33º Dia: Domingo, 06 de abril

UMA CARÍCIA NA ALMA

A Escritura: “Senhor, ouvi a minha oração, e chegue até vós o meu clamor. Não oculteis de mim a vossa face no dia de minha angústia. Inclinai para mim o vosso ouvido. Quando vos invocar, acudi-me prontamente, porque meus dias se dissipam como a fumaça, e como um tição consomem-se os meus ossos. Queimando como erva, meu coração murcha, até me esqueço de comer meu pão. A violência de meus gemidos faz com que se me peguem à pele os ossos. Assemelho-me ao pelicano do deserto, sou como a coruja nas ruínas. Perdi o sono e gemo, como pássaro solitário no telhado.” (Salmo 101, 2-8)

O Papa: “O amor precisa da purificação das lágrimas que, no final, nos deixam mais sedentos de Deus e menos obcecados por nós próprios. Nesta contemplação do Coração de Cristo, entregue até ao fim, somos consolados. A dor que sentimos no coração dá lugar a uma confiança total e, por fim, resta a gratidão, a ternura, a paz, o seu amor reinante na nossa vida. A compunção não provoca angústia, mas alivia a alma dos seus pesos, porque intervém na ferida deixada pelo pecado, preparando-nos para receber lá mesmo a carícia do Senhor”. (n. 158 e 161)

Refletindo: Meu desejo e meu convite a você, hoje, que talvez esteja passando por um momento de aflição, é que expresse sua dor ao Coração de Jesus, através das palavras do Salmista. Mas, tão logo você fizer isso, vá às palavras do Santo Padre e nelas descanse. Elas são um verdadeiro alento para os nossos corações e, sendo oriundas do coração do doce Pedro de nossos dias, revestem-se de uma autoridade profética que se torna promessa de bênção em nossa vida. Não se centre em sua dor ou problema, mas, com confiança, na comunicação que o Coração do Senhor oferece.

Todavia, não são palavras dirigidas tão somente aos que estão sofrendo, mas a mim, a você que agora está nessa sintonia de fé. Será que você diria que não precisa delas? Quanto a mim, quero ir, imediatamente, Àquele que cura a ferida do meu pecado e me entrega essa carícia de amor que dá paz à minha alma e me ajuda a seguir em frente.

Nossa Oração: Amado Senhor, quando vou ao teu Coração, Tu me ofereces teu colo e, como a mãe que suavemente acaricia os cabelos de sua criança, assim me entregas tua carícia cheia de ternura que me devolve àqueles momentos em que não havia preocupações, medos ou ansiedade; não havia passado nem futuro, mas só presente, a presença. Permite que ao menos um pouco eu me desligue de toda a agitação que envolve minha vida e experimente, ainda que um lampejo, do que será um dia o céu. Preciso disso, meu Senhor, para poder voltar ao verdadeiro sentido de minha vida. Amém. 

Sagrado Coração de Jesus, eu confio em ti!

Para guardar: Gratidão, ternura e paz: teu amor em minha vida!


34º Dia: Segunda, 07 de abril

UM AMOR QUE NÃO SE FABRICA

A Escritura: “Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes” (Mateus 25, 40).

O Papa: “É preciso voltar à Palavra de Deus para reconhecer que a melhor resposta ao amor do seu Coração é o amor aos irmãos; não há maior gesto que possamos oferecer-lhe para retribuir amor por amor. A Palavra de Deus di-lo com toda a clareza: ‘Toda a Lei se cumpre plenamente nesta única palavra: Ama o teu próximo como a ti mesmo’ (Gl 5, 14); ‘Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos. Quem não ama, permanece na morte’ (1 Jo 3, 14); ‘Aquele que não ama o seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê’ (1 Jo 4, 20). O amor aos irmãos não se fabrica, não é fruto do nosso esforço natural, mas exige uma transformação do nosso coração egoísta.”

