“EU LHES DAREI UM CORAÇÃO NOVO” – (Ez 36, 26)
Deixando-se tocar e transformar pelo Coração de Jesus, sob inspiração do Papa Francisco

Também nós queremos que o Espírito Santo nos conduza ao deserto! Na tradição bíblica, como nos primeiros séculos da Igreja, o deserto é considerado um lugar especial de encontro com Deus: “Por isso a atrairei, conduzi-la-ei ao deserto e falar-lhe-ei ao coração” (Os 2, 16). 

Ir ao deserto com Jesus durante este tempo de Quaresma – ou outro tempo que você mesmo eleger (não necessariamente a Quaresma) – é colocar-se no firme propósito de ter um encontro com Deus e com nossa própria verdade. O deserto não é um lugar, mas uma disposição espiritual. 

Os “demônios” que precisamos enfrentar estão, antes de tudo, dentro de nós. São nossas próprias inclinações, atitudes, traços de personalidade, que precisam ser reconciliados ou até mesmo vencidos, “exorcizados” para vivermos sob a Vontade de Deus. 

Uma batalha que se trava no decorrer de toda a vida. Sempre precisaremos de mudança, de conversão. Ninguém se sinta pronto por ter percorrido um determinado trecho de sua senda espiritual. Sempre haverá a necessidade de se colocar novamente a caminho, de se confrontar, de mudar, de crescer. É tarefa de uma vida inteira. Até porque não é só em vista de nossa evolução pessoal, mas em favor do outro, havendo, assim, sempre algo a corrigir ou confirmar. 

É preciso ainda lembrar que, sem a graça de Deus, toda ascese (disciplina espiritual) é vã. A iniciativa é de Deus! É o Espírito Santo quem conduz Jesus ao deserto. “Porque é Deus quem segundo o seu beneplácito, realiza em vós o querer e o executar.” (Fp 2, 13)

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Entre no deserto! Mas entre com a determinação de abrir-se à Palavra e à Graça de Deus. Ninguém julgue estar pronto para essa empreitada por si mesmo. Não temos que provar nada a Deus. Não temos que “obrigá-lo” a fazer algo por nós, pois suas ações em nosso favor são sempre amorosas. O jejum é uma prática voltada para nosso crescimento e não para um Deus que exige sacrifício. Jesus já realizou o único e definitivo sacrifício, oferecendo-se por todos nós na cruz (Hb 10, 10). 

Os 40 DIAS nos lembram os 40 dias que Jesus esteve no monte das tentações. O tempo dedicado ao jejum é reservado para buscar o Senhor, mesmo em meio às atividades cotidianas. Em Mt 6, 1-18, vemos como Jesus indica o jejum, a oração e a esmola (a solidariedade com os mais pobres) como sinais característicos da vida de um cristão fiel. Em alguns momentos de decisão, porém, somos convocados a intensificar nossa comunhão com o Senhor. 

Outro fator importante em um tempo de jejum é o propósito que nos move a fazê-lo. Um jejum sem propósito definido é como vagar num túnel escuro, sem saber de onde ou para onde se vai. Olhando as Sagradas Escrituras, encontraremos muitas razões que levaram as pessoas ao jejum. Se vamos jejuar temos que ter objetivos firmes e claros pelos quais lutar: 

– Estar com Deus; receber sua Palavra e alguma orientação concreta; interceder por alguém ou alguma situação; fortalecer-se no ministério que Deus quer confiar a você; enfrentar o “inimigo” e suas tentações, solidarizarmo-nos com os mais pobres etc. 

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Jejuaremos às SEXTAS-FEIRAS, durante o período de nosso Caminho Quaresmal, como estará indicado no roteiro à frente. Mas, durante os 40 dias, evite tudo aquilo que pode constituir-se em extravagâncias. Vamos escolher entre duas opções: 

– Iniciar a alimentação diária só a partir das 12h, ou simplesmente cortar uma das refeições do dia. 

