Livro do Eclesiástico. Seria interessante que você lesse a introdução que todas as Bíblias trazem sobre este livro. Aliás, é bom lembrar que o livro do Eclesiástico só se encontra na Bíblia Católica, pois foi retirado pelos protestantes, que o chamam de apócrifo.
Como ele apresenta uma coletânea de máximas de sabedoria, nem sempre é fácil buscar um tema único para se refletir em um capítulo. Ao ler o capítulo, procurei um tema que, a meu ver, pudesse apontar uma unidade destas máximas. Você que vai empreender este caminho espiritual poderá perceber outro tema. Um outro ponto, é que sugiro um versículo para você guardar, mas o Espírito Santo pode despertar em seu coração um outro versículo que, igualmente, o tocará. Meu intuito não é fechar sua percepção da Palavra, mas, ao contrário, abri-la para que possa ser conduzido como peregrino na riqueza deste inspirado livro.
Deixo com você uma introdução adaptada daquela que é apresentada pelo site www.catequisar.com.br:
O livro do ECLESIÁSTICO é um livro muito usado no judaísmo, especialmente citado no Talmud. Exerceu bastante influência na liturgia judaica (festa do Grande Perdão; Oração das 18 Bênçãos), não obstante não ter sido integrado no Cânon judaico. É, portanto, um livro deuterocanônico.
NOME – Desde os primeiros séculos do Cristianismo, o nome mais comum para designar este livro é “Eclesiástico” (do latim “Ecclesiasticus liber”), o que significa o livro da igreja ou da assembleia. São Cipriano, falecido em 248, parece ter sido o primeiro a usar esse nome, devido ao uso que dele se fazia na Igreja antiga. Com efeito, dentre os Livros Sapienciais, é este o mais rico de ensinamentos práticos, apresentados de um modo paternal e persuasivo.
AUTOR E DATA – Excetuando os escritos proféticos, é este o único livro do Antigo Testamento do qual temos a certeza de conhecer o autor: “Sabedoria de Jesus, filho de Sirac”, como vem assinalado no fim, em jeito de assinatura (50, 29). Segundo muitos autores, assinou a sua própria obra, por influência helenística.
O livro deve ter sido escrito por volta de 180 a.C. e antes da trágica situação que começa com a destituição de Onias III, filho de Simão, em 174 a.C., quando da violenta perseguição de Antíoco Epifânio (175 a.C.) e da consequente sublevação dos Macabeus (167 a.C.). O próprio ECLESIÁSTICO nos fornece alguns dados sobre a sua identidade e o seu trabalho. Em 51, 31 fala da própria escola e convida os ignorantes a inscreverem-se para poderem adquirir gratuitamente a sabedoria (51, 33).
TEXTO – Originariamente, o ECLESIÁSTICO foi escrito em hebraico; mas esse texto, perdido durante séculos, só foi descoberto a partir de 1896 na velha sinagoga do Cairo, em diversos fragmentos de vários manuscritos medievais. Mais tarde, outros pequenos fragmentos foram encontrados numa gruta de Qumrân. Em 1964 foi encontrado na fortaleza de Maçada, junto ao Mar Morto, um longo texto que abrange 39,27 – 44,17, numa escrita do início do século I a.C.. O texto hebraico ainda foi conhecido por São Jerônimo, que faleceu em 419.
DIVISÃO – O livro pode dividir-se em três etapas: uma primeira propriamente sapiencial, segundo o gênero e o estilo dos Provérbios (1, 1 – 42, 14); uma segunda, que é mais de meditação sobre as obras de Deus na Criação e na História (42,15 – 50, 27); e a terceira que se apresenta como uma conclusão.
TEOLOGIA – O ECLESIÁSTICO defende a fé tradicional do seu povo: Deus é eterno e único (18,1; 36,4; 42,21), é autor de uma criação perfeita, apesar dos seus mistérios e contradições aparentes (42, 21.24); e, diante dela, o próprio Eclesiástico, como o salmista, enche-se de um especial entusiasmo (39,16-41; 42,15 – 43,37). Deus tudo conhece (42,15-26); “Ele está acima de todas as suas obras” (43,30), governa o universo com justiça e prudência (16, 16-23) e retribui com equidade (33, 14); é misericordioso, capaz de perdoar e de salvar no tempo da aflição (2,11); é Pai, não apenas de Israel, de quem é o Deus único (17,17-18), mas também de cada indivíduo (23,1). Esta concepção constitui um progresso considerável na teologia do judaísmo.
Faça esta jornada no exame de si mesmo e pedindo a sabedoria de Deus para guiar seus passos, como tão bem o fez o rei Salomão.
Roteiro para o Retiro Quaresmal
“40 DIAS NO DESERTO COM JESUS” de Jejum e Oração”
Oferecimento Diário da Oração e Jejum
Senhor, no silêncio desta hora de graça, venho pedir-te a paz, a sabedoria e a força.
Quero olhar o mundo com olhos cheios de amor.
Quero ser paciente, compreensivo, manso e prudente.
Quero ver além das aparências teus filhos como tu mesmo os vês e, assim, Senhor,
ver senão o bem em cada um deles.
Fecha meus ouvidos a toda calúnia. Guarda minha língua de toda maldade.
Que só de bênçãos se encha meu espírito.
Que eu seja tão bom e alegre que todos quantos se aproximarem de mim
sintam tua presença. Reveste-me de tua beleza, Senhor, e que, no decurso desse dia, eu te revele a todos.
Dá-me, assim, pelo Espírito Santo, viver o dia de hoje em comunhão contigo,
em atenção ao que se passa comigo
e vigilante diante dos desvios do caminho.
Inspira-me com tua luz, defende-me com tua graça, santifica-me com teu amor.
Invoco o preciosíssimo Sangue de Jesus para que me guarde,
a intercessão de Nossa Senhora para que me valha
e a proteção dos Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael para que me acompanhe durante a jornada deste dia.