Refletindo: Desde que o Evangelho do Reino chegou à humanidade por meio d’Aquele que é, em Si, a grande e verdadeira Boa Nova, as palavras que Ele ensinou, seus exemplos e sua livre entrega na Cruz, estão aí e constituem-se no núcleo do grupo que Ele fundou para ser o sinal visível – sacramento – do Reino que veio anunciar. Mas século, após século, até mesmo em nome d’Ele quantas atrocidades têm sido cometidas. Como dizer-se seu discípulo e promover divisões, colocar armadilhas diante dos pés do outro, deixar-se levar pela inveja, pela ambição, pela maldade? Como ser discípulo d’Ele e ser preconceituoso, racista e discriminar os que são diferentes? Como conciliar tudo isso com o Evangelho de Jesus? E não é uma questão de fraqueza, pois fraqueza todos nós, não só temos, mas somos; é questão de escolhas deliberadas, de postura de vida, de pura manipulação. Para quem o juízo será mais rígido? Para aqueles que nem n’Ele creem, mas que procuram viver no respeito ao outro, com justiça, ou para aqueles que em nome d’Ele justificam exatamente o contrário? É só ler o Evangelho e você terá a resposta muito clara. De que lado estaremos?

Nossa meditação hoje apresenta mais perguntas que respostas, ao menos para nos posicionamos, mas o Papa faz um convite a todos: que nos deixemos transformar em nosso coração egoísta. De uma coisa você pode ter certeza: não faltará a graça necessária para que o Amor cresça e floresça em sua vida!

Nossa Oração: Senhor, faz crescer em mim o amor, com que o Senhor mesmo me tem amado. Sou incapaz por mim mesmo, pois o egoísmo e o orgulho gritam muito alto em mim e me tornam fechado. E eu sei que, sem amor, eu acabo por me isolar mais e mais e me tornando infeliz. Que eu expresse esse amor nas minhas palavras, minhas ações e meu olhar. Amoriza minha história em alguma experiência de desamor pela qual eu tenha passado. Perdoa-me pelo que eu tenha feito e que prejudicou ou feriu o meu próximo. Converte-me para o amor, Senhor, segundo teu Santíssimo e amoroso Coração. Amém.

Sagrado Coração de Jesus, eu confio em ti!

Para guardar: Liberta-me para o amor, Senhor!


35º Dia: Terça, 08 de abril

A MEDIDA DA CARIDADE DE CRISTO

A Escritura: “Dá a quem te pede e não te desvies daquele que te quer pedir emprestado. Tendes ouvido o que foi dito: Amarás o teu próximo e poderás odiar teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos [maltratam e] perseguem. Deste modo sereis os filhos de vosso Pai do céu, pois ele faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos.’ (Mateus 5, 42-45)

O Papa: Mesmo do ponto de vista da ferida do seu Coração, olhar para o Senhor, que ‘tomou as nossas enfermidades e carregou as nossas dores’ (Mt 8, 17), ajuda-nos a prestar mais atenção ao sofrimento e às necessidades dos outros, e torna-nos suficientemente fortes para participar na sua obra de libertação, como instrumentos de difusão do seu amor. Se contemplarmos a entrega de Cristo por todos, torna-se inevitável perguntarmo-nos por que razão não somos capazes de dar a nossa vida pelos outros: ‘Foi com isto que ficamos a conhecer o amor: Ele, Jesus, deu a sua vida por nós; assim também nós devemos dar a vida pelos nossos irmãos’ (1 Jo 3, 16).” (n. 171)

Refletindo: O outro torna-se meu próximo, quando saio de mim mesmo e desenvolvo a capacidade de me colocar no seu lugar: a isso damos o nome de compaixão; quando ofereço não apenas o que tenho, mas minha presença qualificada: a isso damos o nome de solidariedade; quando aprendo a não olhar de cima, mas de frente: a isso damos o nome de humildade; quando, mesmo não tendo muito o que fazer, coloco-me ao lado: a isso damos o nome de proximidade.

Nosso amor é muito limitado e nem sempre somos compassivos, solidários, humildes ou próximos, mas é assim que Jesus é em relação a todos nós, sobretudo com os mais fracos e sofredores. Mas tenho, efetivamente, procurado encarnar em minha vida aquilo que costumamos rezar: Jesus, manso e humilde de coração, fazei o meu coração semelhante ao vosso?

Convido você hoje a rezar comigo esta oração feita por Santo Afonso Maria de Ligório, pedindo a virtude da caridade:

Nossa Oração: “Amorosíssimo Redentor meu, quão longe estou de me parecer convosco! Vós não fostes senão caridade para os Vossos perseguidores, e eu, rancoroso e odiento para o meu próximo. Vós rogastes com tanto amor pelos que Vos crucificaram, e eu só penso em tomar vingança de quem me desagradou. Perdoai-me, ó meu Jesus, não quero mais ser o que fui. Dai-me a força de amar os que me ofendem e lhes fazer o bem. Não me abandoneis à fúria das minhas paixões; não permitais que suceda separar-me ainda de Vós. Ó Pai Celeste, não olheis para os meus pecados, mas olhai para Jesus Cristo, meu Salvador, que Vos ofereceu a sua vida em sacrifício para a minha salvação. Pelo amor de Jesus, tende de mim compaixão, e perdoai-me por vos ter ofendido tanto, especialmente pela minha pouca caridade para com o próximo. Amém!”

