26º Dia: Domingo, 30 de março

O DESEJO E O PRINCÍPIO DO AMOR

A Escritura: “Quem tiver ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao vencedor darei o maná escondido e lhe entregarei uma pedra branca, na qual está escrito um nome novo que ninguém conhece, senão aquele que o receber.” (Apocalipse 2, 17)

O Papa: “‘Que sejamos tão amados por Nosso Senhor a ponto de nos levar sempre no seu Coração’ (São Francisco de Sales). Este nome próprio escrito no Coração de Cristo foi o modo como São Francisco de Sales procurou simbolizar até onde o amor de Cristo por cada um não é abstrato ou genérico, mas implica uma personalização em que o fiel se sente valorizado e reconhecido em si mesmo: ‘Quão belo é este Céu, agora que o Salvador é como um sol e o seu peito como uma fonte de amor da qual os bem-aventurados bebem à vontade! Cada um vai lá dentro olhar e vê o seu nome escrito em caracteres de amor, que só o amor sabe ler e que só o amor ali gravou. Ah, Deus! Minha querida filha, não estarão lá os nossos? Estarão, sem dúvida; pois, embora o nosso coração não tenha amor, tem o desejo do amor e o princípio do amor’”. (n. 115)

Refletindo: No dia de ontem meditamos um pouco sobre a mensagem do Coração de Jesus através de Santa Gertrudes e, hoje, trago, com o Papa Francisco, a experiência do grande São Francisco de Sales. Procure criar em sua mente a imagem apresentada pelo santo.

Você já fez vestibular, participou de um concurso ou esperou uma vaga de emprego muito concorrida? Já teve a experiência de ver o seu nome na lista dos aprovados? Eu já tive essa experiência e é muito boa! Mas dê um passo a mais na sua meditação: você consegue imaginar o que São Francisco de Sales descreve? E não é somente a imagem, mas as palavras por ele usadas. São dignas de serem grifadas e gravadas em nosso coração. Junte à imagem do nosso nome escrito no Coração do Senhor àquela que está no livro do Apocalipse: um nome novo escrito numa pedrinha branca. A singeleza das imagens fala daquilo que está muito além das palavras; é uma dádiva íntima de pura gratuidade, do puro amor que Jesus tem por nós, pois, ainda que “nosso coração não tenha amor, tem o desejo do amor e o princípio do amor”, como nos diz São Francisco de Sales.

Nossa Oração: Senhor, corro em direção ao teu Coração, ainda que não tenha a ligeireza do amor do discípulo amado que logo chegou ao sepulcro e viu a pedra removida. Assemelho-me, muito mais a Simão Pedro que demorou muito mais, talvez pelos tantos pesos que carregava consigo. Mas corro e não desisto, como Pedro também não desistiu. E o que ali encontro? Meu nome já está escrito nas paredes de teu Santíssimo Coração! Sim, Tu já me esperavas, bem antes que eu me movesse em direção a ti. Minha respiração está ofegante, mas descanso na paz da tua infinita misericórdia. Sou grato, sou profundamente grato. Amém.

Sagrado Coração de Jesus, eu confio em ti!

Para guardar: Meu nome está gravado nas paredes de teu Coração!


27º Dia: Segunda, 31 de março

O CORAÇÃO E O DISCERNIMENTO

A Escritura: “Examinai tudo: abraçai o que é bom.” (1Tessalonicenses 5, 21)

O Papa: “Tal proposta deve ser sempre relida à luz do Evangelho e de toda a rica tradição espiritual da Igreja, reconhecendo ao mesmo tempo o bem que fez em tantos irmãos e irmãs. Isto permite-nos reconhecer os dons do Espírito Santo no seio dessa experiência de fé e de amor. Mais importante do que os pormenores é o núcleo da mensagem que nos é transmitida e pode ser resumido nas palavras que Santa Margarida ouviu: ‘Eis aqui este Coração que tanto tem amado os homens, que a nada se tem poupado até se esgotar e consumir para lhes testemunhar o seu amor’” (n. 121)

Refletindo: O Papa está se referindo ao que Santa Margarida Maria escreveu a partir de suas visões. Eu quis, especialmente, trazer este trecho da Encíclica para lembrar que as vidências de quaisquer pessoas, inclusive dos santos, não são dogmas e não precisam ser aceitas como regra de fé. Para uma pessoa ser verdadeiramente católica, não tem a obrigação de crer em tais revelações, mas tão somente no Evangelho e naquilo que a Igreja testifica como revelado.