Em nome de Jesus. Amém.
1º Dia: segunda-feira, 23 de fevereiro – A sabedoria na origem
Medite em Eclesiástico (Prólogo e cap. 1)
Não obstante a sabedoria não poder se equiparar, no Antigo Testamento, diretamente a Deus Espírito Santo, podemos nela ver a manifestação desta pessoa da Santíssima Trindade. Portanto, quando se elogia a sabedoria, veja nela os traços de Deus, especialmente o Espírito Santo. Assim, a Divina Sabedoria é a fonte da sabedoria que necessitamos no dia a dia.
Para guardar: “O temor ao Senhor é sabedoria e instrução, e o que lhe é agradável é fidelidade e doçura; ele encherá os celeiros daqueles que as possuem (vv. 34-35)
2º Dia: terça-feira, 24 de fevereiro – O serviço de Deus
Medite em Eclesiástico 2
Aqui está uma verdadeira inspiração e instrução para aquele que quer se colocar a serviço de Deus. Será que o Senhor tem encontrado entre nós homens e mulheres que o busquem com a alma entregue e despojada? Como se costuma dizer, há muitos que se servem de Deus e que pouco servem a Deus. Você pode, hoje, renovar seu desejo de, como Maria, ser verdadeiramente um servo, uma serva com quem Deus pode contar?
Para guardar: “… dedica-te a Deus, espera com paciência, a fim de que no derradeiro momento tua vida se enriqueça.” (v. 3)
3º Dia: quarta-feira, 25 de fevereiro – Sabedoria e doçura
Medite em Eclesiástico 3 Dia de Jejum
Dediquemos este dia para orarmos e meditarmos sobre nossa vida em família. Não só ore por sua família, mas também examine de que forma seus gestos e palavras consolidam sua vida familiar no amor. A Palavra nos indica, ainda, que tudo procede do coração. É a partir dele que nossa forma de ser e se relacionar se manifestará construtiva ou destrutiva.
Para guardar: “Meu filho, faze o que fazes com doçura.” (v. 19)
4º Dia: quinta-feira, 26 de fevereiro – Sabedoria e solidariedade
Medite em Eclesiástico 4
A verdadeira sabedoria nunca se fecha nela mesma; não é egoísta, buscando seu próprio interesse. Aqueles que só procuram enriquecer-se a si mesmos, na verdade não são sábios. A sabedoria leva à caridade verdadeira e um dos traços da caridade é a solidariedade, ir ao encontro do mais necessitado, não só ajudando-lhe com coisas, mas na forma mesma como nos relacionamos com ele. Lembre-se de, ao final de nossa Campanha, consagrar pelo menos 1kg de alimento não perecível para os mais carentes. Na verdade, acho que você poderia ser mais generoso. Pense nisso!
Para guardar: “A sabedoria inspira a vida aos seus filhos.” (v. 12)
5º Dia: sexta-feira, 27 de fevereiro – Sabedoria e relacionamentos
Medite em Eclesiástico 5 e 6 Dia de Jejum
A sabedoria nos leva a pensar a forma como nos relacionamos com as coisas e as pessoas. Estes dois capítulos nos remetem a estas reflexões: ser livre diante das riquezas; pedir a Deus uma verdadeira amizade; evitar os caminhos tortuosos; discernir sobre em quem se deve confiar; buscar aqueles que podem nos enriquecer com sua sabedoria. Perceber, assim, o bem que deve ser buscado e o mal que deve ser evitado.
Para guardar: “Não demores em te converter ao Senhor, não adies de dia em dia.” (5, 8)
6º dia: sábado, 28 de fevereiro – Sabedoria e bondade
Medite em Eclesiástico 7
Creio que um dos maiores elogios que se pode fazer sobre alguém é que ele é bom: este é um homem bom, esta é uma mulher boa. Não nos enche de confiança e nos faz descansar quando estamos com uma pessoa boa? Feliz é aquele que convive com pessoas que são, de fato, boas. Mas não basta conviver com pessoas boas: é preciso ser bom, agir com bondade, com justiça, com verdade. Você é uma pessoa boa?
Para guardar: “Em tudo o que fizeres, lembra-te de teu fim, e jamais pecarás.” (v. 40)
7º dia: domingo, 1º de março – Sabedoria e vigilância
Medite em Eclesiástico 8 e 9
O verdadeiro cultivo da sabedoria leva a pessoa a tornar-se vigilante em suas palavras e atos. Ser vigilante não é ser uma pessoa desconfiada, mas que norteia sua vida pela sobriedade. Por outro lado, ser sóbrio não significa ser tacanho, fechado, pouco exuberante; sóbrio é aquele que procura saber até onde pode ir e, por isso, não se deixa prender por coisas ou pessoas. Vigilância é a palavra de hoje.
Para guardar: “Aconselha-te com os sábios e prudentes.” (9, 21)
8º dia: segunda, 02 de março – Sabedoria e orgulho
Medite em Eclesiástico 10
A raiz de todo o mal no mundo é o egoísmo e seu irmão gêmeo, o orgulho. Eles nos fecham numa imagem distorcida de nós mesmos, afastam-nos dos outros, causam desavenças, impedem o perdão de se exercer, provocam conflitos até mesmo mortais e assim por diante. Egoísmo e orgulho moram dentro de nós! Converter-se é lutar contra eles continuamente e fazer do amor a norma que guia concretamente nossa vida.
Para guardar: “O princípio de todo pecado é o orgulho.” (v. 15)
9º dia: terça-feira, 03 de março – Sabedoria e confiança
Medite em Eclesiástico 11
Quando nossa vida está entregue nas mãos de Deus e nos deixamos guiar pelos seus desígnios, desenvolvemos a serenidade de que tudo concorre para o nosso bem (Rm 8, 28). A experiência feita e assinalada por Paulo, também é a experiência do autor do Eclesiástico. Confie a Deus sua vida. Mesmo diante dos infortúnios, saiba que Deus é mais e maior que todas as provações. Siga com fé. Você não está sozinho!