Cuidado somente para não “descontar” na próxima refeição para compensar o que não foi comido. Pessoas que fazem uso de medicação devem estabelecer o jejum em conformidade com o horário dos remédios, bem como aquelas com problemas de pressão alta, diabetes ou outro tipo de limitação de saúde ou restrição alimentar podem fazer jejum de televisão, conversas ou outras coisas. Mas lembre-se: inicialmente o jejum consta de algum sacrifício na alimentação. 

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“Eu lhes darei um coração novo!” (Ez 36, 26) 

O Papa Francisco nos entregou recentemente um imenso tesouro: a Carta encíclica Dilexit Nos, sobre o amor humano e divino do Coração de Jesus. Quando vemos o Pontificado de Francisco com sua postura, palavras, posicionamentos, enfrentamentos, pregações e escritos percebemos um notável horizonte de misericórdia e firmeza, iluminando e até desafiando a realidade atual, tanto na Igreja, como na sociedade como um todo. Diante de tantas atrocidades cometidas pelo ser humano, por grupos ou governos em relação aos mais vulneráveis e ao próprio planeta, o Papa lança um grito que deve ecoar aos ouvidos de todos nós: “Tenho coração?” (n. 23). Pessoas e estruturas “sem coração” geram guerras, preconceito, racismo, destruição. Mas o olhar do Santo Padre é sempre de esperança. Tanto é, que ao conclamar o Ano Jubilar, conferiu-lhe o título de “Peregrinos da Esperança”.

A Quaresma configura-se como um especial tempo de “rasgar o coração” (Joel 2, 13), mas não diante do vazio, mas firmados na promessa de Deus que nos vem através do profeta Ezequiel: “Eu lhes darei um novo coração!” (Ez 36, 26). O convite, portanto, é a nos voltarmos ao nosso coração, tendo como inspiração a Encíclica do Papa Francisco. Com palavras tão sábias, seria necessário que eu acrescentasse algo? Certamente que não! Minha pretensão não é acrescentar, mas tão somente partilhar o que me vem ao coração, provocado pelas palavras do Papa. Espero que possa ajudar você a abrir-se ao tão necessário “novo coração”, que é uma obra contínua do Espírito Santo em nós.

Ao rezarmos “Jesus, manso e humilde de Coração, fazei o meu coração semelhante ao vosso”, não seja apenas uma jaculatória pronunciada pelos lábios, mas um profundo desejo de aprender com Jesus, em seu humano e divino amor, a pautar nossas ações, nosso jeito de ser e viver.

Que Maria, em seu Imaculado Coração, unida intimamente ao Coração de seu Filho, nos ajude a bem vivenciar essa Quaresma e a celebrar a Páscoa, como uma verdadeira passagem de tudo aquilo que gera morte para uma vida mais plena e amorosa.

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O Papa Francisco assim conclui a Encíclica “Amou-nos” (Dilexit Nos): “Peço ao Senhor Jesus Cristo que, para todos nós, do seu Coração santo brotem rios de Água-Viva para curar as feridas que nos infligimos, para reforçar a nossa capacidade de amar e servir, para nos impulsionar a fim de aprendermos a caminhar juntos em direção a um mundo justo, solidário e fraterno. Isto até que, com alegria, celebremos unidos o banquete do Reino celeste. Aí estará Cristo ressuscitado, harmonizando todas as nossas diferenças com a luz que brota incessantemente do seu Coração aberto. Bendito seja!”.

Inspirados no pedido do Santo Padre, nós rezamos:

Senhor Jesus, de teu Coração brotem rios de Água-Viva para saciar minha sede, irrigar minha aridez, lavar minhas feridas, curar meu coração. Sei que teu lado, ferido pela lança, aberto, me aguarda, mas se quero dele me aproximar devo tomar o caminho da Cruz, não temer subir o Monte Calvário e nem os gritos enfurecidos dos mendazes que tentam me afastar de ti. Não recuarei! Tomarei esta senda bendita e irei ao teu Coração que vence os medos, afasta os inimigos e nos preenche de doce consolação. Quero aprender de ti, que és manso e humilde de Coração e me comprometer na construção de um mundo mais justo, solidário e fraterno. Amém.


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