No entanto, sempre há algo que se pode depreender da experiência desses servos de Deus, que foram tão íntimos do Coração do Senhor e que partilham conosco aquilo que eles mesmos vivenciaram. É também um convite para cada um apurar sua sensibilidade, porque o Senhor também lhe fará suas comunicações. Não pense em vozes ou visões, mas naquela sintonia interna que o Espírito Santo produz na alma do crente. Tudo deve convergir para o Evangelho. E lembre-se: se for algo que o conduza para afastar-se da Igreja, renuncie logo, pois não será do Espírito Santo.

Aos poucos, a celebração da Páscoa do Senhor se aproxima. Você já fez um bom exame de consciência e confessou-se? Caso não, predisponha-se para fazê-lo. Não deixe para última hora.

Nossa Oração: Eu te bendigo, Senhor, pela imensa multidão de testemunhas que no decorrer da história o Espírito Santo atraiu ao vosso Coração e que deixaram a partilha fraterna daquilo que o Senhor lhes comunicou. Quero, sobretudo, aprender com eles a ser dócil ao vosso Coração. Leva-me a esse tipo de intimidade que só o amor verdadeiro pode realizar. Guarda-me das incidias do maligno que quer me afastar de Vós e dos vossos caminhos. Amém.

Sagrado Coração de Jesus, eu confio em ti!

Para guardar: Por ti, em ti e para ti, sempre, Jesus!


28º Dia: Terça, 1º de abril

A PAZ QUE BROTA DO CORAÇÃO

A Escritura: “Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não vo-la dou como o mundo a dá. Não se perturbe o vosso coração, nem se atemorize!” (João 14, 27)

O Papa: “Enquanto algumas expressões de Santa Margarida, se mal-entendidas, poderiam levar a confiar demasiado nos próprios sacrifícios e ofertas, São Cláudio evidencia que a contemplação do Coração de Cristo, se for autêntica, não provoca complacência em si mesmo nem vanglória nas experiências ou esforços humanos, mas um abandono indescritível em Cristo que enche a vida de paz, segurança e decisão.” (n. 126)

Refletindo: Para suas tribulações, n’Ele está a paz que você procura; para suas tempestades, n’Ele está a paz que acalma os ventos; para os seus medos, n’Ele está a paz que restaura a confiança; para suas lágrimas, n’Ele está a paz que consola; para os seus pecados, n’Ele está a paz que perdoa; para suas dúvidas, n’Ele está a paz que confirma; para suas noites, n’Ele está a paz que faz adormecer. Mas é uma paz inquieta, como costuma dizer Pe. Zezinho. Ela não gera acomodação, mas coloca a caminho; não isola, numa tranquilidade individualista, mas mobiliza em direção ao outro; não é uma torre de segurança, enquanto o mundo se consome em guerra, mas um convite a fazer deixar cair toda e qualquer arma. Ela dá fortaleza interior, mas se solidariza com o que sofre; por ser paz de verdade, pode até gerar alguma angústia, pois dilata a consciência diante do mal e da falta de paz que existe no meio da humanidade. Agora, em meio a tudo isso, você pode ter uma certeza: ninguém nem nada a poderá roubar do seu coração, pois é fruto da presença mesma do Senhor junto de você!

Vamos rezar com São Cláudio de la Colombière, conforme está citado no mesmo número da Encíclica do Papa:

Nossa Oração: “Meu Deus, estou tão convencido que velais sobre aqueles que em Vós confiam, e que nada pode faltar a quem de Vós tudo espera, que resolvi viver o futuro sem preocupação alguma, e descarregar sobre Vós todas as minhas preocupações. O que nunca perderei é a esperança; conservá-la-ei até o último instante da minha vida, embora todas as potências infernais se esforcem em vão por me roubar. Esperem outros a felicidade das suas riquezas e talentos; confiem na inocência da sua vida, no rigor da sua penitência, no número das suas boas obras ou no fervor das suas orações. Quanto a mim, toda a minha confiança está fundada nesta minha mesma confiança. Ela nunca enganou ninguém. E assim, estou seguro de que serei eternamente bem-aventurado, porque espero firmemente sê-lo, e é de Vós, ó meu Deus, que o espero”.

Sagrado Coração de Jesus, eu confio em ti!

Para guardar: Paz, segurança e decisão é o que o Senhor me dá!


