“Cheio do Espírito Santo, voltou Jesus do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto, onde foi tentado pelo demônio durante quarenta dias.” (Lc 4, 1-2a)
Também nós queremos que o Espírito Santo nos conduza ao deserto! Na tradição bíblica, como nos primeiros séculos da Igreja, o deserto é considerado um lugar especial de encontro com Deus: “Por isso a atrairei, conduzi-la-ei ao deserto e falar-lhe-ei ao coração” (Os 2, 16).
Ir ao deserto com Jesus durante este tempo de quaresma – ou outro tempo que você mesmo eleger (não necessariamente a Quaresma) – é colocar-se no firme propósito de ter um encontro com Deus e com nossa própria verdade. O deserto não é um lugar, mas uma disposição espiritual.
Os “demônios” que precisamos enfrentar estão, antes de tudo, dentro de nós. São nossos próprios traços de personalidade, inclinações, atitudes que precisam ser reconciliados ou até mesmo vencidos, “exorcizados” para vivermos sob a Vontade de Deus.
Uma batalha que se trava no decorrer de toda a vida. Sempre precisaremos de mudança, conversão. Ninguém se sinta pronto por ter percorrido um determinado trecho de sua senda espiritual. Sempre haverá a necessidade de se colocar novamente a caminho, de se confrontar, de mudar, de crescer. É tarefa de uma vida inteira.
É preciso ainda lembrar que, sem a graça de Deus, toda ascese (disciplina espiritual) é vã. A iniciativa é de Deus! É o Espírito Santo quem conduz Jesus ao deserto. “Porque é Deus quem segundo o seu beneplácito, realiza em vós o querer e o executar.” (Fp 2, 13)
Entre no deserto! Mas entre com a determinação de abrir-se à Palavra e à Graça de Deus. Ninguém julgue estar pronto para essa empreitada por si mesmo. Não temos que provar nada a Deus. Não temos que “obrigá-lo” a fazer algo por nós, pois suas ações em nosso favor são sempre amorosas. O jejum é uma prática voltada para nosso crescimento e não para um Deus que exige sacrifício. Jesus já realizou o único e definitivo sacrifício, oferecendo-se por todos nós na cruz (Hb 10, 10).
Os 40 DIAS nos lembram os 40 dias que Jesus esteve no monte das tentações. O tempo dedicado ao jejum é reservado para buscar o Senhor, mesmo em meio às atividades cotidianas. Em Mt 6, 1-18, vemos como Jesus indica o jejum, a oração e a esmola (a solidariedade com os mais pobres) como sinais característicos da vida de um cristão fiel. Em alguns momentos de decisão, porém, somos convocados a intensificar nossa comunhão com o Senhor.
Outro fator importante em um tempo de jejum é o propósito que nos move a fazê-lo. Um jejum sem propósito definido é como vagar num túnel escuro, sem saber de onde ou para onde se vai. Olhando as Sagradas Escrituras, encontraremos muitas razões que levaram as pessoas ao jejum. Se vamos jejuar temos que ter objetivos firmes e claros pelos quais lutar: – Estar com Deus; receber sua Palavra e alguma orientação concreta; interceder por alguém ou alguma situação; fortalecer-se no ministério que Deus quer confiar a você; enfrentar o “inimigo” e suas tentações, solidarizarmo-nos com os mais pobres, etc…
Jejuaremos às SEXTAS-FEIRAS, durante o período de nosso Caminho Quaresmal, como estará indicado no roteiro à frente. Mas, durante os 40 dias, procure fazer alguma abstinência que o ajudará em sua disciplina pessoal. Além disso, evitando extravagâncias, vamos escolher entre duas opções:
– Iniciar a alimentação diária só a partir das 12h, ou simplesmente cortar uma das refeições do dia.
Cuidado somente para não “descontar” na próxima refeição para compensar o que não foi comido. Pessoas que fazem uso de medicação devem estabelecer o jejum em conformidade com o horário dos remédios, bem como aquelas com problemas de pressão alta, diabetes ou outro tipo de limitação de saúde ou restrição alimentar podem fazer jejum de televisão, conversas ou outras coisas. Mas lembre-se: inicialmente o jejum consta de algum sacrifício na alimentação.
“Eu sou judeu, de Tarso da Cilícia, cidadão de uma cidade de renome (At 21,39), circuncidado ao oitavo dia, da raça de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu, filho de hebreus. Segundo a Lei, fariseu… Pela justiça da Lei, considerado irrepreensível” (Fl 3,5-6).
Assim, Saulo de Tarso se apresenta. Foi um jovem piedoso, formado nas tradições mais severas do judaísmo e, ainda que tenha nascido em Tarso, foi, na sua adolescência, enviado a Jerusalém para fazer seus estudos rabínicos na renomada escola de Gamaliel (At 22, 3). Tornou-se um radical membro do farisaísmo, perseguindo todas as manifestações de grupos considerados heréticos pelos rigorosos conservadores da Lei e sua ritualística.
Homem de personalidade forte, íntegro, ainda que extremamente rígido, considerava que acabar com as seitas, que pululavam na época, era um serviço prestado a Deus. Foi assim que se deu a morte de Estêvão, um levita piedoso que, convertido ao Rabi Jesus, tornou-se uma ameaça para a religião oficial. Saulo fora enviado para sufocar essa “seita” que crescia e testemunhou o apedrejamento de Estêvão: “E Saulo havia aprovado a morte de Estêvão” (At 7, 54 – 8, 1).
Tudo parecia cheio de êxito e Saulo sentia-se feliz por realizar o que julgava ser para glória de Deus. Chegara o momento, agora, de continuar sua missão em outra região: Damasco. Ele mesmo irá nos descrever sua experiência, no 1º Dia de nosso Caminho Quaresmal.
O ano era 34 d.C. Trinta e três anos seguiram-se numa jornada que passou por inúmeras cidades até sua Páscoa definitiva, sendo decapitado, no ano 67 d.C. “Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. Desde já me está reservada a coroa da justiça, que o SENHOR, justo juiz, me dará o Senhor naquele Dia, e não somente a mim mas a todos os que tiverem esperado com amor a sua Aparição” (2 Tim 4,7-8).
Nós não vamos percorrer a cronologia e nem a geografia de Paulo nesses 33 anos de missão apostólica, mas mergulhar em algumas das mensagens que ele nos deixou ao escrever às Comunidades da Galácia, Éfeso, Filipos e Colossos. Estima-se que Jesus viveu 33 anos. Paulo, depois de tanto perseguir o Senhor e seus discípulos, doou ao ministério o mesmo tempo de cada ano de vida de Jesus.
De Damasco a Roma, Paulo fez o seu êxodo até celebrar sua Páscoa. Nós também precisamos fazer nosso Êxodo. Deixemos que o Espírito Santo, através das palavras inspiradas do apóstolo, nos ajude a bem viver nossa Páscoa anual, até que chegue a Páscoa definitiva, nossa morte e ressurreição, em Cristo Jesus.
1º DIA: Segunda, 07 de março: PREDISPOR-SE
Medite: Atos 9, 1-19
Reflita: Foi em uma estrada onde Paulo encontrou Aquele que é “O Caminho”. Precisou ir ao chão, para levantar-se como um novo homem; precisou ficar cego para poder enxergar verdadeiramente; precisou jejuar, para provar o Pão do Céu; precisou sentir sede, para beber da Água Viva. Ali começava uma nova fase em sua vida. Foi revirado pelo avesso para poder tirar o excesso de si mesmo e apurar o ouro do dom de si, misturado à hipertrofia do seu ego. Procure colocar-se nessa jornada interior. Deixe que o Espírito, qual fogo, também possa trabalhar no seu interior para dele retirar todo excesso.
Reze: Espírito Santo, age em meu interior. Quantas vezes deixo que meu ego infle em mim e me desvie do amor verdadeiro. Depura o meu coração. Quero ir além de mim mesmo para descobrir o real sentido da minha vida: Jesus! Amém.
Guarde: “Saulo, meu irmão, o Senhor, esse Jesus que te apareceu no caminho, enviou-me para que recobres a vista e fiques cheio do Espírito Santo” (At 9, 17)
Pratique: Fique hoje sem tomar café (bebida) ou correspondente.
2º DIA: Terça, 08 de março: FIRMAR-SE
Medite: Gálatas 1, 1-23
Reflita: Não é difícil desviar-se do caminho e deixar que ideias adventícias cheguem e se instaurem, gerando confusão e, posteriormente, divisão. Paulo exortava a Comunidade da Galácia a respeito dessas ideias que começavam a penetrar entre os cristãos, semeando a dúvida. Em nossos dias, muito mais ainda, nos é necessário manter a vigilância, pois somos bombardeados de todos os lados por ideias e doutrinas estranhas. Não tenha medo, mas seja cauteloso. Quantos entram num caminho de dúvida por não conhecerem bem a doutrina católica. Firme-se na fé e afaste-se daquilo que o possa separar de Jesus.
Reze: Amado Senhor, Tu te entregaste por mim na Cruz e me constituíste herdeiro das promessas do Pai e coerdeiro com meus irmãos, como Igreja. Renuncio a toda doutrina estranha ao Evangelho e renovo minha fé em Ti. Confirma-a, pela força do Espírito Santo. Amém.
Guarde: “Se alguém pregar doutrina diferente da que recebestes, seja ele excomungado” (Gl 1, 9)
Pratique: Convictamente, reze o Credo, renunciando a tudo que possa separar você do Evangelho.
3º DIA: Quarta, 09 de março: UM SÓ CORPO
Medite: Gálatas 2, 1-14
Reflita: A unidade da fé não exclui as possíveis discordâncias e pensamentos diversos. Assim foi desde o início da Igreja, mas em todo tempo uma perspectiva é essencial: o diálogo, a busca comum da verdade e, consequentemente, o discernimento. Paulo foi essencial para que o Evangelho se difundisse entre os de origem não judaica. Deus, em cada momento da história, suscita os instrumentos necessários para confirmar a sua Obra, como temos, hoje, o Papa Francisco, com toda sua sabedoria, sendo um inequívoco sinal de Deus não só para a Igreja, mas também para todo o mundo. Diante de pontos de vista diferentes do seu, como você age? É firme e, ao mesmo tempo, também aberto ao diálogo?