Para guardar: “Bens e males, vida e morte, pobreza e riqueza vêm de Deus.” (v. 14)
10º dia: quarta-feira, 04 de março – Sabedoria e os inimigos
Medite em Eclesiástico 12 Dia de Jejum
Não devemos nos enganar: porque existe o mal, a maldade se manifesta; e isso também no coração das pessoas. Por isso, não é difícil que apareçam inimigos em nossa vida. O sábio escritor Arthur da Távola diz que inimigo não é aquele que discorda de você, mas que, previamente, já não aceita você. Não seja ingênuo e nem do tipo de pessoa que acha que quase todo mundo é seu inimigo e está com inveja de você. Viva sua vida com serenidade e tenha em vista o que diz a Palavra hoje. Você pode ter inimigos, mas não precisa e não deve ser inimigo.
Para guardar: “É na desgraça que se reconhece um amigo.” (v. 9)
11º dia: quinta-feira, 05 de março – Sabedoria e riqueza
Medite em Eclesiástico 13
Paulo escreve: “O amor ao dinheiro é a raiz de todos os males” (1Tm 6, 10). Não é preciso dar muitos exemplos para se perceber isto. Desde o adolescente que por um celular mata a pessoa até os milhões de reais roubados de empresas públicas, diante de um governo conivente. A riqueza e o poder sobem à cabeça. Mas não basta olhar para longe e para fora. É preciso que cada um de nós se examine e perceba como lida com isso e com estas pessoas.
Para guardar: “Cuida de ti e presta atenção aos teus ouvidos.” (v. 16)
12º dia: sexta-feira, 06 de março – Sabedoria e a brevidade da vida
Medite em Eclesiástico 14 e 15 Dia de Jejum
A morte relativiza uma série de coisas em nossa vida. Sem querer ser mórbido e negativo, se tivéssemos a noção permanente de que um dia a morte chegará, passaríamos a dar mais importância a algumas coisas e deixaríamos outras tantas de lado. Mas acabamos por correr atrás de miragens e o que é importante fica para trás. Talvez mereça sua atenção esta reflexão. Durante este tempo, procure realizar algo que você sabe que é importante e que tem adiado.
Para guardar: “Não te prives de um dia feliz, e não deixes escapar nenhuma parcela do precioso dom.” (14, 14)
13º dia: sábado, 07 de março – Sabedoria e o olhar de Deus
Medite em Eclesiástico 16
Uma imagem clássica da iconografia cristã é o “olho de Deus que tudo vê”. Por vezes este “olho” era usado como sinal do juízo e para causar temor diante do pecado. Sim, o olhar de Deus está voltado continuamente a nós, mas não, em primeiro lugar para julgar, mas para salvar. Não obstante, a misericórdia de Deus não pode ser uma desculpa para se viver na iniquidade e no pecado. O olhar de Deus é o olhar do amor e da verdade que tudo põe a descoberto. Ser sábio é caminhar no amor e na verdade.
Para guardar: “Toda a misericórdia colocará cada um em seu lugar.” (v. 15)
14º dia: domingo, 08 de março – Sabedoria e o olhar de salvação
Medite em Eclesiástico 17
Como vimos, o olhar de Deus é um olhar de salvação. Isto que, de alguma forma, foi contemplado no Antigo Testamento, tornou-se pleno em Jesus. Deus não só olhou para a humanidade, mas colocou, em Jesus, o seu próprio olhar entre nós. Contemplar os olhos de Jesus é contemplar os olhos do Pai, chamando sempre: – Filho, vem! Como ficar indiferente a este olhar? Quem a Ele corresponde, tem impresso em sua própria alma, o olhar de Deus. Sábio é aquele que descobre em si este olhar.
Para guardar: “Pôs o seu olhar nos seus corações.” (v. 7)
15º dia: segunda-feira, 09 de março – Sabedoria e compaixão
Medite em Eclesiástico 18
Compaixão é a capacidade de se colocar no lugar do outro, é sentir com o outro. A compaixão do Pai mostrou-se plena ao enviar seu Filho Jesus que se tornou semelhante a nós em tudo, menos no pecado. Ele solidarizou-se completamente com nossa humana condição. Com Ele, aprendemos também a sermos compassivos com o outro, como queremos a compaixão de Deus. Compaixão e paciência, compaixão e retidão diante da vida. São traços da sabedoria divina a nós comunicada.
Para guardar: “Cheio de compaixão, Deus ensina os homens.” (v. 13)
16º dia: terça-feira, 10 de março – Sabedoria e a língua
Medite em Eclesiástico 19 e 20
O salmista já pedia com insistência ao Senhor: “Ponde, Senhor, uma guarda em minha boca, uma sentinela à porta de meus lábios” (Sl 140, 3). A palavra acertada conjuga-se com o silêncio apropriado. Não fala com propriedade aquele que não sabe silenciar, sobretudo um silêncio da alma. Sem disciplina, dificilmente se cresce na arte de silenciar e de ter a palavra apropriada a cada situação. Como precisamos desta sabedoria que se expressa na palavra e no silêncio. Peça insistentemente este dom.
Para guardar: “Há quem se cale porque reconhece quando é tempo de falar.” (20, 6)
17º dia: quarta-feira, 11 de março – Sabedoria e oração
Medite em Eclesiástico 21 Dia de Jejum
Se você quer crescer na sabedoria que o conduzirá pelo caminho que conduz à Vida, em todas as áreas de sua vida, seja uma pessoa de oração. Falar, silenciar-se, escutar Deus. Mesmo que as coisas não sejam claras, mesmo que sua mente não consiga ter a clareza necessária. Esteja diante de Deus, conscientemente, a cada dia. Mantenha seu espírito elevado em todas as situações e em sua direção fluirá a sabedoria divina. Aí, começa a diferença entre o homem sensato e o insensato.