Sagrado Coração de Jesus, eu confio em ti!

Para guardar: Torna-me compassivo, solidário, humilde e próximo!


36º Dia: Quarta, 09 de abril

CONSTRUINDO A CIVILIZAÇÃO DO AMOR

A Escritura: “De que serve jejuar, se com isso não vos importais? E mortificar-nos, se nisso não prestais atenção?” É que no dia de vosso jejum, só cuidais de vossos negócios, e oprimis todos os vossos operários. Passais vosso jejum em disputas e altercações, ferindo com o punho o pobre. Não é jejuando assim que fareis chegar lá em cima vossa voz. O jejum que me agrada porventura consiste em o homem mortificar-se por um dia? Curvar a cabeça como um junco, deitar sobre o saco e a cinza? Podeis chamar isso um jejum, um dia agradável ao Senhor? Sabeis qual é o jejum que eu aprecio? – diz o Senhor Deus: é romper as cadeias injustas, desatar as cordas do jugo, mandar embora livres os oprimidos, e quebrar toda espécie de jugo. É repartir seu alimento com o esfaimado, dar abrigo aos infelizes sem asilo, vestir os maltrapilhos, em lugar de desviar-se de seu semelhante. Então, tua luz surgirá como a aurora, e tuas feridas não tardarão a cicatrizar-se; tua justiça caminhará diante de ti, e a glória do Senhor seguirá na tua retaguarda. Então, às tuas invocações, o Senhor responderá, e a teus gritos dirá: “Eis-me aqui!”. Se expulsares de tua casa toda a opressão, os gestos malévolos e as más conversações; se deres do teu pão ao faminto, se alimentares os pobres, tua luz se levantará na escuridão, e tua noite resplandecerá como o dia pleno.” (Isaías 58, 3-10)

O Papa: “São João Paulo II explicou que, entregando-nos em conjunto ao Coração de Cristo, ‘sobre as ruínas acumuladas pelo ódio e pela violência, poderá ser construída a civilização do amor tão desejada, o Reino do Coração de Cristo’; isto implica certamente que sejamos capazes de «unir o amor filial para com Deus ao amor do próximo»; pois bem, ‘é esta a verdadeira reparação pedida pelo Coração do Salvador’. Junto a Cristo, sobre as ruínas que, com o nosso pecado, deixamos neste mundo, somos chamados a construir uma nova civilização do amor. Isto é reparar conforme o que o Coração de Cristo espera de nós. No meio do desastre deixado pelo mal, o Coração de Cristo quis precisar da nossa colaboração para reconstruir a bondade e a beleza.” (n. 182)

Refletindo: Será que a gente consegue imaginar essas “ruínas acumuladas pelo ódio e pela violência”, como mencionadas pelo Papa Francisco, ao citar São João Paulo II? Como está tudo ao alcance, não só dos nossos olhos, mas até de nossas mãos, pelo celular, as cenas diárias que assistimos de violência urbana, guerras, catástrofes podem se misturar à ficção que, igualmente, consumimos. E não há dúvida que se espalha entre as nações, sobretudo entre os poderosos, aquela atitude tão fortemente denunciada pelo Papa Francisco: a indiferença. Numa de suas homilias, Francisco diz de forma muito coloquial e clara: “O amor de Deus move-se sempre primeiro, pois é amor de compaixão, de misericórdia: dá o primeiro passo, sempre. E é verdade que o oposto do amor é o ódio, mas muitas pessoas não têm um ódio consciente. O oposto mais frequente ao amor de Deus, à compaixão de Deus, é a indiferença que leva a dizer: ‘estou satisfeito, nada me falta. Tenho tudo, garanti nesta vida, e inclusive a eterna, porque vou à missa todos os domingos, sou um bom cristão. Mas, saindo do restaurante, olho para o outro lado’”. Pois bem, a indiferença se manifesta de forma muito sutil e, se a gente prestar atenção, verá que ela está mais presente no cotidiano do que se imagina. Que a bondade e a beleza de Coração de Jesus estendam-se sobre nosso mundo, inclusive pelos nossos gestos.