Reze: Senhor Jesus, peço pela unidade em tua Igreja. Que haja respeito, fidelidade e capacidade de dialogar. Como Pedro e Paulo, que com perfis diferentes, amaram e se entregaram pela Igreja, assim possamos dar nossa vida por essa família espiritual que o Senhor nos deu. Amém.
Guarde: “Recomendaram-nos apenas que nos lembrássemos dos pobres, o que era precisamente minha intenção.” (Gl 2, 10)
Pratique: Separe algo para oferecer em caridade aos mais pobres.
4º DIA: Quinta, 10 de março: MEU RESPIRAR
Medite: Gálatas 2, 15-21
Reflita: Teremos efetivamente nos tornado discípulos de Jesus, membros de sua Igreja, quando pudermos afirmar algo à semelhança de duas músicas que muito aprecio. A primeira, de Pe. Jonas Abib: “Não dá mais pra voltar, o barco está em alto mar”. E, a segunda, do Grupo Venyard: “Este é meu respirar: teu Santo Espírito vivendo em mim. E este é o meu pão: tua vontade feita em mim”. Paulo, que havia sido o homem da Lei, convicto de que só na observação estrita da Lei Mosaica é que se podia agradar a Deus, tornou-se o apóstolo da Graça, ao experimentar e pregar que só pela fé se pode obter a Graça e, assim, a salvação. Ao olhar para sua vida, você acha que tanto faz ser cristão ou não? Ou sabe que sua vida não tem realmente sentido a não ser em Cristo Jesus?
Reze: Senhor, faço minhas as palavras de Pedro: a quem iremos, Senhor, somente Tu tens palavras de vida eterna (Jo 6, 68). Não viver contigo é abrir mão da minha existência. Eu existo, me movo e sou em Ti. Tu és a razão da minha jornada. Amém.
Guarde: “Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim.” (Gl 2, 20)
Pratique: Se possível, faça uma visita e adoração ao Santíssimo Sacramento.
5º DIA: Sexta, 11 de março: VIVER PELA FÉ
Medite: Gálatas 3, 1-18
Reflita: Crer em Jesus é muito mais que uma questão de crer em alguma coisa e se tornar uma pessoa boa; é acolher Aquele em quem fomos criados, somos redimidos e seremos admitidos ao céu, junto do Pai. Essa é a experiência da fé, à qual somos chamados a aderir. É claro que ninguém tem mérito em si por tal adesão; é pura graça de Deus que precisamos receber de coração aberto. Alimente sua fé, zele e vele por ela, não deixando-a enfraquecer. Para tanto, ore, medite na Palavra, viva em Comunidade. Essa é a exortação de Paulo à Comunidade da Galácia. Haviam recebido uma dádiva muito grande para que deixassem se confundir e, até, morrer. Será que não é isso que vemos acontecendo com alguns tantos servos e servas esmorecidos em seu serviço ou, até mesmo, abandonando a Comunidade e sua fé em Cristo?
Reze: Creio firmemente, Jesus, que em ti sou salvo, abençoado e favorecido por todas as dádivas que o Senhor, em sua Misericórdia, tem me dispensado. Sou agradecido por todos os teus favores. Quero comprometer-me contigo, em Ti viver e a Ti servir hoje e sempre. Amém.
Guarde: “Os homens de fé são abençoados com a bênção de Abraão, homem de fé.” (Gl 3, 9)
Pratique: Hoje é dia de jejum e abstinência de carne.
6º DIA: Sábado, 12 de março: A GRAÇA DO BATISMO
Medite: Gálatas 3, 19-29
Reflita: Quão grande graça nos foi concedida pelo Batismo. Você não “sente” nada, não há nenhum “efeito” aparente, mas a Graça está ali ou, melhor seria dizer, está aí, dentro de você, marca-o não apenas para o tempo, mas para a eternidade. Somos aquela sementinha que não sabe ainda que tem uma árvore inteira dentro de si. Temos mais do que uma “árvore” em nosso interior; temos um “pomar” inteiro adormecido – ou não – dentro de nós. E é pela fé que essa semente continua viva e, de alguma forma, já produzindo frutos de vida onde estamos. Já não se faz necessário um pedagogo externo. O pedagogo do Pai dado ao crente, o Espírito Santo, é que nos vai conduzindo e amadurecendo à medida que caminhamos. Qual o lugar que você dá à escuta do Espírito em seu interior?
Reze: Dou-te graças, Pai, pelo dom do meu Batismo. Em Jesus, eu fui feito filho, teu filho. Amado Jesus, Filho eterno do Pai, leva-me a essa intimidade em minha vida interior. Espírito Santo, clama mais uma vez meu coração: Abba, Pai, Paizinho. Amém.
Guarde: “Todos vós que fostes batizados em Cristo, vos revestistes de Cristo.” (Gl 3, 27)
Pratique: Abra mão de comer algo que estará à sua mesa.
7º Dia: Domingo, 13 de março: MARIA
Medite: Gálatas 4, 1-11
Reflita: Paulo diz que o Espírito clama em nosso coração: “Abba, Pai!” Aquilo que o Espírito faz na alma do cristão, certamente já sussurrava aos ouvidinhos da criança que crescia no ventre da Virgem Maria. E Nossa Senhora concebeu pelo poder do Espírito Santo. Posso imaginar esse mesmo Espírito falando ao coração da Mãe Santíssima: é o Filho do Altíssimo e é teu Filho, Maria! Nossa Senhora está na inauguração da plenitude dos tempos; não é uma casualidade, mas um Plano maior nascido de Deus e Maria estava nele. Ela é a nova mulher, a nova Eva, Mãe de todos os viventes nascidos pela Graça.
Reze: Saúdo-te, amada Mãe de meu Senhor e Salvador, Jesus Cristo, e nossa Mãe. O Espírito Santo que testemunha ao meu coração que sou filho, no Filho, Jesus, é (aquele) Aquele que moveu o Arcanjo Gabriel a reverenciar-te e, como ele, me leva a dizer: Ave Maria…
Guarde: “Quando veio a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, que nasceu de uma mulher…” (Gl 4, 4)
Pratique: Reze o terço de Nossa Senhora, meditando os mistérios gloriosos.
8ºDia: Segunda, 14 de março: ENTUSIAMO
Medite: Gálatas 4, 12-31
Reflita: Quero lembrá-lo que é fundamental, a cada dia de nosso Caminho Quaresmal, você parar, silenciar, invocar o Espírito Santo e começar sua meditação numa leitura atenta do texto bíblico. Leia uma primeira vez para tomar contato e vá voltando devagar, vendo onde Deus mais toca você. Não necessariamente será aquele tema ou versículo que eu destaquei. A meditação que faço é, na verdade, para ajudar você na sua jornada, mas, lembre-se, o caminho é você quem faz, sob a luz do Espírito Santo. É tempo de reforçar sua jornada interior.
Paulo refere-se ao entusiasmo. É bom lembrar que a palavra entusiasmo vem do grego e significa “ter Deus dentro de si”. Há muitas pessoas empolgadas pelo Evangelho, e não entusiasmadas. O empolgado é como o fogo de palha que logo se apaga; o entusiasmado, sustenta sua fé, seu amor e serviço a Deus e à Igreja nas circunstâncias diversas. Que tipo de cristão você é?
Reze: Espírito Santo, tu acendeste a chama da fé em mim e a tens mantido, mas eu sei que cabe a mim manter essa chama acesa. Quero perseverar em todas as circunstâncias e tempo. Não recuarei, não me afastarei, não me deixarei enganar nem por pessoas frívolas nem pelas armadilhas de minha mente. Assim creio, assim farei. Amém.
Guarde: “Onde está agora aquele vosso entusiasmo?” (Gl 4, 15)
Pratique: Dê o passo do Dízimo. Se você já é dizimista, avalie se o que você oferece é realmente o seu melhor.
9º Dia: Terça, 15 de março: FRUTOS
Dia de São Clemente Maria Hoffbauer, redentorista
Medite: Gálatas 5, 1-26
Reflita: O capítulo 5 da Carta aos Gálatas é dedicado à liberdade que a vida em Cristo nos dá. Paulo vai mostrando como nos tornamos livres ou escravos de hábitos, sentimentos, condutas. É nesse contexto que ele se refere aos “frutos do Espírito” e aos “frutos da carne”. O Papa Francisco em sua mensagem para a Quaresma desse ano nos diz: “Tal como a árvore se reconhece pelos frutos (cf. Mt 7, 16.20), assim também a vida repleta de obras boas é luminosa (cf. Mt 5, 14-16) e difunde pelo mundo o perfume de Cristo (cf. 2 Cor 2, 15). Servir a Deus, livres do pecado, faz maturar frutos de santificação para a salvação de todos (cf. Rm 6, 22)”. Não há pecador que não produza algum fruto bom e não há santo que não produza algum fruto da carne. Mas o que prepondera em nós? O que temos reforçado e dado espaço em nossa vida?
Reze: Espírito Santo, reconheço o fruto por excelência da tua presença em mim: o Amor. Quero, com tua ajuda, produzir frutos de alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura, temperança. Amém.