Para guardar: “A oração do pobre eleva-se de sua boca até aos ouvidos de Deus.” (v. 6)
18º dia: quinta-feira, 12 de março – Sabedoria e reconciliação
Medite em Eclesiástico 22
Sempre é possível recomeçar quando há docilidade na alma. Num relacionamento, nem sempre depende da gente o regresso, a reconciliação, mas no que depender de você esteja predisposto a isto. Não se deixe levar pela mágoa, pois é uma das manifestações mais danosas da insensatez. Esta reconciliação precisa começar dentro de você. Se o seu coração ainda está fechado, de nada adianta buscar o outro, pois você projetará a energia que está em você. Viva reconciliadamente!
Para guardar: “Porque o regresso é possível… a reconciliação é possível.” (vv. 26-27)
19º dia: sexta-feira, 13 de março – Sabedoria e autocontrole
Medite em Eclesiástico 23 Dia de Jejum
Ter sabedoria é também não se guiar apenas pelos instintos naturais. Um dos frutos do Espírito Santo é exatamente voltado nesta direção: autocontrole ou temperança. O jejum também é uma forma de afirmar para si mesmo que “o homem não vive somente do pão, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4, 4). Isso implica a sexualidade e as demais inclinações nossas que eu chamo dos três “p”: poder, posse, prazer. Peça ao Espírito Santo o fruto da Temperança.
Para guardar: “É uma grande glória seguir o Senhor, pois é Ele quem dá vida longa.” (v. 38)
20º dia: sábado, 14 de março – Sabedoria e o Espírito Santo
Medite em Eclesiástico 24
Ao ler este belíssimo capítulo reporto-me logo ao trecho do livro da Sabedoria 7, 22 – 8, 1. Tanto em um como em outro, leio uma manifestação daquilo que é o Espírito Santo. Faça a experiência de perceber os sinais de Deus Espírito Santo nesta personificação da sabedoria. É claro que a sabedoria é apenas uma das características do Espírito Santo. Leia paralelamente, hoje, o texto citado do livro da Sabedoria. Busque o Espírito Santo. Lembre-se que foi Ele quem conduziu Jesus ao deserto e também nos conduz a esta jornada interior.
Para guardar: “Em mim se acha toda a graça do caminho e da verdade, em mim toda a esperança da vida e da virtude.” (v. 25)
21º dia: domingo, 15 de março – Sabedoria e maldade
Medite em Eclesiástico 25 e 26
É preciso ler nas palavras de Jesus Ben Sirac, o autor do livro, não apenas o perfil da malícia de uma mulher, mas, igualmente do homem. Ambos precisam vencer a si mesmos, superando a maldade, a cólera, preguiça e todos os demais frutos do pecado. Homem e mulher participam igualmente da graça e, infelizmente, da desgraça. Ambos fazem deste mundo um lugar melhor de se viver e ambos o depredam, ferem, destroem. Diante de tudo isto, cada um olhe para si mesmo e veja se suas ações e palavras produzem e conduzem à vida ou à morte. Isto é sabedoria.
Para guardar: “Feliz o homem que recebeu o dom do temor a Deus.” (25, 15)
22º dia: segunda-feira, 16 de março – Sabedoria e a Regra de Ouro
Medite em Eclesiástico 27
Aquilo que se lança ao alto é o que cai. Se coisas boas são lançadas, são elas que voltarão. Se praticada a maldade, ela que retornará. Tudo na vida tem um efeito bumerangue. Então, cuide daquilo que você tem lançado por aí. Este é um princípio básico de sabedoria e deve orientar nossos atos e palavras. É o primeiro nível do mandamento do amor. Uma frase utilizada no mundo inteiro desde a antiguidade diz: “Não faça aos outros o que você não quer seja feito a você”. É a chamada “Regra de Ouro”. Jesus a corrige de uma forma propositiva: “Assim, em tudo façam aos outros o que vocês querem que eles lhes façam” (Mt 7, 12). Pense nisso.
Para guardar: “Quem lança uma pedra no ar, a vê recair sobre sua cabeça.” (v. 28)
23º dia: terça-feira, 17 de março – Sabedoria e vingança
Medite em Eclesiástico 28
O tema da língua é recorrente em quase todo o livro do Eclesiástico, como você já deve ter percebido. Lembro aqui um texto do apóstolo Tiago: “De uma mesma boca procedem a bênção e a maldição. Não convém, meus irmãos, que seja assim” (Tg 3, 10). Como hoje se fala de vingança, é importante lembrar que uma forma como se costuma muito discretamente vingar-se do outro é através da língua: comentar sobre a pessoa, denegrir a sua imagem, depreciar seu valor, etc. Você é dado à vingança? Como, ao mesmo tempo, ser sábio e vingativo?
Para guardar: “Aquele que quer vingar sofrerá a vingança do Senhor.” (v. 1)
24º dia: quarta-feira, 18 de março – Sabedoria e os apegos
Medite em Eclesiástico 29 Dia de Jejum
Não é muito incomum que nos apeguemos às pessoas e às coisas. Talvez esta seja uma das principais dificuldades que temos no seguimento de Jesus. Não que Ele esteja disputando nosso coração com as pessoas que amamos ou coisas que para nós são importantes. Mas é que muitas vezes confundimos amor com apego; e não só com pessoas, mas com coisas. Um dos exemplos clássicos é a belíssima passagem do chamado “jovem rico” (Mc 10, 17-31). Não obstante o amor de Jesus, ele optou por suas riquezas. Medite, também hoje, neste Evangelho.