29º Dia: Quarta, 02 de abril

UM PURGATÓRIO DE ARDENTE AMOR

A Escritura: “No primeiro dia que se seguia ao sábado, Maria Madalena foi ao sepulcro, de manhã cedo, quando ainda estava escuro. Viu a pedra removida do sepulcro. Correu e foi dizer a Simão Pedro e ao outro discípulo a quem Jesus amava: ‘Tiraram o Senhor do sepulcro, e não sabemos onde o puseram!’… Os discípulos, então, voltaram para as suas casas. Entretanto, Maria se conservava do lado de fora perto do sepulcro e chorava. Chorando, inclinou-se para olhar dentro do sepulcro. Viu dois anjos vestidos de branco, sentados onde estivera o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos pés. Eles lhe perguntaram: ‘Mulher, por que choras?’. Ela respondeu: ‘Porque levaram o meu Senhor, e não sei onde o puseram’. Ditas essas palavras, voltou-se para trás e viu Jesus em pé, mas não o reconheceu. Perguntou-lhe Jesus: ‘Mulher, por que choras? Quem procuras?’. Supondo ela que fosse o jardineiro, respondeu: ‘Senhor, se tu o tiraste, dize-me onde o puseste e eu o irei buscar’. Disse-lhe Jesus: ‘Maria!’ Voltando-se ela, exclamou em hebraico: ‘Rabôni!’ (que quer dizer Mestre).” (João 20, 1-12.10-16)

O Papa: “Talvez o texto mais relevante para compreender o significado da devoção de Santa Terezinha do Menino Jesus ao Coração de Cristo seja a carta que escreveu, três meses antes de falecer, ao seu amigo Maurice Bellière: ‘Quando vejo Madalena avançar na presença dos numerosos convidados, banhar com as suas lágrimas os pés do Mestre adorado que toca pela primeira vez, sinto que o coração dela compreendeu os abismos de amor e de misericórdia do Coração de Jesus, e que, por muito pecadora que ela seja, este Coração de amor está não só disposto a perdoar-lhe, mas ainda a prodigalizar-lhe os benefícios da sua intimidade divina, a elevá-la até aos mais altos cumes da contemplação. Ah! meu querido Irmãozinho, desde que me foi dado compreender também o amor do Coração de Jesus, confesso que ele afastou do meu coração todo o temor. A lembrança das minhas faltas humilha-me, leva-me a nunca me apoiar na minha força que é só fraqueza, mas esta lembrança fala-me ainda mais de misericórdia e de amor’” (n. 136)

Refletindo: Pensemos nessas duas grandes mulheres que viveram em tempos tão diversos, com uma história pessoal tão diferente uma da outra, mas que experimentaram, com a mesma intensidade, o amor do Mestre. Não importa qual seja a nossa história nem o tempo ou circunstâncias em que vivemos: o amor unifica aqueles que fazem a real experiência de fé. A gente pode até pensar: puxa, mas quem sou eu para me comparar com Maria Madalena ou Terezinha? Sim, quem é você para se comparar, até porque não é mesmo para comparar; é para viver sua própria história, com seus próprios condicionamentos. Apenas leve a Ele seu coração e vá construindo aos poucos seu relacionamento. A graça será comunicada à medida que for necessário pra você. O Senhor o sabe.

Convido você a rezar com Santa Terezinha do Menino Jesus nesse trecho também citado pelo Papa:

Nossa Oração: “Preciso de um coração ardente de ternura, que me dê a sua força sem reserva, que ame tudo em mim, mesmo a minha fraqueza…, que nunca me abandone de noite nem de dia. Preciso de um Deus que se revista da mesma natureza que se torne meu irmão e possa sofrer! Ah! bem sei que todas as nossas justiças não têm a teus olhos nenhum valor. E eu escolho para meu purgatório o teu Amor ardente, ó Coração do meu Deus”. (n. 135)

Sagrado Coração de Jesus, eu confio em ti!

Para guardar: Eu escolho para meu purgatório o Coração do meu Deus!