Guarde: “É para que sejamos homens livres que Cristo nos libertou.” (Gl 5, 1)
Pratique: É um momento favorável para um bom exame de consciência, a partir das palavras do apóstolo. Já vá pensando em sua confissão…
10º Dia: Quarta, 16 de março: NÃO SE CANSE DE FAZER O BEM
Medite: Gálatas 6, 1-18
Reflita: O Papa Francisco fez sua meditação para a Quaresma desse ano baseado em um trecho desse capítulo, como está indicado para que você guarde em seu coração. Deixemos que o próprio Francisco nos ajude a refletir: “São Paulo fala-nos dum kairós: um tempo propício para semear o bem tendo em vista uma colheita. Qual poderá ser para nós este tempo favorável? Certamente é a Quaresma, mas é-o também a nossa inteira existência terrena, de que a Quaresma constitui de certa forma uma imagem… Não nos cansemos de rezar; não nos cansemos de extirpar o mal de nossa vida; não nos cansemos de combater a concupiscência; não nos cansemos de fazer o bem, através de uma operosa caridade para com o próximo”.
Reze: Quero aprender de ti, Jesus, que és manso e humilde de coração a fazer o bem e nele perseverar. Abraço tua Cruz, como lugar de minha salvação e vitória. Nela está minha glória e minha força. Assim quero viver. Amém.
Guarde: “Não nos cansemos de fazer o bem; porque, a seu tempo colheremos, se não tivermos esmorecido. Portanto, enquanto temos tempo, pratiquemos o bem para com todos” (Gl 6, 9-10a).
Pratique: Reze com a Cruz junto de você. Procure fazer um gesto de forma bastante concreta que expresse o bem.
11º Dia: Quinta, 17 de março: PARA SERVIR
Medite: Efésios 1, 1-14
Reflita: Abençoados, escolhidos, predestinados, redimidos, enriquecidos, congregados, selados: são algumas adjetivações que vêm desse Hino Cristológico aplicadas àqueles que, pela fé, aceitaram Jesus como seu Senhor e Salvador. Esta é nossa herança, não como algo a acontecer, mas como herança já concedida. Diante dessas dádivas a serem reconhecidas, recebidas e agradecidas, o cristão é chamado a uma atitude: “servirmos à celebração de sua glória” (v. 12); ele deve colocar-se à disposição com tudo que é e tem. Esta é nossa correspondência, por tanto que recebemos. Você tem, de fato, se colocado numa atitude de serviço a Deus?
Reze: Sim, “bendito seja Deus Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que do alto do céu nos abençoou com toda bênção espiritual em Cristo”. Quero, Senhor, bendizer-te com meus lábios e com minha vida, com o que tenho e o que sou. É infinitamente maior o que recebi, diante do que posso oferecer. Recebe, Senhor. Amém.
Guarde: “Fostes selados com o Espírito Santo que fora prometido, que é o penhor da nossa herança!” (Ef 1, 13-14)
Pratique: Separe, ao menos, uma peça de roupa para doar a alguém (alguma entidade) que necessita.
12º Dia: Sexta, 18 de março: ESPÍRITO DE SABEDORIA
Medite: Efésios 1, 15-23
Reflita: Na meditação anterior, vimos o quanto profundamente fomos abençoados por Deus, em Cristo Jesus. Paulo louva a Deus pela fé manifestada pela Comunidade de Éfeso e roga que seja ainda mais robustecida pelo Espírito Santo. A vida cristã consiste no aprofundamento dessa experiência e, consequentemente, no testemunho, pelo amor, do que foi recebido. No entanto, não se trata apenas de uma experiência individual – ainda que seja pessoal – mas como corpo, Igreja, como acentua Paulo: “… O constituiu chefe supremo da Igreja, que é seu corpo, o receptáculo daquele que enche todas as coisas sob todos os aspectos” (vv. 22-23).
Reze: Espírito Santo, meu Mestre interior, leva-me mais e mais à consciência daquilo que recebi em Cristo Jesus. Ilumina minha alma, aquieta meu coração, dirige meus pensamentos e produz em mim a quietude necessária para que eu descanse nessa Promessa. Amém.
Guarde: “Que Ele ilumine os olhos do vosso coração, para que compreendais a que esperança fostes chamados” (Ef 1, 18)
Pratique: Separe hoje pelo menos um quilo de alimento não perecível para doação. Lembre-se: hoje é DIA DE JEJUM e ABSTINÊNCIA DE CARNE.
13º Dia: Sábado, 19 de março: JOSÉ: HOMEM DE FÉ E AÇÃO!
Solenidade de São José
Medite: Efésios 2, 1-9
Reflita: Ao celebrarmos hoje São José, vemo-lo como alguém que encarnou em sua vida o que Paulo ilustra nesse trecho. José foi o homem da fé! Diante do anúncio do Anjo, ele assentiu, pela fé, aos planos do Pai, aderindo livremente ao que Deus havia preparado para ele. Da fé às obras, José colocou em ação o seu sim, acolhendo Maria, enfrentado as críticas, obstáculos e todas as agruras que se seguiram, desde a falta de estalagem para o nascimento de Jesus à fuga para o Egito; os riscos de tal viagem; a volta para Nazaré e assim por diante. Pela fé, acolhemos o que Deus faz por nós, pelas boas ações manifestamos o que, de fato, cremos. Afinal, é pelos frutos que se conhece a árvore. Pergunte-se: diante das dificuldades, eu recuo ou fico firme, como fez José?
Reze: Salve, guardião do Redentor e esposo da Virgem Maria! A vós, Deus confiou o seu Filho; em vós, Maria depositou a sua confiança; convosco, Cristo tornou-Se homem. Ó Bem-aventurado José, mostrai-vos pai também para nós e guiai-nos no caminho da vida.
Alcançai-nos graça, misericórdia e coragem, e defendei-nos de todo o mal. (Papa Francisco, Patris Corde). Confirmai-nos, Senhor, na fé e que nossa vida seja, a exemplo de São José, o desdobramento daquilo que cremos. Amém.
Guarde: “Não provém de vossos méritos, mas é puro dom de Deus.” (Ef 2, 8)
Pratique: Dedique sua oração a São José, participando, se possível, da Santa Missa.
14º Dia: Domingo, 20 de março: ELE É NOSSA PAZ!
Medite: Efésios 2, 11-22
Reflita: “É Ele a nossa paz” (v. 14), não apenas afirma Paulo, mas proclama numa voz que precisa chegar aos nossos dias, aos corações da humanidade ferida por tanta ambição, com tantos conflitos e guerras que brotam por ganância de poder. Que ressoe nos ares, que chegue a toda parte onde há violência, falta de respeito à vida, à dignidade do ser humano. A humanidade está ferida e o sangue dos inocentes clama por justiça, quando não pela ira divina. Nossas palavras, nosso jeito de agir ou edificam pontes que ligam e aproximam ou muros que separam, discriminam, condenam. O muro da inimizade foi destruído, mas será que essa mensagem chegou ao coração da humanidade? Será que ela chegou ao seu coração?
Reze: Bendigo-te, Senhor, por nos teres reconciliado por tua obra na cruz e, assim, nos tornares concidadãos dos santos e membros da tua família. Ah, Senhor, quantos padecem em nosso mundo pelas guerras, perseguições, fome. Senhor, tem misericórdia de nós, venha a nós a tua Paz. Derruba do trono os poderosos que oprimem e geram guerras. Tua justiça se manifeste, para que não seja necessário o justo juízo de tua ira. Amém.
Guarde: “Veio para anunciar a paz a vós que estáveis longe, e a paz também àqueles que estavam perto” (Ef 2, 17)
Pratique: Examine seu atos e palavras: promovem a paz ou a guerra? Ore pela paz no mundo, especialmente na Ucrânia!
15º Dia: Segunda, 21 de março: CRESCIMENTO INTERIOR
Medite: Efésios 3, 1-20
Reflita: Você certamente percebeu o contraste entre a Carta que Paulo escreve aos Gálatas e esta, aos Efésios. As reprimendas àquela Comunidade não estão presentes nesta Carta. A Comunidade de Éfeso era muito mais dócil e aberta ao Espírito e Paulo intercede para que ela assim aprofunde sua experiência de Jesus. O que Paulo pede a Deus para que conceda àquela Igreja, é o que peço também por você que está fazendo esse Caminho Quaresmal: que você seja poderosamente revestido do Espírito Santo para que cresça interiormente e a luz da fé penetre em todas as áreas de sua vida, dissipando a escuridão, estabelecendo a paz e o amor; que você mergulhe em todas as dimensões do amor de Deus e persevere até que chegue o dia de a Ele se unir no Céu. Fique firme! Não desista haja o que houver! E, diante disso, que você possa dizer com Paulo: “Eu me tornei servo deste Evangelho” (Ef 3, 7).
Reze: Amado Jesus, Tu és a profundidade, a altura, a largura e o comprimento de toda misericórdia do Pai. Quero conhecer-te mais e mais e, contigo, me unir ao Pai, razão de meu existir. Sejas bendito pelo que és e fazes em meu favor. Amém.
Guarde: “Ele pode fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou entendemos” (Ef 3, 20)
Pratique: Ligue para alguém que o Espírito Santo colocar em seu coração. Não mande mensagem; ligue, converse.
16ºDia: Terça, 22 de março: PARA QUE SEJAM UM
Medite: Efésios 4, 1-16
Reflita: Como é fácil quebrar a unidade! Nossa fragmentação interior se desdobra em atitudes que fragmentam o que está ao nosso redor, não obstante haja uma ânsia pela unidade em nosso ser. Não é sem motivo que Jesus na sua oração sacerdotal (João 17) pede ao Pai pela unidade dos seus. Mas onde o egoísmo e o orgulho reinam o que é produzido é separação, distanciamento, fechamento. E os resultados disso estão a olhos vistos diante e dentro de nós. Por outro lado, quando o “vínculo da paz” prevalece, a unidade é construída e nos aproximamos do que Deus é. Todos os ministérios na Igreja estão a serviço dessa unidade, para que “cresçamos em todos os sentidos” (v. 15). Suas palavras e atitudes promovem a unidade?