Para guardar: “O homem de bem responsabiliza-se pelo próximo.” (v. 19)
25º dia: quinta-feira, 19 de março – Sabedoria, família e saúde
Medite em Eclesiástico 30 – Solenidade de São José
Creio que dentre as orações expedidas aos céus, se os Anjos nos apresentassem uma pesquisa, dir-nos-iam que os dois principais pedidos são pela família e pela saúde. Você concorda comigo? Quando estes dois elementos estão comprometidos em nós, não é muito difícil que as pessoas se entreguem à tristeza. Este capítulo trata, de alguma forma destes três elementos: família (educação dos filhos), saúde e tristeza. Como precisamos de sabedoria para saber administrar tais áreas. Não podem se resumir a pedidos que fazemos a Deus; precisam se tornar atitudes. Lembre-se…
Para guardar: “A tristeza matou a muitos, e não há nela utilidade alguma.” (v. 25)
26º dia: sexta-feira, 20 de março – Sabedoria e sobriedade
Medite em Eclesiástico 31 e 32 Dia de Jejum
Ser uma pessoa moderada hoje tornou-se estilo de vida. A sobriedade que sempre foi um dos pilares da vida espiritual, nas mais diversas tradições religiosas, tornou-se quase que uma exigência de saúde, não só pessoal, mas pública. Morre-se e mata-se por falta de sobriedade: comer demais, beber demais, fora as dependências químicas que se multiplicam. Para nós, não é só uma questão de saúde, mas de equilíbrio, de liberdade, de respeito ao outro e a Deus. É uma questão de sabedoria!
Para guardar: “Não te metas num caminho escabroso, para não pores diante de ti uma pedra de tropeço.” (32, 25)
27º dia: sábado, 21 de março Sabedoria e partilha
Medite em Eclesiástico 33
Ao ser humano Deus submeteu todas as realidades criadas para que pudesse administrá-las de forma justa e em harmonia. Quando há justiça e espírito de partilha, não há indigentes. Não há no mundo falta de alimento para milhões que morrem de fome; há falta de partilha, acúmulo, desigualdade. Mas não é preciso olhar para o outro lado do continente para se perceber isto ou mesmo na casa vizinha. O que hoje eu preciso partilhar? Em que preciso sair de mim mesmo para ser mais justo e fraterno?
Para guardar: “Olhai que não trabalhei só para mim.” (v. 18)
28º dia: domingo, 22 de março – Sabedoria e proteção divina
Medite em Eclesiástico 34
Neste capítulo está um texto que costumo proclamar quando vou abençoar – benzer – a casa de alguém (vv. 14-20). Você poderá proclamá-lo profeticamente sobre sua casa. Lembro-lhe que benzer tem dois sentidos que se complementam: bendizer a Deus e evocar a bênção. Tome tudo em ação de graças a Deus, como fonte do que temos e somos. Este é o sentido de sacrifício (tornar sagrado). Seja abençoado e torne sua vida uma fonte de bênçãos para aqueles que dela compartilham.
Para guardar: “Fui libertado pela graça de Deus.” (v. 13)
29º dia: segunda-feira, 23 de março – Sabedoria e sacrifício
Medite em Eclesiástico 35 e 36
Há uma relação direta entre oração e sacrifício. Oferecer sacrifícios ao Senhor – dentre eles, o Dízimo, como nos aponta a Palavra (vv. 10-13) – é expressão de uma confiança que brota da vida de oração e também reconhecimento de que tudo que nos chega é fruto da graça divina. A sabedoria cultiva-se na oração perseverante, comunica-se no sacrifício oferecido e faz-se doação no serviço fraterno.
Para guardar: “O sacrifício do justo é aceito por Deus. O Senhor não se esquecerá dele.” (35, 9)
30º dia: terça-feira, 24 de março – Sabedoria e conselheiros
Medite em Eclesiástico 37
“As más companhias corrompem os bons costumes”, alerta-nos Paulo em 1Cor 15, 33. As Escrituras não estão nos ensinando a discriminar ninguém, mas a mantermos a atenção sobre quem costumamos ouvir, quem são nossos conselheiros (mesmo que eles assim não sejam chamados ou considerados). O que costumamos ouvir frequentemente é o que vai moldando nosso pensar e nosso sentir. A Palavra hoje vem nos alertar sobre isso. A quem você tem dado ouvidos e para quem os tem fechado? É princípio de sabedoria saber discernir sobre este ponto.
Para guardar: “Fortalece em ti um coração prudente.” (v. 17)
31º dia: quarta-feira, 25 de março – Sabedoria, enfermidade e morte
Medite em Eclesiástico 38 – Solenidade da Anunciação do Senhor Dia de Jejum
Duas realidades que nos tocam muito de perto: enfermidade e morte; tanto a nossa como de nossos queridos. Realidades que mostram nossa finitude e põem a descoberto e em cheque toda prepotência. Diante das duas é preciso adquirir um profundo sentimento de humildade e gratidão por aqueles que nestas horas se fazem próximos e são amorosos canais da Bondade divina. É preciso afastar o medo diante do sofrimento e da morte e alimentar na alma, por um lado, uma atitude de profunda confiança e, por outro, uma atitude de solidariedade. Neste dia em que se celebra a Anunciação do Senhor, suplique, em especial, a bênção de Nossa Senhora sobre você e os seus.
Para guardar: “Ora ao Senhor que te curará.” (v. 9)
32º dia: quinta-feira, 26 de março – Sabedoria e paciência
Medite em Eclesiástico 39
Toda precipitação é contrária à verdadeira sabedoria. Não se pode confundir precipitação com agilidade. O precipitado age por impulso, o ágil realiza por experiência. Este é o sentido da paciência. Convido você a lançar um olhar sereno sobre sua vida. Tudo tem seu tempo e o próprio tempo é apenas um lampejo diante da eternidade. Portanto, paciência. Como vivemos na cultura do instantâneo, vai ficando cada vez mais difícil ter esta percepção. Mas não há caminho de sabedoria sem o enraizamento desta consciência.
