Nossa Igreja de Santo Afonso, em breve (2027), completará 120 anos de sua inauguração, pelo renomado Cardeal Arcoverde. Mas foi no ano de 1949 que ela foi erigida à condição de Paróquia. É tempo de memória e isso me remete a alguns textos bíblicos.
O primeiro é o chamado que Deus faz a Abraão (Gn 12, 1-9). Deus entregou a ele uma promessa e disse “vai” e assim fez Abraão: seguiu em frente, confiado na promessa do Senhor e também entregue à tarefa de transformá-la em realidade.
O segundo texto é igualmente forte e traz uma mensagem muito clara. Creio que você conhece a história da mulher de Lot, que virou uma “estátua de sal” (Gn 19, 26). Diante do recrudescimento crescente na iniquidade do povo de Sodoma e Gomorra, Deus disse que destruiria a cidade e poupou Lot e toda sua família da destruição, mas exortando firmemente que, ao saírem da cidade, não olhassem para trás. A mulher de Lot não atendeu à exortação e tornou-se uma “estátua de sal”. Esta cena tornou-se símbolo daqueles que não conseguem libertar-se do passado e não olham com esperança para o futuro, ainda que incerto.
Um terceiro texto vem do Livro das Lamentações (Lm 3, 19-24). Foi escrito no contexto do exílio da Babilônia, numa época de muito sofrimento. Ainda que houvesse muitas dores, o escritor sagrado resgata a motivação para não se deixar vencer pelo desespero. Gosto dessa tradução: “Lembro-me bem disso tudo, e a minha alma desfalece dentro de mim. Todavia, lembro-me também do que pode dar-me esperança…” (Lm 3, 20-21).
Por fim, um quarto texto que brota do grande difusor da Fé Cristã, o apóstolo Paulo, em Filipenses 3, 12-16: “Não pretendo dizer que já alcancei (esta meta) e que cheguei à perfeição. Não. Mas eu me empenho em conquistá-la, uma vez que também eu fui conquistado por Jesus Cristo. Consciente de não tê-la ainda conquistado, só procuro isto: prescindindo do passado e atirando-me ao que resta para a frente, persigo o alvo, rumo ao prêmio celeste, ao qual Deus nos chama, em Jesus Cristo. Nós, mais aperfeiçoados que somos, ponhamos nisso o nosso afeto; e se tendes outro sentir, sobre isto Deus vos há de esclarecer. Contudo, seja qual for o grau a que chegamos, o que importa é prosseguir decididamente.”
Perceba que o sentido de “memória” na Bíblia – como está bem demonstrado nos textos supracitados – não significa voltar ao passado ou ater-se a ele, tanto nas suas dores e dificuldades, quanto nas suas conquistas. Ao contrário, é um olhar redimido que enxerga o caminho percorrido, num espírito de gratidão e esperança, e se lança à frente, com o risco de tornar-se uma “estátua de sal”, quando se para no tempo. Certamente, não é esse o desejo de Deus para nós.
Portanto, celebrar esses 75 anos é reconhecer o que Deus fez por nós, dar graças por sermos aqueles que Ele quis que estivessem aqui e agora e lançar as bases para o que virá, pois “o que importa é prosseguir decididamente.”.
Para mim, é uma graça estar aqui como pároco nesse momento histórico. Eu estava no Rio, quando comemoramos os 50 anos de Paróquia. Imagine: já se passaram vinte e cinco anos desde então. Muita coisa mudou. Eu mudei. Mas de uma coisa estou convicto: tenho muito amor a essa Casa, procuro dar o melhor na missão que me foi confiada, mas sei que sou limitado e que nunca conseguiria nada sozinho; é uma obra conjunta com os Redentoristas e essa imensa Comunidade que acredita na Obra de Evangelização entre nós.
Nós iremos continuar a fazer história, pois é o Espírito Santo quem orquestra essa Obra! Que venha, pois, o futuro. Vamos seguir em frente, sem deter nosso olhar no que já passou!