Reze: Espírito Santo, amor circulante entre o Pai e o Filho numa perfeita unidade, onde não há sombra de fragmentação. Olho para mim e vejo o quanto estou quebrado interiormente e como meu ser mais profundo anseia por essa unidade. Age em mim e em toda Igreja para que essa unidade nos faça conviver com a diversidade. Amém.
Guarde: “…até atingirmos o estado de homem feito, a estatura da maturidade de Cristo.” (Ef 4, 13)
Pratique: Reze pela unidade da Igreja. Ofereça um período considerável do dia de hoje para não usar o celular.
17º Dia: Quarta, 23 de março: VIDA NOVA EM CRISTO
Medite: Efésios 4, 17-32
Reflita: Paulo em diversos trechos de suas cartas nos fornece um roteiro detalhado para um bom exame de consciência e um desses trechos é exatamente o que meditamos hoje. Não dá para simplesmente passar por cima, sem usar a Palavra como um espelho no qual devemos nos refletir. A vida nova em Cristo deve ser buscada constantemente. Ainda que você caia, ainda que não tenha superado uma série de coisas, não deixe de buscar sua transformação interior em Cristo. Você não está sozinho nessa empreitada. O Espírito Santo, seu Anjo de Guarda e a intercessão dos santos estarão com você. Cuide, sobretudo de sua língua. Ela é uma bênção, mas pode ser também uma adaga afiada que fere e mata.
Reze: Amado Senhor, quero renovar o sentimento de minha alma. Quero me revestir do homem novo, renascido do Espírito. Sei que por mim eu não consigo. Venha, pois, o auxílio da tua graça em meu socorro. Quero ser bondoso, compassivo e amoroso. Amém.
Guarde: “Renovai, sem cessar, o sentimento de vossa alma!” (Ef 4, 23)
Pratique: Todo dia é dia de vigiar sua língua, mas hoje, em especial, tenha uma atenção ainda mais desperta nesse sentido. Não fale nada de inconveniente. E, se falar, peça perdão.
18º Dia: Quinta, 24 de março: FILHOS DA LUZ
Medite: Efésios 5, 1-20
Reflita: A psicologia tem nos mostrado que alguns comportamentos não são apenas fruto de um desvio ou comprometimento moral, mas trazem traços inconscientes, oriundos de traumas ou experiências havidas ou desejadas que marcam o psiquismo. Por isso mesmo, tendo a Palavra de Deus como guia seguro e também como portadora da força de Deus para nos tornar mais inteiros, seja atento a si mesmo, mas não se julgue condenado por, talvez, não ter superado este ou aquele traço da sua personalidade. O que não deve também se tornar uma licença para se viver uma vida dissoluta. Paulo fala do que convêm e do que não convêm. Decisões amadurecem ou enfraquecem o caráter, levam-nos numa direção amorosa ou nos desviam no egoísmo. Somos lembrados: os dias são maus, por isso, vigilância!
Reze: Tenho consciência, Senhor, da minha fraqueza, mas sei também que a tua graça me fortalece sobremaneira e me capacita a viver como luz. Quero progredir na caridade, na bondade, na justiça e verdade. Que dos meus lábios não saiam palavras obscenas e que firam meu próximo. Ao contrário quero, de todo coração, celebrar os teus louvores. Amém.
Guarde: “Comportai-vos como verdadeiras luzes!” (Ef 5, 8)Pratique: Procure não reclamar de nada hoje. E, se reclamar, peça perdão, e volte ao propósito.
19º Dia: Sexta, 25 de março: RELAÇÕES BASEADAS NO AMOR
Solenidade da Anunciação do Senhor
Medite: Efésios 5, 21 – 6, 9
Reflita: Nossa vida é uma tessitura de relações. Mesmo aquele que se isola, é fruto de uma relação, ainda que equivocada ou ferida. Dependemos uns dos outros e, dessa forma, afetamos e somos afetados. Preferi esse verbo porque nem sempre o afetar é amoroso, atencioso, positivo. Não se trata apenas das relações familiares; incluem-se também as relações sociais diversas.
Nesse dia da Anunciação do Senhor, lembro que Deus – como é revelado na fé cristã – é uma comunidade de pessoas ou uma família, onde sendo um só, no amor, é uma perfeita interação entre as três pessoas divinas. Esse Deus, ao vir a nós, também quis constituir uma família, onde Maria Santíssima e São José, são o rosto humano da família divina para de Jesus. O anúncio da vinda do Senhor é em vista da humanidade toda, mas se insere num contexto familiar. O parâmetro para todas as nossas relações está no amor, no respeito e na escuta, como nos lembra o texto de Paulo.
Hoje, em especial, nos unimos ao Santo Padre na consagração da Rússia a da Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria. Que a Rainha da Paz interceda por essa situação que é, como referiu-se o Papa “um massacre sem sentido, onde estragos e atrocidades se repetem todos os dias”.
Reze: Senhor, que cada relação que temos seja baseada no amor, no respeito e na escuta. Assim se faça em nossas famílias, comunidades, na sociedade e entre as nações. Que a paz triunfe sobre todos os conflitos. Ó Imaculado Coração de Maria, a ti consagramos a Rússia e a Ucrânia. Que teu Coração triunfe sobre a violência e ampare todos os sofredores, especialmente os refugiados. Ave Maria, cheia de graça…
Guarde: “Sujeitai-vos uns aos outros no temor de Cristo.” (Ef 5, 21)
Pratique: Ofereça seu jejum e oração de hoje pela paz mundial.
20º Dia: Sábado, 26 de março: CONSCIENTES NA BATALHA
Medite: Efésios 6, 10-24
Reflita: Há uma batalha sendo travada nos planos invisíveis. Se nós temos pouca noção do que se passa microscopicamente, imagine naquele plano em que os mais poderosos microscópios ou telescópios não podem alcançar. É claro que não é só uma dimensão de luta, mas de emanação de luz, de pura beleza e amor, não obstante também existirem forças contrárias que interagem também com o nosso plano, como nos alerta o apóstolo Paulo. Em batalhas espirituais só se pode lutar com armas espirituais. Não adiantam armas físicas ou subterfúgios psicológicos para se entrar nessa batalha. Não há magia nem palavras encantadas que desmantelem as realidades espirituais opositoras; estas devem ser vencidas da forma como a Palavra de Deus nos indica: revestindo-nos da “armadura de Deus” e munindo-nos de uma vida rendida ao Senhor em amor, fidelidade e obediência. É preciso conhecer, pois, do que se trata para poder combater e vencer. Mas temos uma imensa vantagem: temos a estratégia e os recursos liberados pela Graça e potencializados pelo Espírito Santo. O que você está esperando para usá-los e triunfar nessa batalha espiritual?
Reze: Revista-me, Senhor, com tua armadura para que eu seja capaz de enfrentar os ardis do inimigo que nem sempre ataca frontalmente, mas se insinua de forma sutil. Dá-me discernimento para perceber como ele age, e poder para repelir seus dardos inflamados e vencer suas armas. Venha em meu auxílio a poderosa intercessão da Virgem Maria e de São Miguel Arcanjo. Amém.
Guarde: “Revesti-vos da armadura de Deus, para que possais resistir às ciladas do demônio.” (Ef 6, 10)
Pratique: Faça uma oração de renúncia diante de tudo que possa ser estabelecido como brecha em sua vida e reze diversas vezes a São Miguel Arcanjo.
21º Dia: Domingo, 27 de março: COMPREENSÃO, CRITÉRIO, DISCERNIMENTO
Medite: Filipenses 1, 1-11
Reflita: Para iniciarmos nossa reflexão de hoje, vamos recordar mais algumas palavras do Papa Francisco: “O tempo forte da Quaresma é um período em que Deus quer nos acordar da letargia interior. Porque – lembremo-nos bem – manter acordado o coração não depende somente de nós: é uma graça e deve ser pedida”.
Começamos hoje a meditar em mais uma Carta do apóstolo Paulo, à Comunidade de Filipos. Paulo a escreveu por volta do ano 61 d.C., no período em que esteve preso em Roma. Essa Igreja havia sido fundada na sua segunda grande viagem missionária (At 16, 11-40). Alguns termos emergem do trecho de hoje, trazendo-nos uma importante perspectiva para o discipulado: compreensão, critério, discernimento, frutos. Eles estão interligados sempre na perspectiva do amadurecimento da vida em Cristo e são fundamentais para iluminar o cotidiano com seus diversos desafios e as consequentes escolhas que se impõem. Para se produzir os frutos esperados da Vida no Espírito, dependerá da sua compreensão do que Deus fez e tem feito por você, dos critérios que você usar para iluminar as situações que se apresentarem e do discernimento feito para se encaminhar as decisões tomadas.
Reze: Quero, amado Jesus, amadurecer em minha vida de discípulo. Quero pedir a luz do teu Espírito para que eu possa iluminar cada situação que se apresentar em minha vida. Que minhas escolhas me levem sempre em tua direção e na direção no meu irmão. Amém.
Guarde: “Estou persuadido que aquele que iniciou em vós esta obra excelente lhe dará o acabamento…”
Pratique: Como gesto prático do dia de hoje, peço, humildemente, que me coloque em suas orações. Eleja um outro ponto como você assim o desejar.
22º Dia: Segunda, 28 de março: MEU VIVER É CRISTO
Medite: Filipenses 1, 12-26
Reflita: Por esses dias, explicando um pouco sobre a liturgia da Santa Missa para as crianças da Catequese, perguntei sobre o que é necessário para a gente estar vivo e elas foram respondendo aos poucos: ar, água e alimento (esses três “as” benditos). Disse, então, a elas que se percebessem que com Deus é assim, se vissem que sem Deus não poderiam viver, toda a catequese que tiveram se resumia nisso e poderiam até esquecer das lições que tiveram. Talvez as catequistas tenham se assustado com aquilo que falei, mas, de fato, é assim: se tivermos a experiência de que precisamos de Jesus como precisamos daqueles “as” teremos chegado ao mais profundo do que o Espírito pode nos conduzir. Paulo fala de uma forma um pouco diferente sobre isso, mas é o que expressa. Ele sabia que Deus é sua razão de ser e, por isso, poderia estar vivo ou morrer, pois a vida é Cristo. Que o Espírito de Deus nos comunique essa graça. A morte já não será uma ameaça, ainda que possa assustar nossa mente identificada com a matéria. Como você lida com a morte?