Para guardar: “Todas as coisas serão achadas boas a seu tempo.” (v. 40)
33º dia: sexta-feira, 27 de março – Sabedoria, fardos e cruz
Medite em Eclesiástico 40 Dia de Jejum
Nem sempre dá para se livrar de alguns fardos. Jesus que disse: “Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei” (Mt 11, 28), também disse: “Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me” (Mt 16, 24). Dá para perceber que fardo e cruz são realidades bem diferentes. Sábia é a pessoa que vai aprendendo a discernir, pelo menos em parte, o que é um e o que é outra. Fardos são para serem deixados; a cruz é para ser carregada.
Para guardar: “Tudo que vem da terra voltará à terra.” (v. 11)
34º dia: sábado, 28 de março – Sabedoria e vergonha
Medite em Eclesiástico 41 a 42, 14
Ter vergonha na cara! Esta é uma expressão forte que pode chocar, de saída, alguém que esteja fazendo esta meditação, mas é uma expressão bem usual para se falar tanto dos que são honestos, íntegros, justos, corretos, quanto dos que não o são. Do que se deve ter vergonha e do que não se deve envergonhar. Deve-se ter vergonha de tudo aquilo que prejudica o outro, que avilta o seu direito, que o denigre ou machuca, de fazer do erro uma norma de vida, mesmo que isto possa parecer aceitável socialmente. Por outro lado, o discípulo, que sempre deve se guiar por esta norma, não pode se envergonhar de seu Senhor: “Se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras, também o Filho do homem se envergonhará dele, quando vier na sua glória, na glória de seu Pai e dos santos anjos” (Lc 9, 26).
Para guardar: “Não te envergonhes da lei e da aliança do Altíssimo.” (42, 2)
35º dia: Domingo de Ramos, 29 de março – Sabedoria e contemplação
Medite em Eclesiástico 42,15 a 43
O escritor sagrado contempla a natureza e vê em tudo a manifestação da glória, da majestade e da sabedoria de Deus. Chega mesmo a afirmar “Ele é tudo!” (43, 29). Não que tudo seja Deus, mas Deus é tudo: é origem, fonte, razão de tudo ser e existir. Será que o Universo mudou muito desde quando este Livro foi escrito? Certamente que não, tendo em vista os bilhões e bilhões de anos deste mesmo Universo. Será que Bem Sirac contemplou muitas coisas diferentes de nós? Creio que não. Por que, então, nem todos têm o mesmo olhar maravilhado? Porque os olhos estão fechados; porque a alma ainda não se abriu para reconhecer que há por trás de todas as coisas um Criador. Como é seu olhar?
Para guardar: “O Senhor fez todas as coisas: Ele dá sabedoria àqueles que vivem com piedade.” (43, 37)
36º dia: Segunda-feira Santa, 30 de março – Sabedoria e chamado
Medite em Eclesiástico 44 e 45
Contemple com reverência todos os grandes personagens de nossa História da Salvação. Não são personagens fictícios, mas homens e mulheres de Deus, que, escolhidos por Ele, aprenderam a caminhar na fé, a superar as dificuldades, a enfrentar as mais diversas lutas, a perseverar firmemente no caminho, mesmo quando tudo parecia incerto. Não são diferentes de nós em sua natureza. Somos chamados, em nosso Batismo, a sermos servos e servas, também com nossas fraquezas e limitações. Seja generoso em sua resposta. Deixe que Deus use você em sua obra. Ele irá honrar a sua fé.
Para guardar: “O Senhor mesmo é o quinhão de sua herança.” (45, 27)
37º dia: Terça-feira Santa, 31 de março – Sabedoria e o cultivo da visão
Medite em Eclesiástico 46 e 47
Josué e Caleb: dois dos homens de Deus que mais admiro no Antigo Testamento. Eram muito jovens quando saíram do Egito com Moisés e, tendo entrado em Canaã para observá-la, foram os únicos capazes de fixar, na fé, a visão de que o povo poderia conquistar aquela terra. Mas o povo temeu e teve de peregrinar quarenta anos pelo deserto. Mesmo assim, Josué e Caleb não perderam a visão. Com cada um destes homens elencados na Palavra, de características pessoais tão diversas, aprendemos muito em nosso peregrinar. Peça ao Senhor que confirme, pelo exemplo que deram, sua própria trajetória de fé.
Para guardar: “Foste amado na tua paz.” (47, 17)
38º dia: Quarta-feira Santa, 1º de abril – Sabedoria e sacramentos
Medite em Eclesiástico 48 e 49 Dia de Jejum
Em Elias, coragem e medo conjugam-se em sua humanidade. Mas diante do medo e depressão Deus ofereceu-lhe um alimento que o fez restaurar-se e caminhar até o Horeb. A você, Jesus dá a Eucaristia. Eliseu provou a resistência do povo que endureceu o coração e não se converteu. A você, Jesus dá a Confissão. Ezequias exerceu seus dons em vista do povo e foi, assim um grande rei. A você, Jesus dá o Espírito Santo e seus carismas. Os profetas foram, todos eles, sinais de Deus na época e no lugar onde viveram. A você, Jesus dá o Batismo e a Crisma, para que seja profeta, sacerdote e rei.