30º Dia: Quinta, 03 de abril

ALÉM DE QUAISQUER MEDOS

A Escritura:  “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos. Vós sois meus amigos, se fazeis o que vos mando. Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz seu senhor. Mas chamei-vos amigos, pois vos dei a conhecer tudo quanto ouvi de meu Pai.” (João 15, 13-15)

O Papa: O Papa Francisco continua citando Santa Teresa do Menino Jesus: “Numa carta ao padre Adolphe Roulland diz: ‘O meu caminho é todo de confiança e de amor, não compreendo as almas que têm medo de um Amigo tão terno. Às vezes quando leio certos tratados espirituais em que a perfeição é apresentada através de inúmeras dificuldades, rodeada por uma quantidade de ilusões, a minha pobre inteligência cansa-se muito depressa, fecho o sábio livro que me quebra a cabeça e me seca o coração e pego na Sagrada Escritura. Então tudo me parece luminoso, uma só palavra revela à minha alma horizontes infinitos, a perfeição parece-me fácil, vejo que basta reconhecer o próprio nada e abandonar-se como uma criança nos braços de Deus’”. (n. 141)

Refletindo: Que profunda liberdade espiritual manifestada por Santa Terezinha! Não é sem motivo que sua espiritualidade se caracteriza pelo que se chama de “infância espiritual”: à semelhança de uma criança que espera confiantemente pelo pai. Nesse trecho da carta ao Pe. Roulland, ela fala do “Amigo tão terno”. Não há medo; só há confiança no Divino Amigo, do qual se pode aproximar com o coração todo aberto, apresentando tudo o que se é e vive, sem restrições.

Somos assaltados por tantos medos, de origens tão diversas, não é mesmo? Você carrega algum medo em sua alma? Ele tem paralisado você em sua jornada? Vá ao Bom Amigo e leve-os, sejam quais forem. Pode ser até algum medo inconfesso que habita nos porões de sua memória e que vai carcomendo aos poucos o psiquismo, qual um cupim que só depois de fazer seu estrago é percebido. Por vezes, a gente só vê o resultado, até sem saber direito qual é a causa.

Nossa Oração: Terno Amigo, Jesus. Que bom poder saber que posso ir ao teu Coração, assim como estou. Ajuda-me a dissolver aqueles medos que me paralisam diante da vida. Toca, por favor, nas causas conscientes ou inconscientes desses medos. Recebo tua promessa: “não tenhais medo, pequeno rebanho” (Lc 12, 32). Ela afaste as apreensões de minha alma e me ajude a descansar em teus braços. Sejas bendito em teu Amor, amado Amigo. Amém.

Sagrado Coração de Jesus, eu confio em ti!

Para guardar: Como criança, abandono-me nos teus braços!


31º Dia: Sexta, 04 de abril

MEMÓRIA, ENTENDIMENTO E VONTADE

*** Dia de Jejum ***

A Escritura: “Ou imaginais que em vão diz a Escritura: Sois amados até o ciúme pelo Espírito que habita em vós? Deus, porém, dá uma graça ainda mais abundante. Por isso, ele diz: Deus resiste aos soberbos, mas dá sua graça aos humildes (Pr 3,34).” (Tiago 4, 5-6)

O Papa: “Santo Inácio termina as contemplações aos pés do Crucificado, convidando o exercitante a dirigir-se com grande afeto ao Senhor crucificado e perguntar-lhe ‘como um amigo fala a outro, ou um servo a seu senhor’ o que deveria fazer por Ele. O itinerário dos Exercícios culmina na ‘Contemplação para alcançar amor’, da qual brota a ação de graças e a oferta da ‘memória, do entendimento e da vontade’ ao Coração que é fonte e origem de todo o bem. Tal conhecimento interior do Senhor não se constrói com as nossas luzes e esforços, mas pede-se como um dom.” (n. 145)

Refletindo: Tudo é dom e feliz é aquele que tem essa consciência, pois desenvolve a capacidade da gratidão e, quanto mais se agradece, mais se recebe, pois mais se predispõe aos dons que são comunicados. Você pode ter certeza disso em todas as áreas de sua vida. É só abrir-se e experimentar! Mas está muito além das coisas, é expressão do ser: brota do ser e dirige-se ao ser, ou seja, ao que é mais essencial, pois é fonte. Por ser essencial, não é parcial, pois envolve, como diz Santo Inácio, todo o ser: memória, entendimento e vontade. É, portanto, total ou totalizante.

Como não temos o domínio dessa tríplice constituição, só pode ser apresentada como oferta, dado que não é posse. Daí, a pergunta que Inácio estimula o discípulo (entenda-se o exercitante no seu método de oração) a fazer ao Senhor: o que posso eu fazer pelo Senhor? Perceba que é muito mais do que uma oferta feita por meio de palavras; é atitude concreta que envolve, por vezes, decisão, renúncia, superação, colaboração. Mas o Senhor sempre estará lá para assistir o amigo que assim se dispôs.