Reze: Espírito Santo, sou ainda muito fraco e preciso que me ajudes a chegar a essa profunda identificação com Cristo Jesus, meu Senhor. Que eu viva intensamente, mas não tenha nenhum medo da morte. Creio, mas aumenta minha fé. Amém.
Guarde: “Para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro!” (Fp 1, 21)
Pratique: Ofereça sua oração pelos que morreram: seus familiares e amigos e por aqueles que estão partindo no momento mesmo em que você está orando.
23º Dia, Terça, 29 de março: MESMO NO SOFRIMENTO
Medite: Filipenses 1, 27-30
Reflita: Tantos cristãos há que, diante do menor incômodo, da menor tribulação ou chateação na vida em Comunidade já acham uma justificativa para se afastarem. Param de ir à Igreja, param de rezar, ficam revoltados com Deus. Tão longe da exortação de Paulo à perseverança e até à graça – sim, verdadeira graça – de sofrer por Cristo. Resiliência é um conceito, e consequente atitude, fundamental não apenas na vida cotidiana, diante dos problemas, mas também na vida de fé. Cristãos de fibra, firmes e combativos e que não se dobram quando as provas chegam, mesmo conscientes de sua fraqueza. Pode ser que por alguma situação você se encontre um tanto desanimado. Como é que a exortação da Palavra chega ao seu coração? Você crê que ela, pelo poder do Espírito Santo, tem o poder de realizar aquilo que diz?
Reze: Na minha fraqueza, ampara-me; na dúvida, esclarece-me; no desânimo, sustenta-me; na queda, levanta-me; na preguiça, renova-me; no medo, encoraja-me; na fuga, encontra-me; na frustração, restaura-me; no sofrimento, consola-me. Em tudo, quero viver em ti, Senhor, razão do meu existir. Amém.
Guarde: “Desejo ouvir que estais firmes em um só espírito.” (Fp 1, 27)
Pratique: Exercite a escuta. Pare para ouvir alguém um pouco melhor. Invoque a intercessão do seu Anjo de Guarda muitas vezes durante o dia.
24º Dia, Quarta, 30 de março: LUZEIROS NO MUNDO
Medite: Filipenses 2, 1-18
Reflita: Vamos recordar um pouquinho mais do Papa Francisco: “Podemos superar o cansaço do corpo com a força do Espírito de Deus.” E quando não conseguirmos, Francisco sugere recorrer ao Espírito Santo: “Ajuda-me, quero encontrar Jesus”. Diz ainda: “Peçamos ao Espírito Santo que leve embora esta sonolência que nos impede de rezar.” Então, faça isso! Ele, certamente, virá em seu auxílio, enraizando aquelas virtudes que brotam de Nosso Senhor para nos configurar ao seu caráter. O texto de hoje nos traz algumas destas importantes virtudes para nossa vida pessoal e de Comunidade: unidade, humildade, estima. Para ser “luzeiro no mundo” não é preciso coisas mirabolantes; é aquela irradiação pessoal na convivência, de tão forma que se possa dizer: “Vejam como eles se amam” (Tertuliano). A caridade é o maior anúncio do Evangelho. Dela brotam todas as virtudes necessárias para darmos testemunho do Evangelho.
Reze: Doce Espírito de Deus, suscita entre nós a unidade que derruba as barreiras e cria pontes; a humildade que nos coloca a serviço do próximo; a mútua estima que triunfa sobre a competição, o ciúme e a inveja. Na caridade, possamos dar testemunho do que cremos. Amém.
Guarde: “Onde brilhais como luzeiros no mundo, a ostentar a Palavra da Vida.” (Fp 2, 15-16)
Pratique: Coloque-se numa postura de serviço nas pequenas coisas. Você verá que, diariamente, você tem muitas oportunidades de servir. Invoque muitas vezes hoje o Arcanjo Rafael.
25º Dia, Quinta, 31 de março: IRMÃOS DE VERDADE
Medite: Filipenses 2, 19-30
Reflita: Paulo teve junto de si companheiros que foram fundamentais para o bom desempenho de sua missão e para seu amparo pessoal. Dois desses personagens aparecem no texto que meditamos hoje: Timóteo e Epafrodito. Como é importante na vida estabelecer parcerias significativas que nos apoiem em nossas dificuldades, nos consolem em nossas dores, sonhem conosco, chorem – se preciso for – juntos. Amigos são Anjos disfarçados que são colocados ao nosso redor para nos acompanhar em nossa jornada e também na missão que Deus nos confere. Nossas Comunidades deveriam ser assim! Certamente você deve ter algum amigo que conheceu na Igreja e que hoje caminha com você. Eu, pessoalmente, sou muito agradecido por todas as pessoas que no decurso de minha vida e ministério Deus tem colocado ao meu lado. Sinto-me muito identificado com esse trecho de hoje e agradeço a você que, assim, tem sido para mim. “Um amigo fiel é uma poderosa proteção: quem o achou, descobriu um tesouro” (Eclo 6, 14
Reze: Obrigado, Senhor, por esses especiais irmãos que o Senhor coloca ao nosso lado para nos amparar e ajudar na edificação de tua Igreja. Que nossa fraternidade seja baseada no amor que nos dispensas e assim possamos nos edificar mutuamente. Amém.
Guarde: “Conheceis a sua inabalável fidelidade: tal como um filho ao pai, ele se dedica, comigo, ao serviço do Evangelho.” (Fp 2, 22)
Pratique: Reze por seus irmãos de caminhada. Invoque hoje, especialmente, o Arcanjo Gabriel em suas orações.
26º Dia, Sexta 1º de abril: DECIDIDAMENTE
Medite: Filipenses 3, 1 – 4, 1
Reflita: Um texto de contrastes: alerta e motivação. Ser um cristão motivado, que olha para frente, que se lança ao dia de amanhã e confia na ação do poder de Deus que fortalece nas batalhas e dá a vitória, não significa ser ingênuo diante dos que desviam, são maliciosos e ameaçadores. Paulo os chama de “cães” (v. 2). É preciso sempre seguir em frente, ter os olhos nas estrelas, mas os pés bem fincados ao chão. Conscientes da graça comunicada e também dos obstáculos e adversários que se apresentam. Não há lugar para a ingenuidade, assim como não há lugar para a manipulação, seja ela de que origem for. Siga, pois, em frente. Saiba que fiel é Aquele que o chamou e lhe dará a força necessária para você vencer. E Paulo repete ao final do trecho de hoje a contínua exortação que sempre se repete: “continuai assim firmes no Senhor” (4, 1).
Reze: Quero, Senhor, me lançar ao que preparaste para mim. Não ficarei amargando do passado, seja ele qual for. Prosseguirei ainda que me custe, lançar-me-ei ao que há à frente e o Senhor guiará meus passos. Mas te peço: dá-me discernimento para perceber aquilo e aqueles que se aproximam para tentar me amarrar, ferir e destruir. Livra-me, Senhor! Contigo eu sou mais do que vencedor. Amém.
Guarde: “O que importa é prosseguir decididamente.” (Fp 3, 16)
Pratique: Lembre-se que hoje é dia de abstinência e jejum. Dedique o dia de hoje a invocar o Arcanjo Miguel para o assistir em suas batalhas espirituais.
27º Dia, Sábado, 02 de abril: UM ASSUNTO ESPIRITUAL
Medite: Filipenses 4, 2-23
Reflita: Recordo-me do título de um livro antigo, muito interessante, cujo título é “Dinheiro: um assunto altamente espiritual”. À primeira vista, o título pode assustar, quando não escandalizar alguns, mas o autor vai mostrando como esse assunto é desenvolvido em toda Bíblia, ainda que não se empregue o termo “dinheiro”. Não há separação entre o que é material e o que é espiritual. Nesse capítulo, Paulo une magistralmente essa dupla perspectiva: é preciso orar sempre, dar graças, cultivar as boas virtudes e também considerar as condições em que se vive, inclusive com o provisionamento que os irmãos prestaram a ele em suas necessidades, sendo que ele dispunha os benefícios espirituais em favor da Comunidade. Para alguns cristãos, esse assunto é um tabu. Todos querem que Deus os prospere, mas será que, igualmente, estão dispostos a repartir, confiando na promessa (“Em recompensa, o meu Deus há de prover magnificamente a todas as vossas necessidades”, v. 19) expressa pelo apóstolo? Para você o dinheiro é um assunto altamente espiritual?
Reze: Deus de toda Providência, obrigado por todos os recursos que o Senhor tem feito chegar a cada um de nós. Que tenhamos aquela mesma liberdade interior manifesta pelo apóstolo Paulo, ao viver na privação e na abundância. Por tudo te damos graças, pois és a fonte primária de todo Bem e de todos os bens. Amém.
Guarde: “Tudo posso naquele que me fortalece!” (Fp 4, 13)
Pratique: Você é solidário? Você é dizimista? Está na hora de dar esse passo. Ou confirme-o. Sendo hoje, sábado, consagre-o a Nossa Senhora. Reze muitas vezes invocando a Mãe Santíssima.