Para guardar: “Fiel aos olhos do Senhor.” (48, 25)
39º dia: Quinta-feira Santa, 02 de abril – Sabedoria e o sacerdócio
Medite em Eclesiástico 50
“Temos um grande Sumo sacerdote que penetrou nos céus, Jesus, Filho de Deus. Conservemos firmes a nossa fé” (Hb 4, 14). Do sacerdócio único de Jesus nasce o sacerdócio católico. Assim diz o Decreto Presbyterorum Ordinis do Concílio Vaticano II: “O ministério dos sacerdotes, enquanto unido à Ordem episcopal, participa da autoridade com que o próprio Cristo edifica, santifica e governa o seu corpo. Por isso, o sacerdócio dos presbíteros, supondo, é certo, os sacramentos da iniciação cristã, é, todavia, conferido mediante um sacramento especial, em virtude do qual os presbíteros ficam assinalados com um caráter particular e, dessa maneira, configurados a Cristo sacerdote, de tal modo que possam agir em nome de Cristo cabeça”. Reze hoje, nesta Quinta-feira santa em que se faz memória da Instituição do Sacerdócio Católico, por todos os sacerdotes, especialmente aqueles que têm sido fonte de bênçãos em sua vida.
Para guardar: “Ele cuidou do seu povo, libertou-o da perdição.” (v. 4)
40º dia: Sexta-feira Santa, 03 de abril – sabedoria e redenção
Medite em Eclesiástico 51 Dia de Jejum e abstinência de carne
Neste dia em que celebramos a paixão e morte do Senhor, contemple na oração de outro Jesus – filho de Sirac, autor do Eclesiástico – a oração de Jesus, sumo e eterno sacerdote, diante do Pai do céu. Ele clama por nós e nos faz participantes da vida, tendo mergulhado nas trevas mais densas de nossa humana natureza. Tenha com você a cruz. Contemple-a. Foi por você, por amar você. Ao final desta nossa jornada interior, peça sempre e mais o dom da sabedoria. Comprometa-se em buscá-la e cultivá-la no seu dia a dia. É preciso buscar enquanto é tempo!
Para guardar: “Cumpri vossa tarefa antes que o tempo passe e, no devido tempo, Ele vos dará a recompensa.” (v. 38)
Apêndice
PASSOS PARA UMA VIDA SÁBIA
“O Senhor apareceu a Salomão em sonhos em Gabaon durante a noite, e disse-lhe: Pede-me o que queres que eu te dê.
Salomão disse: Vós destes com liberdade vossa graça ao vosso servo Davi, meu pai, porque ele andou em vossa presença com fidelidade, na justiça e retidão de seu coração para convosco; em virtude dessa grande benevolência, destes-lhe um filho que hoje está sentado no seu trono.
Sois vós, portanto, ó Senhor meu Deus, que fizestes reinar o vosso servo em lugar de Davi, meu pai. Mas eu não passo de um adolescente, e não sei como me conduzir.
E, sem embargo, vosso servo se encontra no meio de vosso povo escolhido, um povo imenso, tão numeroso que não se pode contar, nem calcular.
Dai, pois, ao vosso servo um coração sábio, capaz de julgar o vosso povo e discernir entre o bem e o mal; pois sem isso, quem poderia julgar o vosso povo, um povo tão numeroso?
O Senhor agradou-se dessa oração, e disse a Salomão:
Pois que me fizeste esse pedido, e não pediste nem longa vida, nem riqueza, nem a morte de teus inimigos, mas sim inteligência para praticar a justiça, vou satisfazer o teu desejo; dou-te um coração tão sábio e inteligente, como nunca houve outro igual antes de ti e nem haverá depois de ti.” (1Rs 3, 5-12)
Quantas e quantas vezes, no nosso dia a dia, precisamos ter sabedoria para tomarmos decisões, solucionarmos problemas, darmos uma palavra de conforto ou uma resposta adequada. Parece que a cada minuto de nossa vida temos que tomar decisões e, muitas vezes, elas são realmente difíceis.
Então o que devemos fazer para adquirir sabedoria?
Vejamos como um personagem do Antigo Testamento adquiriu sabedoria e sigamos os seus passos para poder adquiri-la.
SALOMÃO, UM HOMEM SÁBIO
Há mais ou menos uns três mil anos atrás, era rei de Israel, Salomão, o filho de Davi.
Quando ele se tornou rei, era jovem e sem nenhuma experiência. Mas ele teve sabedoria ao dar o primeiro passo em direção à sabedoria – ele recorreu ao Senhor – e isto é o que eu e você devemos fazer. Deus atendeu ao pedido de Salomão e deu a ele não apenas sabedoria, mas também riqueza.
Salomão foi o homem mais sábio que já viveu aqui na terra (com exceção de Jesus). Ele é conhecido como o homem que escreveu 3 mil provérbios e 1005 cânticos (1Rs 4, 32).
O CAMINHO DA SABEDORIA
Para viver bem, eu preciso de sabedoria. Lendo o livro do sábio Salomão, Provérbios, devemos descobrir alguns passos que nos levarão até à sabedoria.
Passo 1: Precisamos desejar a sabedoria.
Passo 2: Devemos orar pedindo sabedoria.
Passo 3: Devemos procurar a sabedoria.Passo 4: Devemos crescer na sabedoria.
PASSO 1: PRECISAMOS DESEJAR A SABEDORIA
Preciso desejar a sabedoria acima de todas as coisas, pois, sendo uma pessoa sábia, posso ter a solução para muitos problemas que se apresentarem.
a) Sendo sábio, coloco todos os meus problemas, decisões, amarguras aos pés do Senhor e, assim, Ele irá dar a direção ao que necessito. Agindo assim, eu não procuro tudo por mim mesmo, mas tudo entrego nas mãos de Jesus.
b) Sendo sábio, leio diariamente a Palavra de Deus para conhecer a Sua vontade em minha vida. E, sendo sábio, eu obedeço.
c) Sendo sábio, tenho meus momentos de oração com o Senhor que me criou e me amou antes mesmo que eu O conhecesse e amasse.
PASSO 2: DEVEMOS ORAR PEDINDO SABEDORIA
Vejamos o exemplo do próprio Salomão que orou ao Senhor pedindo sabedoria: “Dignai-vos, portanto, conceder-me a sabedoria e a inteligência, a fim de que eu saiba como me conduzir à frente desse povo” (2Cr 1, 10).