Hoje, nós iremos rezar com Santo Inácio de Loyola esta belíssima e conhecida oração da oferta de si;

Nossa Oração: “Recebei, Senhor, minha liberdade inteira. Recebei minha memória, inteligência e toda a minha vontade. Tudo que tenho e possuo, de Vós me veio. Tudo Vos devolvo e entrego sem reservas, para que Vossa vontade tudo governe. Dai-me somente o Vosso amor e a Vossa graça, e nada mais Vos peço, pois já serei bastante rico. Amém.”

Sagrado Coração de Jesus, eu confio em ti!

Para guardar: Como um amigo fala ao seu amigo, assim falo contigo, Senhor!


32º Dia: Sábado, 05 de abril

A PARTICIPAÇÃO NA PAIXÃO DO SENHOR

A Escritura: “É necessário que permaneçais fundados e firmes na fé, inabaláveis na esperança do Evangelho que ouvistes, que foi pregado a toda criatura que há debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, fui constituído ministro. Agora me alegro nos sofrimentos suportados por vós. O que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne, por seu corpo que é a Igreja.” (Colossenses 1, 23-24)

O Papa: “Em todo o caso, perguntamo-nos como é possível relacionarmo-nos com Cristo vivo, ressuscitado, plenamente feliz e, ao mesmo tempo, consolá-lo na Paixão. Consideremos que o Coração ressuscitado conserva a sua ferida como uma memória constante, e que a ação da graça provoca uma experiência que não está inteiramente contida no instante cronológico… As separações temporais utilizadas pela nossa mente parecem incapazes de abranger a verdade desta experiência de fé, onde se fundem a união com Cristo sofredor e, ao mesmo tempo, a força, a consolação e a amizade que temos com o Ressuscitado. É o Ressuscitado que, pela ação da sua graça, torna possível que estejamos misteriosamente unidos à sua paixão… A devoção da consolação não é a-histórica ou abstrata, mas torna-se carne e sangue no caminho da Igreja.” (n. 155 a157)

Refletindo: O Senhor está ressuscitado e suas chagas cicatrizadas, mas não foram apagadas de seu Corpo glorioso; Ele traz em si as marcas da história que viveu e as mostra aos discípulos. Elas representam não apenas as dores que teve, o sofrimento que enfrentou, a maldade que o crucificou, mas todas as marcas – cicatrizes – dos encontros que teve, dos momentos que partilhou, dos ensinamentos que, enfim, deixou de sua humanidade. E tem mais: lembra que uma inumerável multidão ainda traz muitas chagas abertas, que há muitos que padecem de infindas formas, sobretudo pela mesma razão que o levou à Cruz: o egoísmo que gera morte. 

Dito isso, fica mais claro quando o Papa fala desse “consolar” Jesus em sua Paixão. Ela situa-se bem além daquele momento cronológico em que o Senhor subiu ao Monte Calvário; prolonga-se na vida dos tantos sofredores de nossa história. Ao mesmo tempo, comunica profunda esperança de que o pecado, a maldade e a morte não têm a última palavra; as feridas irão cicatrizar e os tantos inimigos serão totalmente vencidos.

Em breve, iremos celebrar a Sexta-feira Santa. É um dia em que nossa sensibilidade se torna mais aguda diante desse desejo de consolar o Senhor em sua Paixão. Eis, pois, o Coração do nosso Deus continuando a se dar por nós todos!

Nossa Oração: Quero unir meus sofrimentos aos teus, amado Senhor. Na verdade, eu queria me ver livre deles. Não é fácil passar por eles e alguns doem demais. Sei que tudo isso é uma sombra diante da luz que há de um dia se manifestar, mas enquanto esse dia não chega, a noite parece não findar. Mas o que é meu sofrimento, diante de tantos padecimentos da humanidade? Como posso reclamar do que se me acomete? Contemplo tuas chagas e vejo-te a sofrer nos tantos incógnitos irmãos meus por esse mundo afora. Recebe-os, Senhor. Ainda que em pequenos e insignificantes gestos, eu possa minorar um pouco tua Paixão na vida desses meus irmãos. Recebe, Senhor.

Sagrado Coração de Jesus, eu confio em ti!

Para guardar: Reconheço tua Paixão que se prolonga na vida de meus irmãos!