28º Dia: Domingo, 03 de abril:
Medite: Colossenses 1, 1-14
Reflita: Também essa Carta de Paulo nasceu do seu período de prisão em Roma, por volta do ano 60 d.C. Paulo não conhecia Colossos. A Igreja ali havia sido fundada por Epafras, mas Paulo também exerce seu pastoreio junto a essa Comunidade que estava sofrendo infiltrações de doutrinas judaizantes e também pagãs, onde se corria o risco de negar a divindade de Cristo. Isso não significa que não era uma comunidade generosa; os defeitos e riscos que corria não anulavam os pontos positivos que apresentava. Assim se dá com cada um de nós. É preciso ter consciência dos limites e erros que se cometem e, concomitante, valorizar as qualidades existentes. Isso deve se dar tanto pessoalmente, como comunitariamente. O que Paulo fazia por todas aquelas Comunidades, por elas intercedendo diante de Deus, é o que faz por nós também hoje. Essa é a maravilha da Comunhão dos Santos em que vivemos. Não é animador para o exercício de nossa fé? Em Cristo, somos a mesma Igreja, o mesmo Corpo, e, assim, o será até a volta de Jesus.
Reze: Fortalece, Senhor, nossa comunhão em tua Igreja. Que nos alegremos por todos os dons recebidos e com nossa vida testemunhemos o nome santo que Jesus, “no qual temos a redenção, a remissão dos pecados”. Abençoa nossos pastores, confirma nossa fé, corrige-nos dos erros, solidifica-nos na Rocha. Amém.
Guarde: “Em vista da esperança que vos está reservada nos céus!” (Fp 1, 5)
Pratique: Hoje é Domingo, dia de participar da Santa Missa. Vá e faça a experiência de que você faz parte da mesma Igreja amada e testemunhada por Paulo.
29º Dia: Segunda, 04 de abril: NELE, POR ELE E PARA ELE
Medite: Colossenses 1, 15-23
Reflita: A cada Eucaristia o sacerdote, em nome da Comunidade congregada, faz o ofertório de todas as coisas ao Pai, por meio de Jesus, até que tudo n’Ele esteja reunido na plenitude dos tempos: “Por Cristo, com Cristo e em Cristo, a vós, Deus Pai Todo-Poderoso, na unidade do Espírito Santo, toda honra e toda glória. Agora e para sempre!” Ao que a assembleia entoa solenemente o Amém. Assim, a cada Missa celebrada, renova-se a fé que manifestamos de que n’Ele, por Ele e para Ele são todas as coisas, no tempo e na eternidade. É o que Paulo canta nesse hino cristológico que lemos hoje. Reze-o em comunhão com todas as criaturas que existem no Universo, visíveis e invisíveis. “Hoje, vemos ainda como por um espelho, confusamente; mas, então, veremos face a face. Hoje conheço em parte; mas, então, conhecerei totalmente, como eu sou conhecido” (1Cor 13, 12), afirma Paulo na primeira Carta aos Coríntios. Não será maravilhoso esse grande dia? Mas para que dele participemos é necessário que permaneçamos “fundados e firmes na fé, inabaláveis na esperança do Evangelho” (v. 23), como mais uma vez exorta Paulo. Hoje, portanto, é dia de você renovar o reconhecimento de que todas as coisas têm sua subsistência em Cristo e também de renovar sua fidelidade a Ele.
Reze: Jesus, penso nesse imenso universo e confesso que tudo tem sua origem no Pai que, por ti, no Espírito Santo, tudo criou. Eu sou parte dessa criação, um pequeno grão de areia, mas sou filho e essa é uma graça que eu nunca conseguirei mensurar. Por ti, em ti e para ti, Jesus, eu quero viver. Amém.
Guarde: “Todas as coisas subsistem n’Ele”. (Cl 1, 17)
Pratique: Ter consciência de que se é parte do universo, é cuidar também de nossa casa comum, o planeta. Esteja atento hoje – e que se torne um hábito – ao uso racional da água. Dedique esse dia para louvar.
30º Dia: Terça, 05 de abril: NAS TRIBULAÇÕES
Medite: Colossenses 1, 24 – 2, 3
Reflita: Certamente uma das realidades mais difíceis e desafiantes é como lidar com o sofrimento. De alguma forma, a pergunta “por que sofremos?” está na gênese de todas as religiões e cada uma tenta, a seu jeito, respondê-la. O papa Francisco na mensagem para a Quaresma desse ano, assim escreve: “A fé não nos preserva das tribulações da vida, mas permite atravessá-las unidos a Deus em Cristo, com a grande esperança que não desilude e cujo penhor é o amor que Deus derramou nos nossos corações por meio do Espírito Santo (cf. Rm 5, 1-5)”. Certas doutrinas tentam justificar o sofrimento como uma espécie de dívida adquirida em vidas anteriores, a ser saldada para se purificar a alma. Todavia, Paulo até vê em suas tribulações a extensão da própria Paixão de Cristo (cf. v.24) e não uma dívida a ser resgatada. Tudo que vivemos pode ser unido ao mistério da Encarnação do Verbo, que veio participar das nossas alegrias e dos nossos sofrimentos, menos do nosso pecado, que Ele assumiu para nos redimir. Não temos a resposta pontual para tudo e a fé cristã sempre nos mostra que, por vezes, esbarramos no mistério: não temos a resposta para tudo, mas cremos que “todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8, 28). Portanto, diante do sofrimento, tenha sempre uma postura de silêncio, de confiança e de solidariedade.
Reze: Amado Senhor, olho para a tua Cruz e vejo o sofrimento que tiveste. Nela eu encontro consolação e força para poder seguir, sabendo que a dor, o sofrimento e a morte não têm a última palavra na vida daqueles que creem em ti. Dá-nos essa profunda convicção e firma-nos na fé. Amém.
Guarde: “Cristo em vós, esperança da glória.” (Cl 1, 27)Pratique: Se você está passando por um período de tribulação, de doença, entregue ao Senhor. Confie no amor de d’Ele. Seja solidário com alguém que sofre.
31º Dia: Quarta, 06 de abril: RAÍZES
Medite: Colossenses 2, 4-15
Reflita: Hoje é dia de você mergulhar nas promessas de Deus em Cristo Jesus. Se você está em comunhão com Ele, você é herdeiro de suas promessas, mas, para tanto, é preciso que esteja n’Ele enraizado e edificado. Pense numa árvore: ela só pode receber os nutrientes se suas raízes estiverem bem fincadas na terra. Quanto mais as raízes se espalham e se aprofundam, mais nutrida e firme ficará, inclusive para enfrentar os períodos de seca, de ventos fortes e de escassez. Infelizmente, sabemos bem disso em relação à natureza e não o aplicamos em nossa vida pessoal/espiritual. Alguém, de fato, poderá ter uma vida fluídica em Deus, se n’Ele não colocar seu real fundamento? Como hauriremos das torrentes de sua graça – trazendo cura, libertação e salvação – se não cultivarmos as raízes de nosso ser na vida e no ensino do Senhor Jesus? Se assim for verdade em nós, poderemos proclamar com o apóstolo Paulo: “Tendes tudo plenamente n’Ele”! Sim, tenho tudo o que realmente preciso e o que ainda não se mostrou há de se manifestar no momento certo; e se não o tiver, é porque não é para mim e não me fará bem. Creio e assumo essas maravilhosas promessas para minha vida!
Reze: Jesus, em ti, a plenitude de todos os dons. Em ti, a libertação de todos os males. Em ti, o cancelamento de todo documento escrito contra mim. Em ti, a vitória sobre satanás e seus demônios que tentam roubar minha herança. Em ti, tudo aquilo que eu preciso. Em ti, a vida e a ressurreição. Em ti, a eternidade feliz. Amém.
Guarde: “Enraizados e edificados n’Ele, inabaláveis na fé.” (Cl 2, 7)
Pratique: Aproxima-se a Páscoa. Você já se confessou? Seja hoje um dia de louvor por todas as promessas que são SIM, em Jesus (2Cor 1, 20).
32º Dia: Quinta, 07 de abril: A REALIDADE É CRISTO
Medite: Colossenses 2, 16-23
Reflita: Salvação não é merecimento; é graça, pura dádiva. A ascese cristã não é um meio de conquistar o favor de Deus, mas de corresponder a seu eterno e gratuito amor. Não é Deus que precisa de nossa disciplina, somos nós. A humildade não é uma medalha a ser ostentada, mas uma atitude de acolhida e esforço. Que grande liberdade apregoa o apóstolo para que a vivamos em Cristo. Em tudo, deveríamos buscar o equilíbrio, ainda que seja tão difícil e também construído, por vezes, a duras penas. Se não o alcançamos por busca e autoeducação, a vida se encarrega de nos empurrar na sua direção ou, pelo menos, nos mostra o quanto a sua ausência é prejudicial, quando não, danosa. Não faça as coisas para ser visto; nada de regras pesadas que se constituam em fardos para que outros os carreguem. Os “moralistas” normalmente agem dessa forma, como alerta Jesus: “Eles atam fardos pesados e os colocam sobre os ombros dos homens. No entanto, eles próprios não se dispõem a levantar um só dedo para movê-los” (Mt 23, 4).
Reze: Tu és a realidade, Jesus. Em ti, todas as coisas tem o ser e nada é fora de ti. Mas nossos olhos ainda estão fechados, incapazes de perceber que tudo é em ti. Abre os meus olhos para poder ver. Desperta minha sensibilidade para poder sentir. Firma minha fé para que eu possa aderir à tua vontade e por ti viver e servir. Amém.
Guarde: “A realidade é Cristo.” (Cl 2, 17)
Pratique: Preste atenção ao que se passa ao seu lado. Procure olhar o mundo a partir dos olhos do Mestre. Tudo n’Ele está. Nossos pecados? Também! n’Ele, para nos redimir. Se puder, adore Jesus Eucarístico hoje.