Nossa Oração: Senhor, os destroços que o ser humano causa ao mundo, por seu egoísmo e maldade, espalham-se por todos os lados, gerando guerras e destruição, miséria e morte. Livra-nos da indiferença polida que se disfarça num sentimento de incapacidade de mudar a realidade e também do pessimismo determinista de que tudo está perdido. Ajuda-nos a criar, por ações pessoais e na constituição de redes de solidariedade a civilização do amor, como é do teu desejo para a humanidade. Assim sabemos que é o desejo do teu Santíssimo Coração que “todos tenham vida e a tenham em abundância. Amém.

Sagrado Coração de Jesus, eu confio em ti!

Para guardar: Que tua bondade e beleza restaurem nosso mundo ferido!


37º Dia: Quinta, 10 de abril

PERDOAR COM TEU PERDÃO

A Escritura: “Se estás, portanto, para fazer a tua oferta diante do altar e te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; só então vem fazer a tua oferta.” (Mateus 5, 23-24)

O Papa: “Não bastam as boas intenções; é indispensável um dinamismo interior de desejo, que terá consequências externas. Em suma, ‘a reparação, para ser cristã, para tocar o coração da pessoa ofendida e não ser um simples ato de justiça comutativa, pressupõe duas atitudes exigentes: reconhecer a culpa e pedir perdão […] É deste reconhecimento honesto do mal causado ao irmão, e do sentimento profundo e sincero de que o amor foi ferido, que nasce o desejo de reparar’. Faz parte deste espírito de reparação o bom hábito de pedir perdão aos irmãos, que revela uma enorme nobreza no meio da nossa fragilidade. Pedir perdão é uma forma de curar as relações pois ‘reabre o diálogo e manifesta o desejo de restabelecer o vínculo da caridade fraterna […], toca o coração do irmão, consola-o e inspira-o a aceitar o perdão pedido. Assim, se o irreparável não pode ser completamente reparado, o amor pode sempre renascer, tornando a ferida suportável” (n. 187 e 189)

Refletindo: Como falar do Coração de Jesus sem falar do perdão? Como dizer que se está com o coração aberto, se se recusa a perdoar? Como viver na inteireza e ter o coração continuamente ferido pela mágoa ou empedernido pela falta de perdão? Uma das experiências mais libertadoras que uma pessoa pode fazer é exatamente a experiência do perdão. Quando perdoamos, tornamo-nos mais saudáveis. Segundo Flora Victoria, mestre em psicologia positiva aplicada pela Universidade da Pensilvânia, “o perdão é extremamente eficaz no controle da raiva, pois seu objetivo é exatamente esse: libertar a pessoa que perdoa dos efeitos nocivos que surgem quando nos vemos prisioneiros dessas emoções”. Estudiosos mostram que um processo de perdão abandonado pela metade gera um nível elevado de culpa. Já a culpa é uma variante da angústia. “Quanto mais angustiados, mais expostos ficamos a doenças psicossomáticas, desenvolvimento de sintomas psicológicos, dificuldade em ter contato com o outro de forma empática. Nos individualizamos, ficamos solitários conforme não criamos laços”, destaca o psicanalista brasileiro, Christian Dunker. Mas, muito antes da psicologia mostrar os efeitos do perdão no nosso psiquismo, Jesus já apontava o perdão como caminho necessário para uma vida liberta e de acordo com a Vontade de Deus.

Do que você se dá conta ao meditarmos sobre o perdão? Alguma ferida aberta ou com dificuldade para cicatrizar em seu interior e que você deve expor, mais uma vez, ao Divino Médico para que possa trazer o bálsamo do perdão ao seu coração?

Nossa Oração: Amado Jesus, recorro ao teu Coração, como o enfermo ao médico. Apresento-te o meu pobre e limitado coração. Reconheço a beleza e a bondade que nele colocaste e te bendigo por tudo aquilo que sou capaz de fazer de bom e também por aquilo que tenho, de tantas formas, recebido como manifestação de amor em minha vida. As mágoas e ressentimentos que, porventura, estiverem em mim, eu as entrego em tuas mãos. Dá-me a graça do perdão e a capacidade de perdoar com o teu perdão. E eu sei, Jesus, que isso só se tornará possível se eu aprender a olhar com os teus olhos, pois, assim poderei ver de uma forma nova tudo o que já se passou em minha vida. Eis aqui o meu coração! Cuida dele, Senhor, cuida de mim. Amém.