Salomão não pediu para ter um bom casamento, nem riqueza, nem filhos bons, pois tudo isto vem como consequência da sabedoria; tudo isto está ligado à sabedoria.
O que você tem pedido em suas orações? Não é errado orar por todas estas coisas, mas certifique-se de que você está orando pela única coisa que produzirá todas as outras: “Meu filho, se acolheres minhas palavras e guardares com carinho meus preceitos, ouvindo com atenção a sabedoria e inclinando teu coração para o entendimento; se tu apelares à penetração, se invocares a inteligência, buscando-a como se procura a prata; se a pesquisares como um tesouro, então compreenderás o temor do Senhor, e descobrirás o conhecimento de Deus, porque o Senhor é quem dá a sabedoria, e de sua boca é que procedem a ciência e a prudência. Ele reserva para os retos a salvação e é um escudo para os que caminham com integridade; protege as sendas da retidão e guarda o caminho de seus fiéis” (Pr 2, 1-8).
Peça sabedoria ao Senhor, humildemente como fez Salomão (1Rs 3, 8), e não impondo e achando que Deus tem obrigação de no-la dar (esta é a atitude de alguns fanáticos de determinadas seitas).
“Se alguém de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus – que a todos dá liberalmente, com simplicidade e sem recriminação – e ser-lhe-á dada” (Tg 1, 5).
PASSO 3: DEVEMOS PROCURAR A SABEDORIA
“Se como a prata a buscares e como a tesouros escondidos a procurares, então entenderás o temor do Senhor, e acharás o conhecimento de Deus.” (Pr 2, 4-5)
Ao observarmos um mineiro, vemos que para ele conseguir pedras preciosas, ouro e prata, é preciso muito suor, lágrimas e até mesmo sangue. O verdadeiro tesouro não está exposto e não é tão fácil de se conseguir. Ele está escondido, esperando para ser descoberto.
Mas Deus mostra-nos, através de Salomão no livro de Provérbios (2, 6) como procurar esta sabedoria: “Porque o Senhor dá a sabedoria; da sua boca é que vem o conhecimento e o entendimento.” Aqui está a maior pista para que encontremos a sabedoria tão difícil de se conseguir: ela está na Bíblia!
Como está sua busca pela sabedoria? Você tem lido sua Bíblia diariamente?
Você está – assim como faz o boi quando se alimenta – ruminando a Palavra de Deus? Ou, apenas, faz sua obrigação diária, lendo rapidamente e superficialmente os tesouros que estão escondidos nas Sagradas Escrituras?
PASSO 4: DEVEMOS CRESCER NA SABEDORIA
Para crescermos na sabedoria devemos desejá-la ardentemente, orar para adquiri-la e procurá-la de todo o coração.
Salomão serviu-nos de exemplo nestes três primeiros passos para adquirir a sabedoria, no entanto, ele fracassou terrivelmente neste passo 4. Por ter se casado com mulheres ímpias, estrangeiras, ele cometeu o pecado da idolatria e isto não foi um passo digno de um homem sábio. No final, Salomão deixou de obedecer a Deus, negligenciou o seu crescimento na sabedoria e silenciosamente desapareceu das páginas das Escrituras. Infelizmente, até hoje, ele é conhecido não apenas pela sabedoria que Deus lhe deu, mas também como o homem que teve ‘setecentas esposas e trezentas concubinas.” (1Rs11, 3).
O crescimento na sabedoria deriva-se de uma abertura cada vez mais crescente ao Espírito Santo e também pelo reforço obtido através de atitudes sábias. Atitudes sábias geram outras atitudes sábias.
Oração para pedir sabedoria
Concede-me, Deus misericordioso, que deseje com ardor o que Tu aprovas, que o procure com prudência, que o reconheça em verdade, que o cumpra na perfeição, para louvor e glória do teu nome.
Põe ordem na minha vida, ó meu Deus, e permite-me que conheça o que Tu queres que eu faça, e que o cumpra como é necessário e útil para a minha alma. Que eu chegue a ti, Senhor, por um caminho seguro e reto; caminho que não se desvie nem na prosperidade nem na adversidade, de tal forma que te dê graças nas horas prósperas e nas adversas conserve a paciência, não me deixando exaltar pelas primeiras nem abater pelas segundas. Que nada me alegre ou entristeça, exceto o que me conduza a ti ou de ti me separe. Que eu não deseje agradar nem receie desagradar senão a ti. Tudo o que passa se torne desprezível a meus olhos por tua causa, Senhor, e tudo o que te diz respeito me seja caro, mas tu, meu Deus, mais do que o resto. Que eu nada deseje fora de ti.
Concede-me, Senhor meu Deus, uma inteligência que te conheça, uma vontade que te busque, uma sabedoria que te encontre, uma vida que te agrade, uma perseverança que te espere com confiança e uma confiança que te possua, enfim. Concede-me ser atormentado com as tuas dores pela penitência, recorrer no caminho aos teus benefícios pela graça, gozar das tuas alegrias, sobretudo na pátria, pela glória. Tu que vives e reinas pelos séculos dos séculos. Amém.
São Tomás de Aquino
Faremos a entrega deste tempo de jejum e oração no Domingo de Páscoa, dia 05 de abril, participando da Procissão da Ressurreição com o Santíssimo Sacramento, às 18h30, saindo da Capela de São Roque até à Matriz, onde acontece a Solene Missa da Páscoa!
Neste dia, não se esqueça de trazer pelo menos UM QUILO DE ALIMENTO NÃO PERECÍVEL para partilhar com nossos irmãos mais carentes e CONSAGRAR O SEU DÍZIMO como sinal concreto de seu compromisso com o Senhor e a Comunidade.
Um abençoado Caminho Quaresmal e FELIZ PÁSCOA!
Saúde e Paz!