33º Dia: Sexta, 08 de abril: PÔR-SE A CAMINHO
Medite: Colossenses 3, 1-17
Reflita: Esse é um dos textos que indico às pessoas que se confessam comigo para que meditem como penitência. É importante lembrar que a penitência, no Sacramento da Reconciliação, não é um “pagamento”, uma compensação diante do perdão recebido. A absolvição dos pecados é totalmente gratuita, brotando da misericórdia do Pai, manifestada em Jesus. Costumo dizer que a penitência é um “pôr-se a caminho” para firmar o desejo de viver a vida nova em Cristo, renovada pela graça sacramental. E Paulo nos fornece pontos muito concretos para se abraçar esse estilo de viver. Dentre tantos pontos que mereceriam um aprofundamento, gosto de realçar a expressão que está em Cl 3, 13: “Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente”. O verbo suportar tem acepções diferentes: ter sobre ou contra si (algo) e não ceder, aguentar, resistir; ser capaz de segurar ou carregar. Alguns acabam lidando com esse verbo na linha da primeira acepção, mas, é claro, que Paulo nos exorta numa outra direção: apoiem-se mutuamente; cada um tem seu peso existencial, portanto saiba carregar o outro, como você mesmo, ao necessitar, quer ser carregado. Esse é o nosso dever cristão, mas a pessoa que é/tem seu peso, precisa, no mesmo exercício de caridade, fazer o possível para tornar-se mais leve para o próximo. Ao colocar-se diante do espelho do texto de hoje, você se dá conta de quê em sua vida?
Reze: Espírito Santo, trabalha em mim o homem novo renascido em Cristo. Sei que essa é uma tarefa que terei de exercer durante toda minha vida, mas eu conto com teu auxílio para que eu amadureça em meu discipulado. Sou grato por tudo o que sou e tenho. Muito obrigado. Amém.
Guarde: “Vós vos revestistes do novo, que se vai restaurando constantemente à imagem daquele que o criou.” (Cl 3, 10)
Pratique: O jejum é um meio eficaz para o cultivo da vida nova em Cristo. Ofereça-o nessa intenção no dia de hoje.
34º Dia: Sábado, 09 de abril: DE BOM CORAÇÃO
Medite: Colossenses 3, 18 – 4, 1
Reflita: Ao se ler com atenção o versículo 23, com certeza, toda leitura equivocada do texto de hoje é suplantada. Quando se tem um bom coração, é a partir desse coração guiado no amor que se vai dirigir todos os atos e palavras e se tornará o critério em todas as relações que a pessoa tiver. Então, o próprio verbo “submeter” terá uma outra compreensão; nunca será subjugar, humilhar, desvalorizar e assim por diante. Até mesmo no trato dos que são subalternos não haverá nenhum tipo de exploração ou exposição, por se ocupar, supostamente, uma posição de destaque ou autoridade maior. Mas é assim que se lida em família? Não existem, por exemplo, apenas pais autoritários; alguns filhos acabam se mostrando muito mais impertinentes e autoritários que seus pais, faltando até com o respeito ao falar e lidar com seus progenitores. Tenha um coração bom e torne-se irradiação da bondade divina onde você vive e por onde passar.
Reze: “Ó Espírito Santo, dai-me um coração grande, aberto à vossa silenciosa e forte palavra inspiradora, fechado a todas as ambições mesquinhas, alheio a qualquer desprezível competição humana, compenetrado do sentido da santa Igreja! Um coração grande, desejoso de se tornar semelhante ao coração do Senhor Jesus! Um coração grande e forte para amar todos, para servir a todos, para sofrer por todos! Um coração grande e forte para superar todas as provações, todo tédio, todo cansaço, toda desilusão, toda ofensa! Um coração grande e forte, constante até o sacrifício, quando for necessário! Um coração cuja felicidade é palpitar com o coração de Cristo e cumprir humilde, fiel e virilmente, a vontade do Pai. Amém.” (São Paulo VI)
Guarde: “Tudo que fizerdes, fazei-o de bom coração, como para o Senhor e não para os homens.” (Cl 3, 23)
Pratique: Procure ser bom, mesmo diante de alguém que não é bom para você. Examine suas relações e veja se a bondade é nota presente em todas elas. Sábado é dia de uma especial devoção a Nossa Senhora. Faça-a.
35º Dia: Domingo de Ramos, 10 de abril: PERSEVERAR, VIGIAR, AGRADECER
Medite: Colossenses 4, 2-18
Reflita: A vida em Comunidade é feita de gestos concretos, de pequenas atenções, de solidariedade amorosa que se vai demonstrando, especialmente, quando alguém está mais fraco, necessitando de algum tipo de apoio. De rostos anônimos que eram, vão se tornando nomes conhecidos com sua história, sua família, assim como Paulo vai citando cada um desses irmãos que foram caros ao seu coração. Uma Comunidade que persevera, vigia, agradece e, por isso, é sustentada pelo Espírito que a vitaliza, como o sangue que circula pelas veias, levando alimento e oxigênio a todas as células. Não é maravilhoso pensarmos assim em relação ao Corpo de Cristo? Vamos recordar algumas palavras do Papa Francisco a respeito da Igreja: “A Igreja não é um mercado. A Igreja não é um grupo de empresários que vão adiante com a empresa nova. A Igreja é obra do Espírito Santo que Jesus nos enviou para nos reunir. A Igreja é o trabalho do Espírito na comunidade cristã, na vida comunitária, na Eucaristia, na oração. Sempre! E tudo o que cresce fora dessas coordenadas não tem fundamento. É como uma casa construída sobre a areia. É Deus quem faz a Igreja, e não o clamor das obras. É a Palavra de Jesus que enche de significado os nossos esforços. É na humildade que se constrói o futuro do mundo.” Que a sabedoria do Santo Padre nos inspire em nosso agir pessoal e comunitário.
Reze: Senhor Jesus, que fundaste, amaste e te entregaste por tua Igreja, confirma-a em sua jornada nas sendas da história. Em um mundo tão dividido por interesses mesquinhos, que tua Igreja seja sinal contínuo de concórdia e fraternidade, de justiça e de paz, de verdade e respeito. Anima, com teu Espírito, o Santo Padre, nossos bispos e todo o clero, assim como cada fiel leigo. Sejamos, mais e mais, um só Corpo congregado no amor. Amém.
Guarde: “Sede perseverantes, sede vigilantes na oração, acompanhada de ações de graças.” (Cl 4, 2)
Pratique: Expresse seu desejo de seguir Jesus, como Igreja, participando da Missa e, se possível, da Procissão de Ramos. Viva intensamente a Semana Santa, de preferência, participando das celebrações em sua Comunidade.
36º Dia: Segunda-feira Santa, 11 de abril: ATENTOS AOS SINAIS
Medite: Atos 27, 1-12
Reflita: Vamos meditar nesses próximos dias sobre os dois últimos capítulos do livro dos Atos dos Apóstolos, que relatam as derradeiras experiências do apóstolo Paulo, ainda que não relate seu martírio. Que a meditação que fizemos nas suas quatro cartas (Gálatas, Efésios, Filipenses e Colossenses) tenham ajudado você a admirar mais esse gigante e santo homem da fé, e, agora, nos relatos dos Atos dos Apóstolos.
Ventos contrários, navegação feita com dificuldade, impossibilidade de aportar, perigos, danos graves… Aquilo que se anunciava para a viagem em direção à Roma (lembremos do título de nosso Caminho Quaresmal De Damasco à Roma) – o destino final de Paulo – é uma boa metáfora para a vida da Igreja, comparada que é à “Barca de Pedro”. Também a Igreja enfrenta vicissitudes, enquanto navega nas águas tempestuosas da história. Paulo alerta sobre o que estava para acontecer, como o fazem os santos e os profetas no decorrer dos séculos. O centurião que estava à frente da embarcação não quis ouvir Paulo, dando mais crédito ao piloto e ao mestre (vv. 10 e 11). Não é o que acontece com muitos? Ao invés de darem crédito ao que nos alerta o Senhor em sua Palavra, preferem ouvir outras tantas vozes de “especialistas” que parecem desacreditar o que o Evangelho propõe. A quem e a quê você tem dado ouvidos?
Reze: Quero, Senhor, ouvir tua voz. Torna-me sensível ao toque suave da tua graça em minha alma e atento aos sinais dos tempos. Que eu reconheça a sabedoria que dás ao ser humano para aprimorar a qualidade de vida de todos, mas que eu guie minhas escolhas pelos valores do Evangelho. Amém.
Guarde: “Passara o tempo – já havia passado a época do jejum – e a navegação se tornava perigosa. Paulo advertiu-os.” (At 27, 9)
Pratique: Durante essa semana, faça a cada dia um gesto de abstinência ou um ponto concreto de esforço para fortalecer sua sintonia com a Paixão e Morte do Senhor. Viva intensamente a Semana Santa, de preferência, participando das celebrações em sua Comunidade.
37º Dia: Terça-feira Santa, 12 de abril: SALVOS NAS TEMPESTADES
Medite: Atos 27, 13-44
Reflita: O texto que descreve uma situação muito concreta acontecida com Paulo, lega-nos, também, um significativo simbolismo se nos compararmos a um barco singrando pelos mares da vida. Quantas vezes julgamos poder executar nossos planos (v. 13) por nossa própria conta e risco e somos surpreendidos por ameaçadoras procelas. Se queremos seguir mais leves e vencer as tempestades é necessário lançar fora as cargas extras (v. 18) e até alguns itens de nossa bagagem interior (v. 19) que julgarmos ser, até, indispensáveis. Os dias tempestuosos podem seguir por um tempo considerável, minando a esperança de superação e vitória (v. 20). Mas Deus sempre envia seu Anjo para estar junto aos seus, fortalecendo-os e livrando-os do medo (v. 23-24). O servo, por sua vez, não apenas recebe essa visitação angélica para si, mas torna-se também um canal de coragem para os que estão próximos (v. 25). Assim como a sonda (v. 28) é usada para saber a profundidade das águas, quando se tem fé, o servo encontra forças no mais íntimo do seu coração, guiado pelo Espírito, comunicando-lhe a âncora da esperança (v. 29; Hb 6, 19) que o manterá firme na sua jornada. E é sempre na celebração da Eucaristia (v. 35-36) que dá graças por todo sustento recebido e encontra forças para seguir em frente, até que as coisas se tornem mais claras (v. 39). Espero que essa pequena reflexão o ajude a mergulhar no texto de hoje.