Sagrado Coração de Jesus, eu confio em ti!

Para guardar: No perdão, minha alma pode renascer! Obrigado!


38º Dia: Sexta, 11 de abril

CONFIANÇA, ABERTURA E LUZ

            *Dia de Jejum

A Escritura: “Porque é Deus quem, segundo o seu beneplácito, realiza em vós o querer e o executar. Fazei todas as coisas sem murmurações nem críticas, a fim de serdes irrepreensíveis e inocentes, filhos de Deus íntegros no meio de uma sociedade depravada e maliciosa, onde brilhais como luzeiros no mundo, a ostentar a palavra da vida. Dessa forma, no dia de Cristo, sentirei alegria em não ter corrido em vão, em não ter trabalhado em vão.” (Filipenses 2, 13-16)

O Papa: “A nossa rejeição ou indiferença limitam os efeitos do seu poder e a fecundidade do seu amor em nós. Se Ele não encontra em mim confiança e abertura, o seu amor fica privado – porque Ele mesmo assim o quis – do seu prolongamento na minha vida, que é única e irrepetível, e no mundo onde me chama a torná-lo presente. Isso não vem da sua fragilidade, mas da sua liberdade infinita, do seu poder paradoxal e da perfeição do seu amor por cada um de nós. Quando a onipotência de Deus se manifesta na fraqueza da nossa liberdade, só a fé a pode descobrir.” (n. 193)

Refletindo: O Papa está se referindo à ação de Deus que, de alguma forma, está “condicionada” à nossa correspondência. Como disse o próprio Papa, isso é paradoxal, ou seja, Deus é o Onipotente e, ao mesmo tempo, fez-se impotente no esvaziamento (Kenosis) de Cristo que, sendo Deus, abriu mão de sua glória divina para assumir a natureza humana, como demonstra o apóstolo Paulo: “Sendo Ele de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens. E, sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fp 2, 6-8).  Na sua total liberdade, Deus acolhe a nossa liberdade como limitante na sua ação, mas não como impediente da sua Divina Vontade.

Na próxima sexta-feira, na celebração da Paixão e Morte do Senhor, iremos mergulhar nesse imenso mistério. A Cruz é o sinal claro desse paradoxo que só o Amor misericordioso de Deus pode realizar. E Ele continua a agir em nosso meio e, através de nós, no mundo. Se o mundo não é melhor, mais justo, mais fraterno, mais pacífico, mais humano é porque não correspondemos ao que Deus quer de nós. Imagine cada cristão – e cada pessoa de boa vontade – sendo esse luzeiro apontado por Paulo. Teríamos milhões de pequenos pontos de luz brilhando em meio ao mundo. Certamente em nossa sociedade as trevas seriam, aos poucos, vencidas e a noite cederia seu lugar à luz do dia.

Nossa Oração: Tu escolheste participar de nossa humana condição, para que sejamos inseridos no seio da tua divindade. Tu escolheste assumir nossos limites, para que possamos provar do teu infinito. Tu escolheste caminhar em nossas sendas, para que possamos voar nos teus céus. Tu escolheste visitar nossas margens, para que possamos mergulhar nas tuas profundezas. Tu escolheste morrer a nossa morte, para que possamos nos tornar herdeiros da vida eterna. Tu nos fizeste filhos e comunicaste tua luz ao nosso coração. Pela ação do teu Espírito, dá-nos, pois, reluzir, para que, a cada passo, deixemos rastros de luz. Fecunda-nos no poder de tua graça. Amém.

Sagrado Coração de Jesus, eu confio em ti!

Para guardar: Do centro do meu ser, reluza tua presença onde eu estiver!


39º Dia: Sábado, 12 de abril

MISSÃO: UMA QUESTÃO DE AMOR

A Escritura: “A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém dizia que eram suas as coisas que possuía, mas tudo entre eles era comum. Com grande coragem os apóstolos davam testemunho da Ressurreição do Senhor Jesus. Em todos eles era grande a graça. Nem havia entre eles nenhum necessitado, porque todos os que possuíam terras ou casas vendiam-nas, e traziam o preço do que tinham vendido e depositavam-no aos pés dos apóstolos. Repartia-se então a cada um deles conforme a sua necessidade.” (Atos 4, 32-35)