Reze: “Mesmo na tempestade, mesmo que se agite o mar, te louvo, te louvo em verdade. Mesmo que me faltem as palavras, mesmo que eu não saiba louvar, te louvo, te louvo em verdade. Pois somente tenho a ti. Tu és a minha herança. Te louvo, te louvo em verdade.”
Guarde: “Com isso, todos cobraram ânimo.” (At 27, 36)
Pratique: Durante essa semana, faça a cada dia um gesto de abstinência ou um ponto concreto de esforço para fortalecer sua sintonia com a Paixão e Morte do Senhor. Viva intensamente a Semana Santa, de preferência, participando das celebrações em sua Comunidade.
38º Dia: Quarta-feira Santa, 13 de abril: LIVRES DO PODER DO MAL
Medite: Atos 28, 1-15
Reflita: Os ataques do inimigo aos servos de Deus não cessam. Alguém de fora, à primeira vista, até julgaria que Deus virou as costas para aquela pessoa, pois parece que, sucessivamente, passa por imensas batalhas, como a serpente que ofendeu a Paulo. Perceba que os nativos daquela ilha que receberam Paulo e os demais muito bem, da mesma forma ficaram desconfiados dele e até o julgaram punido por Deus. Entretanto, o veneno daquela serpente não pôde fazer mal algum a Paulo, pois estava guardado pelo poder divino. Da mesma forma, você será guardado dos ataques do inimigo e aquilo que parecia uma desgraça será transformado em bênção, como relatam as Escrituras Sagradas em Isaías 61, 7: “Em lugar da vergonha que sofreu, o meu povo receberá porção dupla, e ao invés da humilhação, ele se regozijará em sua herança; pois herdará porção dupla em sua terra, e terá alegria eterna”. Quando Paulo, agitou a mão, com a víbora ali agarrada, ela foi lançada ao fogo. Assim acontecerá a toda obra do inimigo na sua vida: será destruída pelo fogo do Espírito Santo. Como Paulo foi usado para levar cura aos habitantes daquela ilha, também usará você para espalhar a bênção. Saiba ainda que, se você for canal da Providência, Deus fará a Providência fluir em sua direção. Creia!
Reze: Amado Pai, eu sei que o inimigo não descansa ao buscar minha perdição, mas eu sei também que Tu o venceste e o vencerás em cada ataque que desferir contra minha vida. Clamo o fogo do Espírito Santo para que me assista, queime toda obra do mal e me forneça o antídoto contra o veneno da maldita serpente. Em nome de Jesus. Amém.
Guarde: “… quando estávamos para navegar, proveram-nos do que era necessário.” (At 28, 10)
Pratique: Durante essa semana, faça a cada dia um gesto de abstinência ou um ponto concreto de esforço para fortalecer sua sintonia com a Paixão e Morte do Senhor. Viva intensamente a Semana Santa, de preferência, participando das celebrações em sua Comunidade
39º Dia: Quinta-feira Santa, 14 de abril: ROMA, O DESTINO FINAL?
Medite: Atos 28, 16-31
Reflita: Chegado a Roma, em meados do ano 61, “foi permitido a Paulo viver numa casa particular, com um soldado a guardá-lo” (v. 16) Os cidadãos romanos tinham direito a este tipo de prisão, chamada custodia militaris, a meio caminho entre a custodia libera, ou liberdade vigiada, e a custodia publica, ou detenção penal. São Paulo permaneceu durante dois anos naquela casa, espalhando o fogo da sua fé e o amor de Cristo em pleno coração da Roma imperial. Depois disso ele ainda fez algumas viagens até que vieram as cruéis perseguições do imperador Nero aos cristãos, multiplicando o número de mártires pela fé em Cristo. O segundo cativeiro de Paulo foi muito pior e cheio de dor. Paulo não tem dúvidas sobre a sentença final que estava chegando: “estou a ponto de derramar o meu sangue em sacrifício, e o momento da minha partida aproxima-se. Combati o bom combate, acabei a minha carreira, guardei a fé. De resto, está-me preparada a coroa da justiça que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia; porém, não só a mim, mas também àqueles que esperam com amor a Sua vinda” (2Tim 4, 16-17). Não sabemos se Timóteo chegou a tempo de dar o último abraço a quem ele e toda a sua família deviam a fé. Paulo foi condenado à morte e executado dez dias depois da sentença, como estabelecia a lei. Por se tratar de um cidadão romano, foi decapitado sem a presença de público e fora das muralhas da cidade. Chegara ao final seu êxodo. Do velho homem perseguidor de cristãos, em Damasco, ao apóstolo das gentes, em Roma. Chegara sua páscoa, o momento de se unir a seu Senhor.
Persevere em sua fé. Permaneça fiel em todas as circunstâncias. Você receberá a coroa ao final de sua jornada. Mas o dia de viver isso é HOJE!
Reze: “Ó glorioso São Paulo, que de perseguidor dos cristãos vos tornastes grande apóstolo, e que para anunciar o Cristo Salvador ao mundo inteiro, sofreste prisões, flagelações, apedrejamentos, naufrágios e perseguições de toda espécie, e, por fim, derramastes o vosso sangue, alcançai-nos a graça de aceitarmos e superarmos as doenças, sofrimentos e adversidades desta vida. Que nada nos desanime no serviço a Deus, mas sirva para crescermos na fé, na esperança e no amor. Amém.”
Guarde: “Pregava o Reino de Deus e ensinava as coisas a respeito do Senhor Jesus Cristo, com toda liberdade e sem proibição.” (At 28, 31)
Pratique: Durante essa semana, faça a cada dia um gesto de abstinência ou um ponto concreto de esforço para fortalecer sua sintonia com a Paixão e Morte do Senhor. Procure, especialmente participar da Missa da Instituição da santa Eucaristia.
40º Dia: Sexta-feira Santa, 15 de abril: FOI POR TI, PORQUE TE AMA!
Medite: João 18, 1 – 19, 42
Reflita: Chegamos ao cerne do mistério da cruz gloriosa do Senhor. Nosso Caminho Quaresmal, na companhia do Apóstolo Paulo nos trouxe até aqui. O caminho da cruz nos leva ao enfrentamento daquilo que precisa mudar em nós e na renovação de nosso seguimento do Mestre.
Na cruz fomos reconciliados com o Pai. Entrega: essa foi a marca de cada gesto, cada palavra do Mestre. Na cruz, ela se fez total. Ele tudo ofereceu, esvaziou-se até o completo aniquilamento. E foi por nós.
Numa casa cristã sempre há um crucifixo. Se ele ainda não existe em sua casa, procure tê-lo nem que seja você mesmo a confeccionar uma simples cruz com dois pedaços de madeira ou gravetos. Lembre-se da rústica cruz do Senhor. Medite no caminho do calvário. Sinta-se ao lado de Maria e João. E aí, diante do crucifico, ore:
Reze: Vejo-te, meu Jesus!
Sinto que aos poucos a vida que anima teu corpo esvai-se,
concentrando-se na essência de teu Ser, preparando-te para a ressurreição.
Teu corpo está ferido, o sangue, abundante que era, começa a coagular.
A dor, tremenda, parece anestesiar os sentidos, mas não tua capacidade de amar.
Ao contrário, à medida em que se torna mais aguda, mais agudo é teu amor.
Ainda ouço o pulsar de teu coração. Sinto-me, então, irresistivelmente atraído a ele.
Sei que é fonte de misericórdia e foi por isso que chegaste onde estás.
Foste elevado na cruz porque tua misericórdia é sem fim e querias derramá-la sobre toda a humanidade.
Como preciso de teu Coração! Olho para mim e percebo que não me entendo,
não consigo nem ser o dono de minha própria vida.
Por vezes sou tomado pela ilusão de que controlo alguma coisa. Ledo engano!
Confronto-me com a própria impossibilidade de meu ser.
Não sei, de fato, distinguir o que é melhor para mim.
Quantas vezes teimei em seguir tal caminho e deparei-me com o erro e a infelicidade.
Eis-me aqui! Deponho minha liberdade aos teus pés.
Mas sei que logo que a aceitas, tu ma devolves para que eu possa administrá-la.
Deparo-me, assim, de novo, lançado ao meu Eu com o dever de encaminhar os meus dias, de descobrir minhas próprias trilhas, de percorrer meus passos.
Não há outra maneira. Quisera que fosse diferente.
Talvez fosse mais fácil. Talvez pudesse culpar o Senhor por meus erros,
mas sou eu novamente que faço minhas escolhas. Sou eu que digo sim ou não.
Sou eu a resistir ou a seguir em frente,
de alma fechada ou aberta ao que queres de mim.
Permite, Jesus, que eu encontre o meu caminho passando por teu coração.
Permite que meus planos e sonhos sejam lavados em teu sangue.
Permite que eu aprenda de ti a ouvir o canto dos pássaros, o cair das chuvas,
o sussurrar dos ventos, o balbuciar das crianças ao peito.
Dá-me apurar meus ouvidos para ouvir a voz do Pai,
como Tu, que em cada coisa a distinguias.
Paro diante de tua cruz e ouço o silêncio dessa hora.
Que posso eu fazer se não amar-te mais?
Quero que seja essa a minha resposta.
Amém.
Guarde: “Um dos soldados abriu-lhe o lado com uma lança e, imediatamente, saiu SANGUE e ÁGUA.” (Jo 19, 34)
Pratique: Hoje é dia de jejum e abstinência de carne. Não deixe de participar, se possível for, da Celebração da Paixão e Morte do Senhor. Leve sua oferta para os “Lugares Santos”. Hoje, inicia-se a Novena da Divina Misericórdia. Reze o Terço da Misericórdia.
No Domingo de Páscoa
começa nossa jornada de 50 Dias até Pentecostes: NO CENÁCULO 2022