O Papa: “À luz do Sagrado Coração, a missão torna-se uma questão de amor, e o maior risco desta missão é que se digam e façam muitas coisas, mas não se consiga promover o encontro feliz com o amor de Cristo que abraça e salva. A missão, entendida a partir da irradiação do amor do Coração de Cristo, requer missionários apaixonados, que se deixem cativar por Cristo e que inevitavelmente transmitam esse amor que mudou as suas vidas. Por isso, custa-lhes perder tempo a discutir questões secundárias ou a impor verdades e regras, porque a sua principal preocupação é comunicar o que vivem e, sobretudo, que os outros percebam a bondade e a beleza do Amado através dos seus pobres esforços. Falar de Cristo, pelo testemunho ou pela palavra, de tal modo que os outros não tenham de fazer um grande esforço para o amar, é o maior desejo de um missionário da alma.” (n. 208 a 210)

Refletindo: Estamos terminando nossa Jornada Quaresmal com o Coração de Cristo, sob a inspiração do Papa Francisco. E a perspectiva que apresento a você não poderia ser outra que a da Missão. Não dá para fazer “três tendas” no Coração do Senhor e ali ficar numa contemplação alheia ao mundo. É preciso subir o Tabor, mas é essencial dele descer. A gente entra no Coração do Senhor para poder ser coração palpitante da divina presença em meio ao mundo. O Senhor mesmo disse aos seus discípulos que os precederia na Galileia, após a Ressurreição (Mt 26, 32), onde tudo começou. Chegara a hora deles assumirem a missão, de darem testemunho do que haviam ouvido e visto.

Tertuliano, um dos chamados “padres (pais) da Igreja”, que viveu entre os séculos II e III, mostra como a Comunidade dos fiéis era um sinal para os pagãos, na forma como viviam. Ficou célebre a frase que ele recolhera de muitos que observavam os cristãos: “vejam como eles se amam entre eles”. É o mesmo espírito retratado por São Lucas, nos versículos citados acima nos Atos dos Apóstolos. A missão é desempenhada, em primeiro lugar telo testemunho que é dado pela vivência do amor mútuo e na acolhida fraterna a todos. A isso, o Papa chama de “irradiação” que promove um encontro pessoal com a pessoa de Jesus.

Logo chegará a Páscoa. Como você viverá a Semana Santa que terá seu início amanhã? Procure participar ativamente de cada momento celebrativo durante a semana. Eu costumo dizer que a Semana Santa é um retiro no cotidiano. Semana Santa não tem feriado; tem dias santos! Como você a viverá? Como feriado ou como dias a serem santificados?

Convido você a rezar comigo a Oração do Discípulo-Missionário:

Nossa Oração: “Divino amigo e mestre Jesus Cristo: Embora frágil e pecador, eis-me humildemente em tua presença, para renovar meus compromissos de discípulo e missionário teu. Consagro-me ao teu serviço, para anunciar e testemunhar o Reino, grande sonho teu, pelo qual entregaste a vida! Instrui-me, fortifica-me, conduze-me, consagra-me na Palavra da Verdade, para que teu povo seja também nela consagrado (Jo 17, 28).

Divino Espírito Santo, que és fogo renovador, consolador e defensor divino, força dos fracos e pai dos pobres! Como ungiste, enviaste, fortaleceste e sustentaste Jesus em sua missão (Lc 4,1-19), unge-me, ilumina-me, sustenta-me nos desafios de continuador da mesma missão do Cristo.

Ó Jesus, Bom Pastor e fiel missionário do Pai: confirma-me na fé, na vocação, na escuta da Palavra, na obediência à tua vontade, na comunhão e na fidelidade a tua Igreja e no amor generoso pelo teu povo. Faz de mim teu verdadeiro e fiel discípulo-missionário, simples, alegre, humilde, despojado, corajoso, generoso e disponível.

Purifica, ó Jesus, todos os meus pensamentos, desejos, sentimentos, atitudes, gestos e palavras, para que, a teu exemplo, o meu ser e minhas ações sejam sinais do teu amor, da tua misericórdia e compaixão, especialmente pelos mais fracos, sofredores e abandonados.

Ó Maria, fiel Discípula Missionária, Mãe e testemunha da Palavra, servidora de Deus e do povo: abençoa-me e peregrina comigo, ao longo dos caminhos da missão. Amém!”

Sagrado Coração de Jesus, eu confio em ti!

Para guardar: Torna-me, Senhor, missionário do teu Coração amoroso!